Da Série "Grandes Clássicos do Braganza": ASAE, ou Alice no País dos Adesivos

Neste blogue praticam-se a Liberdade e o Direito de Expressão próprios das Sociedades Avançadas

Detesto começar a manhã com sms absurdas. Acontece que esta não era absurda, era real: a A.S.A.E. ( ASAE, do latim Asinus, Burro, Equus asinus, "They continue to fill important roles in many places today and domesticated species are increasing in numbers [...] As "beasts of burden" and companions, asses and donkeys have worked together with humans for centuries."), a A.S.A.E., dizia-me o Vítor, resolveu invadir as sex-shops do Conde Redondo e do Intendente, espaços de frequência obrigatória de adultos, para obrigar os DVDs a virar as imagens das capas para dentro (!), colocar adesivos sobres as mamas e as ratas das actrizes (!), tapar os mangalhos (!) do Nacho Vidal (uma espécie de Manoel de Oliveira do Porno: sempre o mesmo, quilómetros de banalidades, mas repartidos por diferentes episódios, com muito preto, muito cão, muito animal, e muita ratazana larga), e mandar colocar carapuços (!) a tapar a glande (!) dos vibradores e outros elementos do estojo de confortos do cidadão/cidadã comuns!...

Pensei que fosse 1º de Abril, mas não era: era 18 de Janeiro, e o Governo de desequilibrados e de pequenos sócrates de secretaria tinha voltado a atacar, em força, e na bancada do caricato.

Lisboa é uma cidade provincianíssima: tirando miséria de esquina, nem "bairros-hot" temos. Passa-se tudo no mesmo registo dos desmanchos, das curandeiras e dos milagres de Fátima: há umas senhoras que alugam uns quartos, uns pretos que urram, em cima de umas gajas sessentonas desconjuntadas, uns broches de vão de escada da Rua de Santa Justa, uma propagação do venéreo que depois chega às bordas da legítima, e pouco mais... enfim, até nisso somos pobres, e pouco mais, mas a corajosa ASAE resolveu investir contra dois dos miseráveis botecos, e impregná-los de MORAL e de preceitos politicamente correctos.

Fica agora a ASAE notificada a comparecer e exercer o seu exercício de chicote no "Cine-Paraíso", sendo, desde já informada de que, cerca das 23 h., se torna frequente ora ver um suburbano de olhos azuis ali levar uma chavala -- a "dama" dele, presumo -- que é comida, em pleno balcão, por grupos de 12 e 14 espectadores do "Gulosa por Animais III"...

Parece que engole, pelo menos daqueles que a excitam mais, e ele adora ver.

Objectivamente, não me responsabilizo pelas condições de higiene do acto, e suponho que compita à honestíssima e eficaz ASAE intervir. Se, na civilizada, próspera e tolerante América também já é proibído fumar em casa (!), é natural que, por cá, os órgãos sexuais e suas representações também devam ser rigorosamente ocultados.

É a apoteose das Mães de Bragança: tardou, mas veio, e, como sempre, pela mão do frustrado e reprimido Vigarista de Vilar de Maçada.

A coisa é tão pornográfica que me coíbo de escrever mais sobre ela: preocupam-me, infinitamente mais, as suas consequências. Se o órgão sexual deixa de ter permissão para exposição pública, suponho que a Lola Chupa me vai brevemente começar a aparecer em casa com um adesivo colado na boca... Quem lhe irá depois pagar a alimentação intravenosa, para que não morra de inanição?... Creio que será mais uma despesa para o Serviço Nacional de Saúde, de "per si", já em adiantado estado de decomposição.

Politicamente, nem me atrevo a pensar nas consequências: com essa inibição da exibição pública dos órgãos sexuais e suas representações voltámos ao medievalismo e à iconoclastia dos Papas punidores; na Assembleia da República, por seu lado, iremos ver bastantes políticos nas interpelações quinzenais a tentarem sentar-se desconfortavelemente, nas suas poltronas, com um penso-tapa-misérias enfiado no cu, na "sala-de-estar" deles, na "quinta", ou como lhe quiserem chamar.

Você imagina o Portas, por exemplo, com um adesivo permanentemente colado na boca?...

Fiz humor, é certo, mas contrariado, porque esta realidade está muito para lá do Obsceno...

P.S. - Este texto agradeço que comentem... cof... cof... cof...

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