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segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Longa Caminhada para a Noite

Neste blogue praticam-se a Liberdade e o Direito de Expressão próprios das Sociedades Avançadas
Imagem do KAOS
Há dias acordei com o filme completamente desenhado na cabeça. Passou-se o dia, e esqueci-me do que queria escrever. Isto encantaria Borges, mas, para mim, é só o fragmento de uma espantosa coisa perdida.
Há o Polvo e há os tentáculos.
Durante várias semanas, desmontámos aqui o Polvo, e hoje deu-se o primeiro... incidente. Ao ouvir aquela figura lúgubre, que os militares já deveriam ter detido há muito tempo, Vítor Cosntâncio, pela primeira vez escutei, de viva voz, e em directo, uma pequena lasca da autópsia do que diariamente se passa nos bastidores. Fiquei com a sensação de que, para o que o cavalheiro ousasse despejar aquele saco do BPN, para proteger o seu lugar, é porque, por detrás, estariam coisas gigantescamente mais sinistras, e deixo à vossa imaginação construí-las. A mim... não me apetece.
Os tais patamares de liquidez de 4%, 6%, 7%, ou 8%, ainda abaixo dos generosos 10%, que, em tempos, aqui colocámos, infantilmente explicativo do Sistema de Usura Mundial, querem tão-só dizer, em trocos explicativos às criancinhas, que, se, de repente, como amanhã de manhã, com a abertura dos Bancos sob suspeita, o cidadão comum resolvesse comparecer, em massa, para retirar as suas supostas "economias", só, respectivamente 4, 6, ou 7 em cada 100 Portugueses o conseguiria fazer, porque a Corja que criou o Sistema -- e relembro que Ezra Pound, uma das maiores vozes poéticas do séc. XX, foi pendurado numa jaula suspensa (!), pelos Americanos, no final da II Grande Guerra, por justamente ter preconizado o que eu estou agora a escrever agora aqui... -- tanto falsificou números, fabricou papel sem valor, e fez tudo assentar na "confiança" dos discursos, que, digo eu, só 4, 6, ou 7 em cada 100 Portugueses poderiam realmente ter acesso ao dinheiro que julgam possuir.
No caso do BPN, são presentemente, ZERO, em cada 100 Portugueses, mas não se alarmem, porque há figuras que apelam à serenidade, Constâncio, que já deveria estar preso, e o Pargo das Finanças, que, no mínimo, deveria estar demitido desde que foi nomeado.
Isto é só um pequeníssimo sobressalto: o mais sinistro está oculto na noite escura, e eu hoje vou um pouco, só um pouco, pela noite escura adentro.
O problema chama-se Ficção dos Números, e gera uma neurose específica, que é a necessidade compulsiva, de, de quando em vez, pensar que um dia esses números fictícios poderão ter de se revelar em espécies palpáveis. A sua impossibilidade gera insónias, ou Monstros, como Goya premonizou, ou gera ambos, como os nossos dias revelam.
No princípio era o ciclo vicioso das casas e dos bancos: o banco avaliava a casa, que era uma merda, um monte de pó e armaduras de ferro, por um preço empolado. Na sociedade, com o Canto do Canarinho, e a melodia do politicamente correcto, cada casal era empurrado, pelos Meios de Intoxicação Social, a sentir necessidade de fazer o seu "ninho", e esse "ninho" custava-lhe, primeiro, 20, depois 30, depois 40, e, quando a coisa entrou assumidamente pela fase barroca, 50 anos da sua vida.
Hoje em dia, vive-se mal e rápido, e morre-se cedo, pelo que já se anunciava uma Dona Branca de gravata: uma hipoteca para o resto da vida, sobre um subproduto hipervalorizado, com a dupla complacência de construtores e avaliadores.
No tempo do meu pai, isso chamava-se Associação Criminosa; no meu, tem um nome pior, que não ouso pôr aqui...
Subitamente, a coisa começou a desmoronar-se por todo o lado, e, na gloriosa América, que Bildeberg insiste, com somas colossais, que seja governada pelo seu emissário, Obama, que eu continuo a desejar, em cada minuto, que seja brutalmente derrotado, chegou ao ponto das "barracas" para os pardalinhos fazerem o ninho se terem desvalorizado 90% (!).
