Imagem do Kaos
Chega Dezembro, e como as pessoas não têm dinheiro para comprar nada, limitam-se a engolir o que as notícias lhes querem vender.
Hoje, quando as coisas importantes pareciam começar a estar a acontecer na Grécia, nós ainda andávamos na Bota de Ouro e no Constâncio, que a Comunicação Social quer relançar como "gente séria e fiável". Acontece que a verdadeira história não é nada disso: pelo que me chegou, Aníbal, o Saloio, aceitou trocar a cabeça de Constâncio pelo amigo dos traficantes de armas da Al-Qaeda, Dias Loureiro. Uma palmadinha nas costas, e lá ficam os dois.
A coisa já era de vomitar aqui, não viesse esse gorgulho do Banco de Portugal anunciar, com o mesmo tom com que antes falava do "Deficit às centésimas", falar agora da Recessão às décimas, e da "recessão técnica", para dar ideia de que essa merdunça tem algum rigor académico, quando toda a gente sabe que um país que está cronicamente dependente da energia importada, que vende as coisas do costume para os sítios do costume, mal o petróleo aumente, os Espanhóis deixem de querer escravos para a Construção Civil e as nossas putas lá tenham menos procura, imediatamente, tudo volta para dentro, com juros e pêsames.
Facto positivo, foi enquanto os Americanos, essa Nação horrorosa, e corrupta, enfiava "dentro" o Governador do Illinois, por ter tentado traficar o Cargo de Senador, do Escarumba Presidente dos States, nós colocávamos cá fora o João Loureiro, por erros processuais, dando à América uma lição de modernidade e referência.
Confesso que foi a única coisa que hoje me alegrou.
Convivo há anos com João Loureiro, cujo pai é intimíssimo de Dias Loureiro, por sua vez intimíssimo de Abdul Rahman El-Assir, que fornece armas para tudo o que é sítio de guerra, Al-Qaeda incluída, e fabrica peças de colecção para Juan Carlos de Bourbon e outras cabeças coroadas. Somos, aliás, todos primos em 20º grau, e era por isso que me convidavam para as caçadas... minto, conheço Dias Loureiro e Jorge Coelho de há muito mais anos, eu era o caçula, ia brincar a atirar pedras, lá no terreiro de ranhosos deles, e foi Dias Loureiro -- lembro-me, como se fosse hoje -- quem primeiro me ensinou a tirar "macacos" do nariz e a comê-los. Eles eram mauzinhos, às vezes ameaçavam-me de porrada, e o Jorge Coelho tinha uma frase que eu só percebi muito mais tarde: "... tás cheio de sorte, puto, que se o Gama cá estivesse, filmava-te a picha, e saltava-te para o cagueiro..."
Eu sabia lá quem era o Gama, e nem que me levassem às ruínas do Teatro Vasco Santana eu era capaz de reconhecer aqueles cenários. Parece que era antes, e depois, das célebres "Touradas à Antiga Portuguesa", que tudo se passava, com a putalhada do Casa Pia a pensar que eram estrelas de cinema, e acabavam sem se sentar e a ver outro tipo de estrelas. O relato visual ficava gravado nas bobinas da RTP, dinheiros públicos. Graças a Deus eu vinha de outros colégios, onde a paneleirice era de igual para igual, e nunca me fizeram nenhuma pega de caras... nem de cu.
Apesar disto, a nossa amizade manteve-se, e muitas vezes fomos depois caçar para África: o Dias aproveitava para fazer contactos com os gajos honestos do Continente, e o El-Assir fazia com as armas o mesmo que a Bichona do Castel'Branco faz com as jóias da Velha: vinha com as malas sempre cheias, para o que desse e viesse.
Diz a minha psiquiatra que parte dos meus traumas vem dessa época, em que o Loureiro, com o Rey de España e o El-Assir, me pediam para fazer de codorniz, e -- nessa altura, eu era bom a correr, hoje em dia, guardo mais energias para tentar correr com eles... -- começar a correr, pelas ervas altas da savana.
À distância, acho que isso me marcou profundamente, andar de quatro, como um quadrúpede da Quadratura das Bestas, a fazer, por ali fora, "piu", "piu", "piu", e eles sempre a dispararem -- parece que foi assim que Juan Carlos matou a su hermano Alfonso: confundiu-o com uma pega... -- e eu a fugir, "piu", "piu", "piu", ao terceiro "piu" amarinhava por uma acácia espinhosa, e ficava lá no alto, reduzido a um sorriso às riscas, como o do Gato da Alice, a miar, muito fininho, "escusam de disparar, porque já fugiu".
E acabava a caçada
Histórias da vida: um deu em Rey, o outro, em Conselheiro de Estado, e o terceiro em fornecedor de Bin Laden, e eu... enfim... nesta humilde puta, escrava de urinol, que aqui vos escreve, mais uma vez.
Agora a sério: o Governo decidiu afundar-se com a Avaliação, mais a Oposição, cujos Deputados vão ser obrigados a draconianas tarefas de reposição de faltas injustificadas, tuteladas por Valter Lemos, em pessoa; a Grécia parece que já começou a insurreição europeia e há um texto lapidar, do António Balbino Caldeira, no "Do Portugal Profundo", que é fundamental que leiam e comentem, porque é um embrião para que cresçamos, e cresçamos, cada vez mais, cresçamos, contra este difuso mal-estar que nos sufoca e impede de existir.
(Duo no "Arrebenta-Sol "e em "The Braganza Mothers" )
2 commentaires:
Um dos melhores textos que já aqui li, se melhor é possível (Às vezes duvido). Apreciei bastante a ficção do personagem na infância, e consigo perfeitamente imaginar o outro a dizer a palavra "cagueiro".
Pois o Constâncio lá continua, hoje também a lamentar que os bancos tenham tido menos 30% de lucros (coitadinhos) porque assim terá menos 30% de comissão (?...) e a dizer que o seu ordenado até devia ser reduzido mas não depende dele. Aliás, coitado, nada depende dele. É um pobre diabo que ali anda a encher os bolsos dele de cada dia, com a aquela cara de triste porque a malta ainda lhe faz a vida negra.
Quando é que o prendem, ou têm medo que o sistema venha todo atrás?
Tão mau!...
:)
Enviar um comentário