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segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

O BILIONÁRIO ASTRONAUTA MULTI-MÍDIA

0 – O BILIONÁRIO ASTRONAUTA MULTI-MÍDIA

Incluo aqui um preâmbulo. Minha vida anterior a meu ingresso na Noite. Isto tornará mais claros alguns fatos narrados na primeira versão.
Eu nasci em São Paulo, no dia 30 de dezembro de 1970. Meu pai se chama Pedro Papoy e minha mãe, Rosilda de Moura Montarroios.
As origens de minha família são nebulosas. Segundo meu pai, meu avô, Miguel Papoy, apesar do prenome, era austríaco, nascido em Viena. E minha avó, Justina Bego, italiana de Veneza. Outros familiares, porém, não corroboram estas origens.
Meu pai nasceu em Porto Feliz, interior de São Paulo, no dia 29 de setembro de 1930. Trabalhou com meu avô, não sei exatamente em quê, talvez auxiliando na condução de um ônibus urbano, até ingressar no comércio de ferramentas, na virada da década em que nasci.
Chegou a casar-se e teve um filho, Marcos Aurélio, nascido, se não estou errado de novo, em 1956.
Por volta de 1967, meu pai conheceu minha mãe, Rosilda.
Moravam na zona leste de São Paulo, num lugar chamado Vila Rica.
Minha mãe havia nascido em Recife, Pernambuco, em 29 de setembro [sim, mesmo aniversário do meu pai] de 1950.
Meu avô, Romualdo de Souza Montarroios e minha avó, Alda de Moura Montarroios, vieram para São Paulo por volta de 1952.
Aqui, meu avô tornou-se sargento da polícia, mas adoeceu e faleceu por volta de 1963, quando teria apenas 36 anos.
Quando meu pai conheceu minha mãe, estariam, portanto, com 37 e 17 anos, respectivamente. Moraram juntos por pouco tempo.
Quando eu estava com três anos, aproximadamente, mudamos, junto com minha avó e meus tios, para o bairro do Jaçanã, na zona norte de São Paulo, região que jamais abandonei definitivamente.
Minha mãe fez carreira como vendedora na famosa loja de roupas A Bruxa, situada na Vila Mariana.
Fiz todo o primeiro grau no Educandário Nossa Senhora do Carmo [hoje, Colégio Albuquerque], localizado num bairro vizinho, Tucuruvi.
A confusão que se abateu sobre minha vida começou em 1984, quando eu estava na oitava série.
A diretora da escola, Dona Arionor, entrou em nossa sala de aula e nos convenceu a ingressarmos em cursos técnicos e não simplesmente no curso regular. “O Brasil precisa de técnicos”, disse ela.
Aos 13 anos de idade, eu queria fazer o que da vida?
Quando criança, meu desejo principal era ser um bilionário. Em seguida, resolvi tornar-me astronauta. Minhas fantasias astronáuticas me levaram a rabiscar contos semelhantes à série “Buck Rogers”.
Mas aos 13 anos, influenciado por um colega da classe, que desenhava caminhonetes, passei a desenhar caminhonetes e outros veículos também.
Eu também possuía uma certa fantasia em ser um rock star, mas não conseguia me imaginar num palco, apresentando-me para milhares de pessoas. Mesmo assim, teria ingressado num curso de música, caso minha família tivesse condições financeiras de me matricular em algum.
Mas eu era tão tímido que até recusei beijar a garota da minha classe que poderia ter se tornado minha primeira namorada, pois éramos apaixonados um pelo outro. O nome dela era Helena. Nos dois anos em que estudamos juntos e fomos apaixonados um pelo outro, eu não tive coragem sequer de permitir que ela encostasse as mãos em mim, quem dirá me beijar, desejo que tentou realizar em pelo menos duas ocasiões, mas eu fugi como um rato.
Só a toquei uma única vez, no último dia de aulas. Acho que escrevi um bilhete para ela e coloquei no bolso de sua camisa, delicadamente para que pudesse sentir seu seio direito em meus dedos.
Tentamos juntar o maior número de colegas de classe para ingressarmos no mesmo colégio: a Escola Técnica Federal de São Paulo, próxima à estação Armênia, do metrô. Inscrevi-me no curso técnico em mecânica, interessado em aprender algo sobre automóveis. Acho que apenas um dos colegas conseguiram passar no dificílimo exame.
