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sexta-feira, 17 de abril de 2009

João Miguel Tavares versus "Engenheiro" da Farinha Amparo: há dias em que a Realidade é tão vil que nem merece qualquer comentário

Neste blogue praticam-se a Liberdade e o Direito de Expressão próprios das Sociedades Avançadas
O texto e a foto provêm, direitinho, do Espaço Kaos
É pena haver dias em que nem é preciso improvisar: a Realidade é tão má, que só de expô-la, vale o habitual comentário, ou crónica, ou que raio lhe quiserem chamar.
Para azar, ou sorte minha, tento passar o mínimo de tempo possível em Portugal, e escapam-se-me estes pequenos horrores, em que se vão tornando as vidas de quem pensa.
Sócrates, Primeiro-Ministro de Portugal, (ainda) em exercício, à pala de não poder enjaular nem descerebrar o País inteiro, atirou-se, desta vez, a João Miguel Tavares, livre-pensador do "Diário de Notícias", que lhe chapou com o seguinte texto:
"JOSÉ SÓCRATES, O CRISTO DA POLÍTICA PORTUGUESA

por

João Miguel Tavares

Jornalista -
jmtavares@dn.pt 03 Março 2009


Ver José Sócrates apelar à moral na política é tão convincente quanto a defesa da monogamia por parte de Cicciolina. A intervenção do secretário-geral do PS na abertura do congresso do passado fim-de-semana, onde se auto-investiu de grande paladino da "decência na nossa vida democrática", ultrapassa todos os limites da cara de pau. A sua licenciatura manhosa, os projectos duvidosos de engenharia na Guarda, o caso Freeport, o apartamento de luxo comprado a metade do preço e o também cada vez mais estranho caso Cova da Beira não fazem necessariamente do primeiro-ministro um homem culpado aos olhos da justiça. Mas convidam a um mínimo de decoro e recato em matérias de moral.

José Sócrates, no entanto, preferiu a fuga para a frente, lançando-se numa diatribe contra directores de jornais e televisões, com o argumento de que "quem escolhe é o povo porque em democracia o povo é quem mais ordena". Detenhamo- -nos um pouco na maravilha deste raciocínio: reparem como nele os planos do exercício do poder e do escrutínio desse exercício são intencionalmente confundidos pelo primeiro-ministro, como se a eleição de um governante servisse para aferir inocências e o voto fornecesse uma inabalável imunidade contra todas as suspeitas. É a tese Fátima Felgueiras e Valentim Loureiro - se o povo vota em mim, que autoridade tem a justiça e a comunicação social para andarem para aí a apontar o dedo? Sócrates escolheu bem os seus amigos.

Partindo invariavelmente da premissa de que todas as notícias negativas que são escritas sobre a sua excelentíssima pessoa não passam de uma campanha negra - feitas as contas, já vamos em cinco: licenciatura, projectos, Freeport, apartamento e Cova da Beira -, José Sócrates foi mais longe: "Não podemos consentir que a democracia se torne o terreno propício para as campanhas negras." Reparem bem: não podemos "consentir". O que pretende então ele fazer para corrigir esse terrível defeito da nossa democracia? Pôr a justiça sob a sua nobre protecção? Acomodar o procurador-geral da República nos aposentos de São Bento? Devolver Pedro Silva Pereira à redacção da TVI?

À medida que se sente mais e mais acossado, José Sócrates está a ultrapassar todos os limites. Numa coisa estamos de acordo: ele tem vergonha da democracia portuguesa por ser "terreno propício para as campanhas negras"; eu tenho vergonha da democracia portuguesa por ter à frente dos seus destinos um homem sem o menor respeito por aquilo que são os pilares essenciais de um regime democrático. Como político e como primeiro-ministro, não faltarão qualidades a José Sócrates. Como democrata, percebe-se agora porque gosta tanto de Hugo Chávez."
Nada disto precisa de comentários: não é o que qualquer Português, que pensa, pensa, é um pouco mais do que isso: é uma das multiplas e possíveis formas de exprimir o que qualquer Português que pensa realmente poderia pensar sobre as matérias afloradas. João Miguel Tavares fê-lo à sua maneira, dez mil outras haveria de o fazer, mas sempre sobre os mesmos temas, doentiamente mal esclarecidos. Nada ali existe de errado, e como nada ali está de errado, aqui aplaudimos o jornalista, assim como continuamos a vaiar o indigno político.
Não se fez o 25 de Abril para gramar com bostas deste calibre, desenterradas nalguma fossa fétida de Vilar de Maçada.
(Duo de livre expressão, no "Arrebenta-SOL" e em "The Braganza Mothers" )

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