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segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Grandes Êxitos do "The Braganza Mothers" - "O Colchão de "Laura", seguido do Terceiro Funeral de Amália"



Dedicado a "Laura Bouche" e à sua gloriosa vida cheia de fenómenos do Entroncamento...



O principal defeito de Laura "Bouche" é que é especialista em viver histórias, contá-las, mas NUNCA as escrever. Paciência, sobra sempre para mim.
Era uma vez uma casa promíscua, muito perto da Assembleia da República, na qual, durante anos, passou tudo o que, em Lisboa, era depravação. Bichas, chulos, "transgender", fufas, ninfomaníacas, taradas brasileiras, figuras da alta sociedade e do espetáculo, enfim, comodidades que hoje já não se encontram.
O colchão de Laura não era um colchão, era uma pista de aterragem, sem controladores aéreos. De cada vez que havia um voo, ele fazia escala no colchão de Laura. Laura era a que usava menos o colchão, porque tinha medo dos vizinhos, de maneira que engatava os homens, nos célebres túneis do Metro do Marquês de Pombal, e levava-os para um descampado, bem defronte da sua casa, onde os "fazia", atrás de um casinhoto abandonado das obras. Toda a gente via e sabia, exceto Laura, que pensava que era discreta, e era, mas discreta e muito conhecida, que é a pior coisa que pode acontecer a uma aventureira da noite.
Nas noites de Lua Cheia, e nas outras também, a "Lili das Orquídeas" deixava a mãe à porta da Amália, e subia a escada de "Laura": a "Lili" ia "fazer" a Laura, e a mãe da Lili fazer fressura com a Amália. Os melhores fados da cantadeira foram assim compostos por aquela língua áspera, de passar a pano o chão, isto, muito antes de a Maluda fazer o mesmo serviço, e com exemplaridade. Bons tempos, dizem eles. Hoje, com o politicamente correto, uma coisa destas seria considerada imoral e os seus autores gente completamente degenerada, graças a deus. Hitler e Estaline também pensaram assim, mas não era verdade: Laura continua no ativo, enfim... melhor dizendo, no passivo, e a Cantadeira -- The Voice -- já não é lambida, mas os seus fados entraram integralmente para a Eternidade.
Laura já não mora ali. Aquela casa estava assombrada: havia gente que ia, de propósito, matar-se lá, o Rui Palma-Carlos, que deus tenha, a alma do Tó Champalimaud, que nunca ninguém saberá porque foi morto, a Chris Koppke, que assistia aos "poltergeists" que por lá passavam, a Barloff, doida por mamar árabes, que depois se matou em beleza, e a tarada da Rita Pavoni, antes de se afundar no vício da coca, e estar hoje completamente escaqueirada, mas isso dava outro romance.
O dramático aconteceu no dia em que a Amália se passou, parece que com a cabeça entre a sanita e a banheira, uma imagem horrível, para quem tinha sido a Voz de Portugal, e nesse mesmo dia, com o funeral a sair de casa, aquele monte de tarados, de bichonas e de epígonos, a fingirem que carpiam a Diva, sai da porta ao lado a mudança da Laura, com o colchão gigantesco, pelo qual tinham passado os mesmos que ali choravam a Amália. Desviaram-se aí os olhos do esquife da Rapariga que vendera limões, e o Espírito Santo (banqueiro) iluminara, e fixaram-se todos naquele célebre colchão, onde, outrora, tanto tinham gemido, com "ele" todo entalado.
E este foi o primeiro escândalo, e o Primeiro Funeral de Amália.
O segundo era a cómoda, e vamos fazer um "feedback", porque, naqueles dias de engate pela noite adentro, chega um dia Laura a casa, e estava uma cascata de água de cano a descer as escadas. Sobressalto, os bombeiros já à porta, e, quando entrou no lupanar, quem estava sentada na cómoda era a Fadista, que se vira para ele, com aquele ar malandro de quem já tinha passado por ali tudo, até os elétricos, e diz-lhe "é para que veja que eu, que sou a grande Amália, não deixo de ser uma boa vizinha para com os meus vizinhos!..." Uma senhora.