Matriculei-me em outra escola: São Francisco de Bórgia, no bairro do Paraíso.
Exatamente naquela época, meu pai havia abandonado as ferramentas e passou a gerenciar salas de cinema. A primeira empresa em que trabalhou foi a CIC, proprietária dos tradicionais cines Comodoro, Metro e Gemini. O Gemini localizava-se na Avenida Paulista. Portanto, eu simplesmente caminhava do Paraíso até lá.
E foi dentro de uma sala do cine Gemini, assistindo ao filme “2010 – O Ano Em Que Faremos Contato”, que resolvi abandonar a mecânica para ser diretor de cinema.
No entanto, em 1985, eu fiz mais uma descoberta: a poesia.
Nossa professora de português condensou toda a literatura brasileira num único ano letivo. Assim, tomei conhecimento de Gonçalves Dias a Carlos Drummond de Andrade e passei a rascunhar meus primeiros versos.
Um dia, estava conversando com Alvaro Sobral, que é meu amigo até hoje, sobre música. Ele estava estudando violão e pensava em ingressar no baixo. Falei para ele que estava esboçando alguns versos. Ele me pediu os versos e também fez um apelo para que eu passasse a tomar aulas de guitarra. Formaríamos uma banda.
Infelizmente, quando verifiquei o valor dos cursos, numa escola de música, percebi que não teria como fazer nenhum, até começar a trabalhar.
Continuei, porém, no curso de mecânica, no ano seguinte, 1986. Ingressei por pura “inércia”, como um professor de física costumava se referir a alunos que seguem a vida ao sabor do vento, como eu. Minha cabeça já estava em outras nuvens. Nas férias, eu havia lido o livro “Feliz Ano Velho”, de Marcelo Rubens Paiva, que me deixou completamente pirado.
Quase ingressei na VASP, como office-boy. Não o fiz porque, na mesma época, havia participado de um processo seletivo no Banco Noroeste e estava tão certo que seria contratado que desisti de realizar o cursinho preparatório para office-boy da VASP.
Quase ingressei no Banco América do Sul. Não o fiz porque, ingenuamente, confessei sofrer de asma. E não apenas confessei sofrer de asma como no dia do exame médico, estava em meio a uma crise e tive que receber cuidados. Na minha santa ingenuidade, o banco não iria deixar de me contratar só porque eu morria de asma.
Só consegui meu primeiro emprego como “auxiliar menor” no ano seguinte, quando eu já nem queria mais estudar.
Eu só pensava em três coisas. Escrever. E escrevia toneladas de poemas e letras de música diariamente. De vez em quando, algum conto e algumas memórias. Tinha planos concretos de publicar meu primeiro livro de poemas pela Editora Brasiliense, a mesma de Marcelo Rubens Paiva. Também pensava em fazer música, por isto escrevia letras e mais letras, imaginando a melodia de algumas delas. Sem ainda poder aprender a tocar guitarra, fracassei num teste de vocalista com o Alvaro. Ele pediu para eu acompanhar uma música do Roupa Nova [naquela época, a gente respeitava o Roupa Nova], mas alguns segundos depois, me mandou calar a boca. E também tinha planos concretos de me tornar diretor [e por que não também ator?] de cinema, mas não fazia ideia de como realizar esta tarefa.
Quem me conseguiu um emprego foi o pai de uma amiga de minha irmã, o Senhor Yoshio Kazama, que gerenciava o departamento de vendas paulista de uma fábrica de escovas sediada no Rio de Janeiro.
Eu detestava o serviço. Na verdade, detestava mais os meus colegas de escritório, que eram uns malas. Mas já sabia o que faria com meu primeiro pagamento: ingressar num curso de guitarra.
Chegou o dia. Peguei o meu pagamento e o que fiz? Não entrei no curso de guitarra, mas comprei meu próprio exemplar do livro “Feliz Ano Velho”, pois o que eu havia lido no ano anterior fazia parte da pequena biblioteca da casa que minha família alugou em Peruíbe.
Antigamente, os livros eram muito caros. Acho que por isto, ao comprar meu “Feliz Ano Velho”, não me sobrou dinheiro para me matricular no curso de guitarra.
