Contaram-se, não vi -- disseram-me -- que o António, do "Portugal Profundo" finalmente já começou a aparecer pelas televisões. É inédito. Vai ser curioso ver como um simples cidadão, obstinado, acabará por fazer cair no Charco da História uma mente fraca, narcisista, obstinada, e para nosso azar, detentora de uma melancólica Maioria Absoluta Parlamentar. Num tempo, Saramago -- figura que execro, enquanto carácter e escrita -- apelou à Abstenção Geral, e talvez agora comece a perceber -- obviamente que não pelas, suas, razões dele, o que terá querido dizer.
Sócrates e a sua camarilha legislam pela noite, atacam antes do alvorecer, e escondem-se sempre nas sombras do crepúsculo. Anda por aí uma extraordinária alteração do Código do Trabalho que ora dará meia hora (?) ao trabalhador, para almoçar. É uma boa medida: finalmente adequa o ganho ao tempo dispendido no deglutir do adquirível, mas eu no fundo não vinha aqui para falar disto, queria tão-só aproveitar para mandar o Sócrates à merda, mas da pior das maneiras possíveis, através de pequenas fábulas da Realidade: pelo escurecer, legislou, agora, que os jovens contratados, a prazo, das Forças Armadas, que até hoje tinham um subsídio de reinserção na Sociedade Civil, deixassem de o ter: caem assim, directamente, ou no Vazio, ou nas portas encerradas da Função Pública; nos bares "gay" de Paris e de Nova Iorque, há um tipo do middle-aged guy, que já tem posses para pagar uns copos, e talvez um limitado "Train de Vie", muito procurado por jovens imigrantes e certos apreciadores com determinado pendor gerontófilo. É o apreciador do "Pepper-and-Salt Uncle", só que isso, lá fora, nas sociedades abastadas, é apenas mais um ritual preliminar de levar no cu. Cá, passa por avanços e recuos, por frases vazias de bancada parlamentar, por projectos para a Europa emitidos pela boca de quem nem projectos para o seu desgraçado país consegue ter, ou, sequer, projectos para si, que não se estendam para além de uma desgastada imagem de espelho.
Acho José Sócrates execrável. Quando ele quiser acelerar o seu Tratado de Lisboa, eu quererei acelerar o Referendo ao seu "Simplexfleximalsegurado" Tratado de Lisboa, onde, onde está "Lisboa", deveremos todos ler Tratado de "Sócrates". Quero que o Sócrates se foda, mais o seu tratado. Que se foda o Sócrates e todos os seus apaniguados. Sou Europeu, e, portanto, defendo que a Europa deve fazer uma pausa, antes de entregar os seus destinos nas mãos destes dois vergonhosos espécimes das Conservatórias do Registo Nacional. Sou Europeu, porque defendo que a história de um país é, antes de mais, o lugar da sua contribuição para a Super-História do Continente, não a pequena história dos gritos das licenciaturas maoistas do "apto/não-apto" ou das hiper-notas das Estruturas, ou das folhas ranhosas, e manhosas, do cartão de visita do Inglês Técnico do Secretariozinho de Estado das escapadelas das aulas nocturnas.
E quero que o Sócrates se foda, mais a sua ambição de ligar o seu pequeno carácter a um punhado de folhas fanhosas, a indexar o futuro do Velho Continente à deriva biográfica de dois arlequins do subúrbio do Grande Pensamento Europeu, incapazes de alinhar uma máxima, ou cravar uma frase lapidar nas Páginas de Ouro dos Grandes Homens da nossa História, mas tão-só associar o seu viscoso rasto de lesmas a histórias de ascensão torpe, de golpes de penumbra, de atropelos de pequenas coisas, de gritos demagógicos, soltados, aqui e ali, nos entreactos dos "majores" e "comendadores" da Parvónia exportada.
Eu sei que isso convém. Convém aos supra-poderes que os manipulam, em nome da Super-Ordem Nova, e o espanto é que este pequeno país, diariamente amesquinhado, me faça lembrar uma história antiga, de como os poderes da sombra ensaiaram, na Guerra Civil de España, todas as baterias de horrores que tinham ensaiado, para despoletar pela Europa, e Mundo inteiros.
Quero que, quando fala de "Flexisegurança", de Novas Leis Disto e Daquilo, de Denúncias Anónimas, de Trabalhadores a Regime Chinês de Servidão e Retribuição, o Sócrates e os seus apaniguados se fodam. Que quando aparece em cena aquele focinho de Peixe-Porco das Finanças, imediatamente a Net despoletasse um "cockie", para lhe pregar uma par de murros na beiçana torpe, que quando o Hipopótamo da D.R.E.N. urrasse, todos os Lobos da Terra logo erguessem o seu uníssono uivo de protesto, e a abafassem, vil, baixa, e indescritível e inenarrável; que o Camelo da Cultura olhasse em redor e visse como tinha permitido a ocupação de um Equipamento Nacional por uma colecção de peças menores de "vaiam" por aí fora, e "vaiam" comprando toda a merda que virem, porque viver é preciso, mas branquear ainda é muito mais preciso.
Ah, já me esquecia, isto é o Folclore Nacional, em todo o seu esplendor, a preparar-se para transvasar fronteiras, e arrastar o ridículo de Portugal para a Majestática Mancha da Velha Europa. Por toda a parte, uma faixa etária, como nos tempos do Maior Português de Sempre, já emigrou, ou está em vias de emigrar. Entretanto, um jovem polícia -- 600 € por mês, um luxo, portanto... -- longe da terra e da família, num alojamento de metade do salário, a fazer uns-por-fora de meia dúzia de patacos, percebeu que nada disto lhe servia, mas não servia, da forma mais radical e impossível possível: nos arredores de um tapume de uma obra de Lisboa, preparava-se para disparar a arma contra si mesmo: "in extremis", salvou-o o colega, que, a correr, o foi buscar, e com ele se sentou, e manteve uma longa e fulcral conversa. Tirou-lhe a arma e reabriu-lhe uma qualquer mentira sobre a realidade. Tudo, a seguir, é como num poema de Rimbaud: tinha 24 anos. No final da Obscena Presidência Europeia, esse mesmo jovem terá 24 anos e meio, e mais sombras, e ainda o Inverno, e a hora lúgubre, e o lugar e o sentimento fatal em que, reencontrada a sua arma, a voltará a enfiar na boca... para definitivamente disparar.
Maldito sejas, Sócrates, para todo o sempre.
Neste blogue praticam-se a Liberdade e o Direito de Expressão próprios das Sociedades Avançadas
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