A cómoda acabou a ser levada em bando, muitos anos depois, para o depósito de Bucelas, o Trianon "outdoors", com o Filipe Alçada -- estás lembrado, homem?... -- a carregar com aquilo às costas, pela noite dentro, aquela zona é sinistra, está-se sempre à espera de que apareça um vampiro ou um bando de lobisomens, benzó-deus, a cómoda lá ficou, o colchão foi esquartelado, e cortados alguns pedaços do forro. Tudo aquilo é muito mais precioso do que o Santo Sudário. Tenho um fragmento cá em casa, que cheiro todas as noites, e um outro, guardado para o Filipe, por honra e mérito. Há prendas e bens inestimáveis.
E este foi o Segundo Funeral de Amália.
Como nas fábulas, a história acaba no Número Três, e é recentíssima. Em Dezembro, comigo do outro lado do Mundo, recebo uma sms a falar da sanita. A sanita era outra das celebridades da Rua de São Bento. Amália nunca se sentou lá, mas havia bichas que vinham, em procissão, limpar a casa de banho e o oratório, com o pretexto de que "ali se tinham sentado os cus mais ilustres de Portugal", e era verdade. Era um privilégio pôr ali as nalgas, e bem o diga a outra, coitada, já morreu, que um dia se enfiou lá dentro, e se ouviu depois um estrondo, e toda a gente aflita, podia ter sido um atentado, mas não era, eram os parafusos que estavam soltos, e tinham ambas caído, a bicha e a sanita, e ninguém se conseguia levantar, porque tinha o rabo entalado nas bordas e tinham ficado de lado, tal qual tinham tombado, O parêntesis vai para a desgraçada, que deus já chamou para junto de si, e que, alguns anos depois, já às portas da morte, telefonou para Laura, implorando-lhe que fosse lá ajudá-la a morrer, porque não conseguia sozinha.
Há aflições mesmo aflitas na vida, o que é que Laura havia de fazer, com a outra a gemer, a gemer, "tu mata-me, tu mata-me, que eu não aguento mais este sofrimento todo!...", a outra sem saber o que fazer, vira-se para a moribunda e diz-lhe, "olha lá, tu tens a boca toda seca, espera aí um bocadinho que eu vou buscar uma colher e já te trago qualquer coisa...", o qualquer coisa era um pouco de água com açúcar, a outra, que devia ser sensível aos placebos, mal sentiu a água na boca, pensou que fosse o chazinho da meia-noite, e passou-se para o Além. Desde então, Laura Bouche passou a ser conhecida, no "Réseau Urinoirs", por Laura "Kevorkian"...
Chegado Dezembro de 2008, com o restauro da casa de banho de Laura, pôs-se o dilema do destino a dar à ilustre sanita: carregada na célebre carrinha -- a carrinha mais conhecida dos sítios de engate do País inteiro -- ao virar uma curva, caiu de lado, e molhou tudo, porque ainda ia cheia de água-benta. Em desespero -- que faço agora, que faço agora?... -- com a carrinha cheia de água, em plena hora de ponta, parou à porta do Centro Comercial "Allegro", em Alfragide, abriu as traseiras, tirou a retrete, e fez um "flashmob", deixando a louça bem à porta do Centro, com toda a gente a ver, e sem acreditar no que tinha visto.
O resto é ainda mais surreal, puro Fura dels Baus, um autêntico "happening": um segurança a ser chamado, a maltosa toda, que estava na zona da restauração, a vir ver o que era aquilo, "parecia uma retrete, mas não tinham a certeza (!)".
Era um problema de "gestalt"...
Então, segurança chama segurança, de repente, é o Centro inteiro à porta, não fosse aquilo ser mais uma Bin-Ladenice dos amigos de Dias Loureiro, um dos seguranças agarra na sanita, mas... mal agarrou nela, vira-se um outro, e diz-lhe: "... olha lá, e se isso for uma bomba?...". Desastre: com o susto, o vigilante, tem uma reação à portuguesa, e deixa cair a loiça no chão, que se desfez num montão de estilhas. É verdade que tudo acabou nas pás das mulheres da limpeza, quando cada um daqueles pedaços deveria era ter sido carinhosamente recolhido e guardado, já que trazia mais preciosidade e história do que aquelas aldrabices todas dos bocados do Santo Lenho.
Para os iniciados, como eu, todavia, este foi o Terceiro Funeral de Amália, já 2008 findava, e nos aproximávamos dramaticamente do Fim dos Tempos, como prega, há décadas, Dona Adelaide do Freeport, mãe jeová do Vigarista de Vilar de Maçada.
Boa Noite.



(Nota: Este texto recebeu, do Ministério da Cultura, um subsídio de 13 000 €, em três "tranches": 5 000 + 5 000 + 3000 € e é um puro produto HBO)

(dupla tiragem no "Arrebenta-SOL" e em "The Braganza Mothers" )

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