BlogBlogs.Com.Br

sábado, 8 de novembro de 2008

Esta noite fui jantar à nova casa de Lurdes Rodrigues

Neste blogue praticam-se a Liberdade e o Direito de Expressão próprios das Sociedades Avançadas
Imagem KAOS
(Hoje a imagem do Kaos não tem a ver com o texto, mas era tão boa, que não resisti...)
Toda a gente sabe que eu tenho um lado "Servilusa", e detesto deixar desamparado qualquer ministro, nos seus momentos de angústia... Sim, já perceberam... esta noite, fui jantar com Maria de Lurdes Rodrigues.
A casa nova é muito bonita, custou-lhe os olhos da cara, e passo já a descrevê-la -- a minha tia é vizinha dela -- entra-se para um saguão excelente, à esquerda fica o escritório, bastante amplo, à direita, com uma porta bem separada, a cozinha, que contorna a parede em L e acaba, ao fundo, em U, no quarto da criada-de-dentro, coisa que eu acho que Sª. Exª. a Ministra da Educação ainda não percebeu que foi desenhada para outras eras, e é menina para lá pôr a dormir o Valter Lemos...
Partindo do saguão, em frente, temos, do lado esquerdo, um salão muito amplo, misto sala de estar com casa de jantar, com umas magníficas portadas de portas de vidro talhado, extremamente Estado Novo, onde cabe qualquer destas barracas recentes de betão, de Telheiras; se seguirmos, em frente, pelo lado direito, temos o corredor, que vai até ao fundo: um enorme roupeiro, a cobrir toda a parede esquerda, enquanto, do outro lado, se vão abrindo os quartos, com um último, ao fundo, a enfiar-se, à esquerda, por detrás da parede do salão, também em L. Contem vocês as divisões, que eu sou péssimo em Aritmética.
Ali, tudo é calma, luxúria e comodidade, excepto no preço.
Maria de Lurdes tinha mandado vir um franguinho assado, ali, mesmo, da João XXI, e umas batatas das de saco transparente, e, olhando para a data de validade, até estava boa: acabavam em Dezembro de 2008, em tempo de crise não se pode pedir melhor.
Falámos de David Justino. Ela, e eu, achamos David Justino uma espécie de Quinta-Essência da Educação, ex-vereador do Isaltino, tinha todo o "pedigrée" para ter sido Ministro da Educação, e consta que não deixará o Palácio de Belém sem antes ter concretizado o grande sonho da nossa Primeira-Dama: construir uma marquise, no varandim dos Jardins do Palácio, para proteger a maravilhosa Bandeira de Croché das chuvas e horrores do Inverno, mas o que me preocupava mesmo eram as olheiras da Lurdes, parecia-me uma mulher sofrida, com o mesmo ar da miúda, inquieta e órfã, que era acordada com baldes de água fria, durante o seu tempo de (de)formação da Casa Pia, e adormecida à chapada, como o Quink644.
Nesse tempo, tudo eram comodidades, e não havia um único professor que não fosse titular, mesmo naquele Colégio, com muita fêmea a rodar e as miúdas permanentemente a serem assediadas para actos de fressura.
"Arrebenta, achas que o Zé me vai pôr na rua, depois da Manifestação de Amanhã?...",
e eu,
"Querida, tu já resististe a muito, és uma resistente, és "La Pasionaria" da 5 de Outubro, tens uma estaleca de Professora Primária, e, como sabes, é preciso um lombo muito resistente para dar aulas a ranhosos com 7 anos... Olha lá, já agora, por que nunca aparece no teu currículo que foste Professora do Magistério Primária?..."
(Pausa)
"... Sabes... tenho vergonha. Era tudo tão difícil nesse tempo... Uma rapariga, como eu, inquieta, habituada a baldear quartos na Casa Pia, quando acabava o Curso de Lavores, com o que poderia contar?... Sim, ou vinha para a rua vender a "ginja", como fez a Amália Rodrigues, ou acabava a dar aulas a crianças pobres..."
"Querida, mas hoje, em dia, não é vergonha nenhuma dar aulas a crianças pobres!... O Zé tornou as crianças todas de Portugal em crianças pobres... Por que tinhas vergonha?..."
"Não sei... acho que gostaria de ter nascido logo doutorada... Mesmo isso... o Salazar não deixava, tive de me cruzar com o Grupo do ISCTE, o Zé, o Pacheco, o Eduardo... na altura eles estavam todos ligados com os miúdos do Colégio... eu não era miúdo, enfim, tive de ir lá fora fazer o curso, tudo em acelerado, naquela altura era mais fácil, ou era "apto", ou "não-apto", o "excelente" e o "muito bom"... bem, nem se falava nisso, se se falasse nessas coisas, chamavam-nos logo de "fascistas" e faziam-nos a folha..."
"Foi nessa altura que te tornaste Maoista?..."
"Sim, o Maoismo era uma coisa de futuro: fazia-se tábua rasa do que estava para trás, e a História começava connosco, nós éramos todos o Primeiro Imperador!..."
"Nunca desconfiaste dos esquemas com os rapazes da Casa Pia?..."
"... não... nessa altura isso era normal, o João Braga cantava, havia as festas nos "ateliers", o Pedro ainda não o tinha processado, ainda namorava com o João, e arranjava-lhe rapaziada para as festas... não te esqueças de que havia pouco dinheiro, pouco pessoal a ter casa e carro, e os bancos estavam todos nacionalizados..."
"Envergonha-te essa fase da tua vida?..."
"Acho que não... só não gosto dela... Acho que... bom... prefiro não falar disso... "
"Mas tens medo de que o Zé te demita amanhã, para salvar a cabeça dele?... Sabes que ele é cobarde, e prefere queimar tudo em seu redor, a..."
"Simmmm, eu sei, mas o MBA..."
"Isso conta pouco, a maior parte das pessoas nem sabe que isso pode ser falsificado... E o Cavaco... já não te apoia..."
(Silêncio) "... já não me apoia!?... Como sabes isso?..."
"Não ouviste o Justino?... O Cavaco tem de salvar a pele dele. Bem basta aquela porcaria da Madeira, em que ele devia estar muito caladinho, e os que os militares lhe podem fazer, na visita aos Açores... E a Tábua de Engomar do PSD?... Fez uma jogada de mestre, essa, ao trocar a tua cabeça por presumíveis 120 000 votos, em 2009..."
"Achas que eles eram capazes disso!?..."
"Sim, Lurdes, acho..."
(Cai o pano)
(Dupla publicação, no "Arrebenta-Sol" e no "The Braganza Mothers")

0 commentaires:

Protesto Gráfico

Protesto Gráfico
Protesto Gráfico