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segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Penélope (num tempo de Lua minguante)

Neste blogue praticam-se a Liberdade e o Direito de Expressão próprios das Sociedades Avançadas
Escrito para a Graça Arima, num tempo, e agora revisto para a Moriae, que atravessa uma passageira pequena noite
PENÉLOPE
Artesão, obreiro do Tempo ígneo
Tecer é humano. Entre duas luas, a mulher sentada debruça-se sobre um universo plano. Ela tece e entretece o Chão da Terra, mas o seu trabalho é sideral. Da ponta dos seus dedos, renasce um simulacro das mil texturas do Mundo.
E agora a Noite cai. Recomeçam os cães a sua perpétua mudança, e são agora lobos que se empenham em devorar frágeis perfis da Lua. E, então, a mulher sentada de novo se recurva, num incansável trabalho de deus silencioso. Que o seu sonho é audaz e antigo, do tempo cercano das estrelas.
E ela tece e entretece, a salvar o Olho Cego, e baço, do astro que decresce.
E a mulher tece e entretece. Das suas mãos, ali brota o disco árduo do equilíbrio do Mundo. Pois agora tudo é cósmico: e os lobos que trituram a desolada forma da Lua, e o desenho, que se afasta e toca, da música dançante, e cerrada, e muda, de seus dedos rigorosos.
A mulher tece, e entretece. E, no cimo dos Arcos Celestes, sulcam os animais os derradeiros rastos da luz negra que fenece.
Já é chegada a penumbra da Lua Nova. Errantes, as estrelas buscam ora, na poalha extensa dos Céus, a sombra vã de um foco maior. Crítica, a Hora tarda. E, então, a Mulher, numa deriva cercana do Abismo, também aí consuma a sua obra. Enternecida, levanta alto a trama, e chega a suspendê-la de uma parede íntima. Pois lhe é chegado o tempo brando da Aurora.

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