Ontem, tocou um dos meus telefones em escuta. Bocejei e atendi. Geralmente, costuma ser a Sheila, a contar-me os camionista que "fez", no IP5, mas foi, com grande surpresa, que reconheci a voz da Vice-Reitora da Lusófona.
Convite para jantar, de ali a uma hora, e sem hipótese de recusa...
Eu sei que a Histeria e a Ninfomania já não têm o significado que tinham, no tempo de Charcot, são, hoje meras Parafilias do Excesso, mas, pelo sim pelo não, telefonei ao Fado Alexandrino, para ver se me desenrascava desta, "pá, é assim, eu vou mandar reservar a mesa maior, a das conferências, no "Gambrinus", mas nós chegamos primeiro, e tu ficas debaixo, escondido pela toalha, para o quer e vier..."
Há alturas em que me apetece preservar a minha integridade física, e a Páscoa é uma delas...
E lá fomos, o Alexandrino com uma coleira de picos, de Pitt-Bull, enfiei-o debaixo da mesa, compridíssima, ela chegou, já não me lembro se vinha toda de leopardo, se de pantera, mas acho que era misto de leopardo com hiena, umas botas de cano altíssimo, todas cheias de atilhos, tipo Madame Bobone, no tempo da Imperatriz Eugénia, de Montijo-Bonaparte.
O código era o seguinte: ela sentava-se numa extremidade da mesa, eu, na outra, com o Alexandrino todo enroscado, ao lado, caladinho que nem um rato. Se ela, de repente, começasse a avançar e a fazer abordagens, eu dava, com o pé, três pancadas no chão, o Alexandrino saltava, já com a língua a babar-se toda, e abocanhava-a, para a minetar, antes de que ela me atacasse a mim. Combinado, amigos são para as ocasiões.
Eu gosto muito da Clara Pinto-Correia: acho que é o exemplo exemplificado do que deve ser uma carreira literária e académica, no Portugal Contemporâneo. Aliás, para mim, com uma quarta-classe das antigas, é sempre intimidante ir jantar com uma Vice-Reitora. Uma Vice-Reitora é sempre meio caminho andado para a Reitoria, e da Reitoria para o Ministério da Ciência e do Ensino Superior. Ou seja, eu ia à mesma manjedoura do Poder.
Tudo nela cheirava a Ovário de Eva, mas essa cena dos Perfumes com Feromonas para atrair macho, dado o meu gene defeituoso, não funcionavam.
Quer eu, quer o perfume, quer a táctica dela eram erros evidentes do "Intelligent Design": quando chegasse a hora, íamos todos direitinhos para a Reciclagem, e era a vida.
Ela estava excitadíssima com o Caso "Independente", eu ia pedir Linguado, mas achei que, com ela, era arriscado, e fui para os Salmonetes, enquanto ela quis -- "malgré" Sexta-Feira Santa, um "Cosido" à Portuguesa, e já se estava a preparar para mandar vir seis garrafas de "Dão Meia-Encosta", o que, no "Gambrinus", é como mandar vir à mesa seis copos de carrascão, mas o gosto é dela, quem sou eu, pobre mortal, para julgar as papilas gustativas de uma Vice-Reitora, tanto mais que por ali já passou tudo, até os eléctricos?...
Ficámo-nos, todavia, pelas três garrafas: nada pior do que uma Universidade ter de mandar outra vez para uma cura de desintoxicação alcoólica a sua Vice-Reitora.
Sabe, dizia ela, vamos ficar cheios de alunos!...
É verdade, dizia eu, os Lindos Olhos de Mariano Gago já prepararam o colchão legal para as transferências, mesmo a meio do ano. Isto não há como Governo e Gestões de Privadas estarem em acordo para tudo se assemelhar ao Nirvana.
Quer ver o Edital?, disse-me ela, fui eu própria que o escrevi, ontem à noite!...
e eu,
pode ser -- pelo menos, enquanto lia o edital, não estaria a ser assediado...
Li, com atenção. Reparei que "aceder" estava escrito com dos "ss", ou seja, "asseder", como em "assédio"...