Não aguentei mais aqueles colegas de trabalho infelizes e, para decepção do Senhor Kazama, deixei a fábrica de escovas.
Quando completei 17 anos, não consegui mais emprego em lugar nenhum, por culpa da iminência de ser convocado para o Exército [por sinal, era algo que me apavorava].
Resolvi enfim entrar num curso de música, com alguns cheques pre-datados de minha mãe. Naturalmente, odiei o curso e não voltei nem para a terceira aula.
Decidi radicalizar. Com aquele sentido de urgência típico dos adolescentes, queria ter uma profissão. Matriculei-me novamente num curso técnico: publicidade. O mais próximo do que eu queria ser.
Eu não seria um publicitário ruim. Pelo contrário, acho que eu era o melhor aluno da classe, talvez da escola.
Mas ainda vítima da inércia, não procurei estágio em lugar nenhum, não me preocupei em cobrar de meus pais que pagassem minhas mensalidades e, no segundo semestre, mais faltei às aulas do que estudei. Resultado: fui reprovado.
Completei 18 anos. Consegui um empreguinho vagabundo numa loja no centro da cidade, onde fiquei apenas um mês. Mas, com o pagamento, comprei uma pequena máquina de escrever e datilografei todos os meus poemas.
Enfim iria remeter minha obra para a Editora Brasiliense.
Procurei uma papelaria para tirar xerox das laudas. O funcionário da papelaria me avisou que ali também era uma editora. Olhei a volta. Sim, era uma editora. Ateniense. Resolvi deixar meus poemas lá para avaliação.
No dia seguinte, já fui chamado para uma reunião com a editora Lélia Pereira de Figueiredo, que me explicou ser uma editora independente, ou seja, eu mesmo teria que pagar a publicação do livro. Ela também me convenceu de que eu não conseguiria publicar meu livro por editora alguma e, mesmo que conseguisse, não iria ganhar dinheiro nenhum. Ao publicar pela Ateniense, meus livros, que continham poemas de altíssima qualidade, venderiam como água.
Caí na conversa dela mas falei que não teria como publicar meu livro. Onde eu iria conseguir dinheiro?
O ano de 1989 foi se arrastando. Decidi prestar um concurso público para escriturário da Companhia Metropolitana de Habitação de São Paulo.
Aprovado, comecei a trabalhar no dia 02 de janeiro de 1990.
Imediatamente, telefonei para Dona Lélia e avisei que agora poderia publicar meu livro. Nunca fiquei tão feliz em minha vida. Literalmente, pulava de alegria, dentro do escritório da Cohab.
Estudar? Que estudar o quê, eu seria o mais novo poeta marginal célebre do país. Durante um ano e meio, torrei quase toda a íntegra do meu pagamento na publicação de meu livro.
Em meados de julho, a bomba: eu teria que pagar a gráfica à vista. Nunca entendi o motivo. Só consegui publicar meu livro de poemas “Suicídio Espiritual” em maio de 1993, após deixar nove cheques pré-datados com a editora.
Neste meio tempo, minha inércia me levou ao curso de teatro. Macunaíma. Agosto de 1991. Eu não estava mais trabalhando na Cohab.
Considerei a melhor coisa que havia feito na minha vida, até então. Amei meus colegas, amei meus professores, fiquei feliz em saber que poderia usar qualquer roupa lá dentro. Que eu poderia deitar no meio da rua, em plena Barão de Limeira e não haveria ninguém para me chamar de louco, porque todo mundo ali era louco. E mais: eu seria um grande ator. Arranjei até minha primeira namorada, lá dentro, Paula Crous Tsanaclis, com quem fiquei um mês. E se não fosse a Paula, havia mais uma fila de alunas de teatro interessadas na minha pessoa.
Não demorou e eu já fazia parte de um grupo de teatro profissional, os Arlequins, a quem me dediquei de corpo e alma, sem chegar a lugar algum.
No final de 1994, decepcionado com o teatro e com a poesia, que não me trouxeram qualquer resultado profissional, financeiro, nem me fizeram uma celebridade, e pressionado por minha namorada da época, que queria que eu arranjasse um serviço com carteira assinada que pagasse meu salário em dia, abandonei tudo para trabalhar como atendente de um serviço de entregas de comida chinesa.

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