90% de nada é... nada.
Ora, aqui, começa o problema, porque se os bancos já só viviam da liquidez desses 4, 6 ou 7, ou 8 ou 10%, que o valham, passaram a viver de coisa nenhuma, porque sem esses escravos dos 50 anos, a injectar, mensalmente, o brutal esforço do seu trabalho, para alimentarem a máquina fictícia, passaram a viver de coisa nenhuma, ou seja, cada vez menos clientes, que se dirigissem ao balcão para pedir dinheiro, deles obteriam resposta positiva.
Não é por acaso que Monstros, como Ferreira Leite, outra que deveria estar presa pelos Militares, falam de "poupança"... Poupança de quê, para quem e com que sentido, senão o de alimentar o Alien que nos sufocou até ao fim, e que agora entrou na fase da antropofagia?...
Meus amigos, os Bancos começaram a devorar-se uns aos outros, e nós seremos os palitos com que os últimos tentarão limpar, dos dentes, o que restar, e, pelo que se entrevê, nada restará.
Vamos agora à parte negra: a "poupança", a que esses criminosos apelam, tem outros rostos mais difusos, e confusos, e foi por isso que eu, numa noite da passada semana, acordei em puro sobressalto, com o esquema clarissimamente delineado na cabeça. Há muito que, por portas travessas, a "poupança" é assegurada. Uma delas enveredou pela porta dos químicos e dos psicotrópicos e dos alucinogéneos: no momento em que um indivíduo se torna dependente de... substâncias, ele é como aquelas formigas batedoras, que fuçam por toda a parte, em busca de alimento. O alimento, aqui, é dinheiro, e esse dinheiro da Droga, alcançado através do roubo, do homicídio ou da escravatura de outros seres humanos, quer seja pelo tráfico dos corpos ou da prostituição, é um dos alimentos mais cobiçados pela Sereníssima Banca dos Engravatados. E acaba mesmo nesses balcões, que, rapidamente o branqueiam e fazem seguir em frente.
Branquear é preciso, não ter escrúpulos não é preciso.
Que seria do Sistema Financeiro, se a Droga subitamente passasse a valer NADA, e fosse assegurada por circuitos controlados e estaduais?...
Enetnede agora por que ninguém mexe no assunto?...
Ah, sim, eu já percebi, já se começou a sentir mal disposto, por isso, eu vou descer ainda ao mais negro...
Nunca achou estranho que, de repente, surgissem "estrelas" desportivas e culturais, enxames atrás de enxames de cristianos ronaldos, mourinhos, gatos fedorentos, sousas tavares e outros tantos nomes da mesma espécie, do nada, numa ascensão vertiginosa, cada vez mais novos e cada vez mais rápidos, como se de milagres se tratasse?... Pois também esses são tentáculos do Polvo, involuntárias "marionettes", cuja função é nula, excepto a de servirem de captadores de fundos, de gente que gasta os últimos cêntimos para presenciar pseudo-eventos, para comprar pseudo-sucessos, para, formiguinhas batedoras, captarem esse dinheiro vivo dos sorvedouros da Dona Branca Mundial.
Já reparou quanto patrocinadores, quantas companhias de seguros, quantos bancos não se alinham, por detrás das silhuetas desse Analfabetos do Volátil, como se de peças de ouro se tratasse?... Conte-os, e relacione-os. São hipóstases do Vazio, quer os actores, quer os cenários.
Eu sei que a ficção vai longa. Há noites em que pareço mais louco do que de costume. Esta é uma delas. Borges conta que foi assim que Milton escreveu "Paradise Lost", numa manhã, tentando apanhar cacos de um poema perfeito que a Noite lhe concedera, e a Manhã obnubilara. Eu perdi o texto quase inteiro. Deixo-vos aqui um pequeno fragmento para o completarem. Dá trabalho, mas será útil.
Boa Noite.

1 commentaires:

metatheorique disse...

Grande texto. Navegamos num mar de ilusões. Um texto na senda de Deleuze e Guattari, "Capitalismo e Esquizofrenia"... A tese é a de que tudo é fluxo e tudo serve para alimentar a Máquina - para além do humano. A sua tese anda algures por aqui, também, embora com outras nuances.

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