Querida, disse eu, o "c", antes do "e", lê-se como dois "ss", portanto, deveria estar aqui escrito, "[...] os alunos provenientes da Universidade "Independente", mercê do seu encerramento, poderão aceder, a partir de agora, às vagas existentes na Universidade "Lusófona"...
Verdade que "asseder" não se escreve assim?..., perguntava ela.
Não, querida, é "aceder"...
Pronto, temos lá uma tipografia, ao pé de nós, que faz sempre umas edições spé luxuosas, vamos fazer uma errata em papel couché, gramagem 120, vai ficar P-e-r-f-e-i-t-o e lindo!...
Nesta altura, já era o Alexandrino que me tocava com a mão na perna, para saber quando é que ela avançava, para a abocanhar, e eu, calma, calma, ela agora ainda está noutra...
Não acha que fazemos bem em receber os sem-abrigo da "Independente"?, perguntava.
E eu, mas vocês não têm já tantos alunos?...
Ter, temos, mas nunca se sabe o que o Futuro nos trará. Acho que o Mariano foi F-a-n-t-á-s-t-i-c-o com o que fez. O Zé -- é assim que ela trata o Primeiro-Ministro -- vai ficar com o diploma nas mãos e a "independente" é fechada por irregularidades, ele fica ilibado, como aluno, das poucas-vergonhas que por lá se passavam -- acho que até se queimavam livros de termos, se compravam diplomas, e até de engenharia, uma coisa horrível, já viu um "engenheirio" comprar lá um diploma e depois acontecer uma ponte ficar dois metros acima da estrada que lhe dá acesso, como aconteceu na Zona Centro -- e eles vêm todos para a NOSSA Universidade!... E é já para a semana!...
(Nossa quer dizer dela e dos interesses do P.S. e afins)
Vocês, realmente, têm um quadro docente enorme, dizia eu...
E ela, aí -- começou a aproximar-se, para me falar ao ouvido, e eu começo a bater com o pé no chão, para o Alexandrino preparar a língua, mas graças a deus, apesar de um momento crítico de indecisão, só vinha mesmo falar-me ao ouvido
... Sabe a nossa "ratio", neste momento é de 1 Professor para 10 Aunos, o que é altíssimo, para uma privada...
1 Docente?..., dizia eu,
... quer dizer, dizia ela, temos na Lusófona, neste preciso instante, um Militante para 10 Simpatizantes, do P.S., inscritos. O António Filipe, do P.C.P., por exemplo... Sabe que o Porta-Voz do Partido Socialista é colega de carteira do Vasco Franco?...
O Vasco Franco?..., o trapaceiro dos lambris?... Só a reforma antecipada conseguiu correr com ele da Câmara de Lisboa. Parecia os Tribunais, nem o 25 de Abril os conseguiu limpar!...
(Pausa)
Querido, hoje não vou assediá-lo, nem nada (ouve-se um grunhido de desespero do Alexandrino, debaixo da mesa). Estou cansadíssima. Ainda não recuperei do "jet-lag" de Toronto...
Toronto?...
Sim, fomos lá todos para o casamento do Nuno Graça Dias!... Sabe quem foi o Padrinho?... O Nuno Santos, da R.T.P.!... Um casamento lindíssimo!...
Quer dizer que o Arquitecto vai ser avô?...
(Pausa)
Querido, só se o Zé, entretanto, aprovar a legislação para adopção por casais...
Casais?...
Sim, casais...
Ah, sim, já entendi, casais "du même genre"... Olhe, dê-lhe os parabéns pela minha parte: já vão ser mais dois com direito a encornar, em Portugal. A minha querida sempre adorou casamentos gay. Imagine que já havia Toronto e legislação adequada cá, nos tempos em que o Mega estava para si, como os Lindos Olhos estão para o Mariano Gago. Kisses para si, e para o "Zé". Terça-Feira já o temos ressuscitado, na R.T.P. Vamos abrir uma garrafa para comemorar Afinal, a culpa tinha sido da Universidade, aliás, em Portugal, como no Sherlock Holmes, o culpado é sempre o Mordomo, nunca as mordomias...
(Foto cortesmente cedida por "We Have Kaos in the Garden")
Neste blogue praticam-se a Liberdade e o Direito de Expressão próprios das Sociedades Avançadas
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