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sábado, 10 de janeiro de 2009

"As duas comunicações presidenciais separadas por dois dias seriam divertidas, se não fossem tão graves"

“Tenham medo”
2009-01-05 por Mário Crespo no JN

“O Professor Cavaco Silva, magnânimo, comoveu-se. Contrariando o Sol promulgou o Orçamento porque, afinal, esta ainda é a quadra do entendimento entre os homens de boa vontade. Levado por esse espírito, em 48 horas redigiu no mais puro materialismo dialéctico a antítese da tese que tinha apresentado dois dias antes. "É preciso deixar de lado as querelas" disse mais ou menos no local do discurso onde 48 horas antes tinha dito que estava abalado "o equilíbrio de poderes e o normal funcionamento das instituições da República". E passou às culpas de tudo isto: "A crise chegou quando Portugal regista oito anos consecutivos de afastamento em relação ao desenvolvimento médio dos seus parceiros europeus". Claro que antes houve dez anos de governo PSD em que, apesar da conjuntura mais favorável que Portugal teve desde a descoberta do caminho marítimo para a Índia, a nossa curva de desfasamento dos parceiros europeus foi não menos significativa. Apesar dos fundos estruturais, das indemnizações compensatórias e tudo o mais, Portugal não arrancou, mas arrancou-se a vinha e afundaram-se frotas de pesca. Tudo em troca de biliões de ECU. Que década inesquecível. Vai estar connosco por muito e muito tempo. Mas para quê trazer ao Ano Novo fantasmas de décadas passadas se podemos confinar todas as culpas a oitavas mais recentes? O pormenor da década de abastança e falta de crescimento ser dos governos de Cavaco Silva é circunstancial. O importante é que, por determinação presidencial, a sinistra oitava do nosso descontentamento é agora dos governos de Guterres, Durão, Santana e Sócrates. Esses são os culpados no cânone do Presidente que "deve falar a verdade". Só que ficou de fora da "verdade" a crise no BPN, o seu Conselheiro de Estado e a corrupção.”

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