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sábado, 14 de março de 2009

Cidades inteiras descendo avenidas

Neste blogue praticam-se a Liberdade e o Direito de Expressão próprios das Sociedades Avançadas
Imagem KAOS
Parece, não vi, estava hoje a passajar meias, que veio uma cidade inteira pela Avenida da Liberdade abaixo.
Neste país, cheio de dementes e de sinais contraditórios, ver 200 000 na rua deve ter tido, sobre os restante eleitores, o efeito típico: se o homenzinho consegue pôr infelizes tantos destes é sinal de que está no caminho certo, ou, como dizia o Zé Gil, sendo a nossa matriz profunda a Inveja, se Sócrates conseguiu arruinar a vida a tantos milhares, a massa silenciosa das bancadas deve ter adorado, e pensado, "o homem é mesmo bom, merece uma segunda maioria absoluta, para os poder "infelizar" ainda mais".
Tê-la-á, e é justo.
Isso é um pormenor.
Gracioso, na zona do diáfano e do inefável, é ouvir coisas extraordinárias, como Carvalho da Silva a dizer que já havia pessoal a ganhar 65 €, ou lá o que era, por mês. Pessoalmente, conheço quem ganhe 2,5 € à hora, e trabalhe, ou finja trabalhar, três horas por dia: é o chamado Trabalho Chinês, e isto porque o "Engenheiro" ainda não se decidiu a visitar o Bangla-Desh, porque lá, um euro por mês dá para comprar um mão de arroz e um sudário, para enterrar logo no dia 31. A Civilização é uma coisa linda, e começou, parece, no Crescente Fértil, para imediatamente se estender aos focos de fome e de miséria do Burkina Faso, de Angola, do Sudão e da Somália, daqueles que me lembre, porque parece que há países onde o jornalista chega a morrer de fome antes de ter tempo de dar o último suspiro da notícia na televisão.
Goelas a mais no Mundo, e da espécie mais inútil que o ADN criou.
Tecnicamente, estamos a viver uma das maiores palhaçadas da nossa História, eventualmente, a última, já que, como alguém disse, a profecia de Afonso Henriques, que já levou, no séc. XV, a que debandássemos de aqui, em massa, poderia estar prestes a concretizar-se, e nós tornarmo-nos num estado tão inviável como Timor-Leste, catanadas e petróleo àparte. Irá lá ser para o terceiro mandato de Aníbal e a quarta maioria absoluta de Sócrates, mantida com apenas um voto, o de Manuel Alegre, que terá de passar o tempo todo, como sempre fez, a dizer "SIM", no Parlamento.
No fundo, toda a História de Portugal se resume ao microcosmos da Rua Braancamp, sobretudo nas noites de lua nova, em que se apagam os candeeiros, e só se ouvem grilos e chitas a roçar nas moitas, é então que, ao mesmo tempo, a Jeová e a Isabel acendem a lanterna, chapão de luz na cara uma da outra, e as frases do costume, "ai, és tu, Jeová, a envenenar a erva, para matar os cães!...", e a outra a meter-se para casa, com a cauda entre as pernas.
Há uma dor profunda em Dona Adelaide Pinto de Sousa, que é ser obrigada a sair de casa, sempre que o filho recebe "visitas": o prédio é novo, mas as camas são antigas, e uma canzanada de venezuelano é uma coisa que faz chinfrim, tipo os batuques dos zés-pereiras. Há um ciclo na noite em que se percebe que se estão a enfiar chouriços no cu, e não são da CGTP: são de quem calha. Começa aí o calvário e a amargura, e a mãe, com o coração dolente, desce as escadas, cumprimenta o polícia, e começa a descarga do 605 Forte nas ervas. Freud chama a isto "sublimação", mas para quem já viu os canídeos, de patas para o ar, a ganir e a espumejar pela boca, creio que nada tem de sublime, mas a cada um o seu chouriço, e a velha há-de levar, quando o seu coração for pesado, perante Anúbis e Osíris, o Senhor dos Mortos, uma pena capital, por ter dado guia de marcha a tanto lulu ali da rua.
Chega a chamada Hora da Câncio, em que ela vem, despenteada, à janela, e pergunta, aos gritos, ao polícia, se já pode descer, e ele, "faça favor, minha senhora,, porque o prédio inteiro já pensa que isto foi consigo..."
Maravilhoso, e é isto que eu vejo de salutar, enfim... pensando bem, acho que não... é ouvir o Jerónimo de Sousa citar a Ferreira Leite, e vice-versa, o que até poderia ser um sinal de maturidade democrática, mas não é: é a cena final dos salva-vidas do "Titanic", em que, no meio do "com licença, com licença", onde toda a maldade humana foi muito além do que Dostoievsky pôs nos Karamazov, nos vemos subitamente obrigados a sentar ao lado dos mais imprevisíveis passageiros.
200 000 Portugueses desceram hoje a Avenida da Liberdade em regime de salva-vidas do "Titanic", coisa boa, porque se diluíram as divergências das seitas, e se percebeu onde, quem era, e como operava, o Inimigo. Faz lembrar o tempo do Maior Português de Sempre, e é magnífico ouvir as sintonias entre o PNR, os Integralistas, passando pelo Caldas, São Caetano à Lapa, os Comunistas e o Bloquismo. De fora, só fica mesmo Alegre, sempre sozinho, a esgatanhar-se e a tentar dizer "Não".
Parece aquelas virgens que tanto se guardaram que acabaram desdentadas, a fazer bordados para os netos das outras.
Manuel Alegre, ou se cuida, ou acabará a enfiar chouriços no cu. Pesa-lhe, na consciência, o descalabro que foram as últimas Presidenciais, em que, à pala dele, do Soares e do Aníbal, vimos todos os horrores, que já deviam estar sepultados, aparecerem, no palco, como novidades.
Viu-se no que deu a novidade.
A outra novidade é que isto está realmente mal, e começámos a mergulhar na Pós-Prosperidade, preconizada pelos Profetas de Bilderberg: um mundo obsoleto, desativado, inculto e brutal, um "Blade Runner", com a agravante de ser, entre nós, rodado na Quinta do Cabrinha. Não haverá, porque nunca tivémos, grandes tiradas finais, exceto uma, do Fado Alexandrino, que me ficou para sempre na memória, "a Mulher quer, o Construtor Civil escuta, a conta cresce", enfim, pressupondo que a obra entretanto nascia, e havia um enjaulado de 50 anos de crédito em redor de um barracão de merda, coisa que também se extinguiu.
Esse mundo está para ficar: amanhã, todos ganharemos 65€ por mês, e sonharemos com idas a Badajoz, com cartas de despedida e testamento, como no tempo do Almeida Garrett. Vai ser maravilhoso, isto é, a não ser que alguém se passe, como o meu herói do momento, o TIM K., que, na Alemanha, resolveu começar a matar, só por matar. A degenerescência do tecido social para tal aponta, e eu, que estou de malas feitas para Paris, já não excluo a porcaria de ser apanhado num fogo cruzado, lá, aliás, como em qualquer recanto do mundo.

3 commentaires:

e-ko disse...

isto tá muito catita... com discursos de Salazar e uma super promução pró MMachado e tudo!

divirtam-se, beijinhos!

Paulo Pedroso disse...

Pois, que pena não andarem por aqui discursos catitas do Fidel e super-promoções pró FARC, não é, sua hipócrita?

Paulo Pedroso disse...

Entretanto, vamos ao que importa mesmo. Há muito tempo que ando para perguntar: o que é feito do Fado Alexandrino?

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