Há dias em que não há lugar para humor nenhum. Rezam os Vedanta que a Verdade é única, mas são os sábios que a tratam por diferentes nomes. Mais atrás, naquele limbo da própria raiz do pensamento estático, Sivânia remete para o tempo baço, e apela para a Unidade, sem o delir das coisas que devêm. Não... não era isto o que eu queria escrever: a nossa época não se compadece com a Espiritualidade. Há coisas mais práticas, pequenos teatros do Mundo, ensaiados com crescente impiedade. As lições não se confinam hoje às paredes dos Templos, antes te dizem coisas mais práticas: podes morrer onde viajas; estarás morto nos lugares onde te conduziram para te curares; os lugares da partida terrena serão os lugares da dor do corpo e da irreversibilidade; nenhum luxo te salvaguarda do terror terreno e nós -- "eles" -- estamos em toda a parte.
A primeira versão conduziria imediatamente para as bancadas da Teoria da Conspiração. Hoje, todavia, o meu luto está em Bombaim, a NOSSA Bombaim, há muitos séculos trocada por uma qualquer herança inglesa de um rei menor... e um dote de uma Princesa que era uma chávena de chá de um tempo chão. Não foi acaso que tive uma das piores noites da minha vida, mas isso era cruzar agora, e abusivamente, uma premonição pessoal com a realidade que aí estava. Sucedeu-me o mesmo no 11 de Setembro. Ontem, foi igualmente assim: enquanto eu me contorcia nos estranhos contornos da Insónia, já o Mal grassava na Península da Serenidade.
Sou um especialista na intuição do Mal, à distância, mas isso é a minha lotaria negra.
Não há pior coisa do que a Premeditação, e eu nem vou falar disso. Num tempo, Bush afirmou-se através de um cenário de um crime medonho, e vai despedir-se agora, deixando ao seu herdeiro outro medonho crime.
Já passei a fase de acreditar em terroristas: os terroristas são os novos janízaros e os cossacos avançados da manutenção do Medo, que é a nova ideologia do Estado das Coisas: já não vivemos num tempo de Ideologias, que misturavam emoção com intelecto. A hora, agora, é das emoções primárias, o Medo, a Fome e a Angústia do Amanhã. Num mundo entregue a multidões sem dia seguinte, meia dúzia de promessas infernais chegam para os actos da cobardia e extermínio.
A sopa é explosiva. Já muitas vezes recordámos aqui a profecia de A. C. Clark, que remetia para 2010 o desaparecimento de uma grande metrópole do III Mundo, num holocausto nuclear. Alguém anda a compor o cenário, e a imaginação até é fraca: a sopa da pedra do costume, com os Fundamentalismos Islâmicos, mais a Morte, em Directo, apimentada com os Alvos Judaicos, e um ingénuo, no Extremo Ocidente. Quando o Irão e o Paquistão se posicionarem do lado errado, a Coisa estoira, e vem em ventos de plutónio, na direcção do Mar Oceano.
Enquanto o Sr. Obama continua nos seus lirismos de coisas extintas, o Obamismo já aí está: as forças que governam o Mundo já lhe colocaram o menino morto ao colo.
Dezembro já se previa bom, e Janeiro será adorável, quer dizer, se houver.
Bem pode ele perder-se nos seus "Uppanishads" que Sithantham vem agora cantar-lhe a unidade do Tempo Inicial.
Algures, alguém carregou no botão do Extermínio, como já aqui várias vezes foi sussurrado. Por mim, pouco me importa, sou a sombra de uma outra sombra, e sou finito. Posso desaparecer, que ninguém sentirá a minha falta.
Hoje, todavia, vou dormir com o coração dolente, ao lado dos nossos pobres irmãos mortos de Bombaim.
Que pena eu tenho tido de ter nascido numa época tão degenerada.
( Em "Arrebenta-Sol" e "The Braganza Mothers" )
1 commentaires:
És tão dramática m'lher!
Andas há décadas a prever o fim do mundo - olha, chegou o fim desta sexta-feira!
Vê lá se cresces, hipócrita carpideira!
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