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domingo, 10 de agosto de 2008

A internet emburrece ou intelectualiza?

Tem uma coisa que me incomoda na internet, especialmente no Orkut. Pensando nesta coisa, também pensei em outras coisas que me incomodam na internet.

Eu já cheguei a dizer que não iria usar mais a internet, mas foi impossível. O último apagão virtual, em São Paulo, deixou a cidade parecida com o filme “Duro de Matar 4.0”. Sem internet, por pouco não vimos pessoas se jogando de prédios.

Não acredito que a internet tenha mudado hábitos, mas com certeza mudou a forma dos hábitos. Por exemplo, num domingo à noite, amigos gostavam de se encontrar em esquinas para conversar. Hoje, encontram-se em lan houses para jogar. Como também encontram-se através do Orkut e do MSN para conversar.

A internet não tem como deixar as pessoas mais burras. Pelo contrário. Usar computadores exige uma certa inteligência. A internet é a nova seleção natural. Quem não souber ligar um computador e acessar a internet vai ficar para trás. Não é preciso ser hacker ou cibermaníaco, mas hoje em dia exige-se que uma pessoa saiba ligar um computador e entrar na internet e fazer uma pesquisa e mandar e receber e-mails. Essa atividade não tem como emburrecer ninguém, mas deixar mais inteligente.
Uma outra vantagem da internet é que hoje em dia praticamente 100% dos jovens estão lendo e escrevendo. Não apenas mensagens no Orkut, como também livros que precisam para a escola. Se antigamente havia a desculpa de que livros eram caros, hoje dá para fazer download gratuito de qualquer livro.

Dizem também que o audiovisual é a experiência sensorial mais facilmente gravada no cérebro. Textos e áudios são fáceis de esquecer, mas vídeos não, porque eles formam arquivos múltiplos no cérebro. Obviamente que a maioria das pessoas entra no YouTube para ver videoclipe ou comédias, mas a simples atividade audiovisual há de aumentar a capacidade cerebral dos jovens também.

O YouTube é o contrário da televisão. Na TV, temos que esperar pacivamente para assistir o que Eles determinam. No YouTube, só assistimos o que queremos, sem dar satisfação a ninguém. O resultado disto é que a TV e também o cinema estão assistindo o YouTube para saber o que devem passar. É o caso do filme “Cloverfield”, totalmente feito a partir de pesquisas realizadas no YouTube.

Há também quem critique o dialeto dos jovens que usam MSN. Parar para pensar no que significa um coelhinho pulando e brilhando também é algo que exige inteligência e abre espaço no cérebro. A internet está desenvolvendo uma escrita iconográfica, semelhante às orientais. Dizem que as escritas iconográficas aumentam o tamanho da capacidade cerebral. Não tenho tanta certeza assim, pois a nossa escrita também é de certa forma iconográfica. O único problema é a proibição de se criar palavras novas, em português, também chamadas “neologismos”.

Acredito que a principal atividade desenvolvida pela internet é o hábito de se falar com várias pessoas e ver várias coisas diferentes ao mesmo tempo. Se existe algo que desenvolve o cérebro é isto. Na escola, aprendemos a estudar em silêncio e resolver um problema de cada vez. Na lan house, fazemos a maior balbúrdia e conversamos com várias pessoas ao mesmo tempo sobre assuntos diferentes e também vemos na tela coisas diferentes, intercalando jogos e sites.

Conclusão: a escola é emburrecedora e a internet é inteligentizadora, ou melhor dizendo, intelectualizadora [esqueci que não podemos inventar palavras].
Uma previsão antiga foi realizada: a de que a internet eliminaria as classes sociais. Pois de fato, o Orkut e o MSN igualam as classes sociais de todas as pessoas. Ninguém pergunta a uma pessoa se ela é pobre ou rica antes de iniciar um bate-papo.

Resta resolvermos alguns pequenos problemas de relacionamento. Há dois que considero os mais desagradáveis. Um deles, quando algumas pessoas param de falar com o resto da humanidade quando começam a namorar. Para não provocar ciúmes no namorado, que vai ficar vigiando seu Orkut e MSN. Para estas pessoas eu só tenho uma coisa a dizer: paixão tem prazo de validade. Amizade não. A outra coisa são as pessoas que ficam online no MSN mas não querem ou não podem conversar. Semana passada, fui pedir informações num balcão de uma faculdade e a atendente, embora atarefadíssima, correndo de um lado para o outro, estava com todos os bate-papos ligados, tanto o MSN quando o Google. Obviamente ela não conseguia conversar com ninguém, porque a fila estava enorme. Mas fazia questão de conferir todo mundo que estava online. Este comportamento não sou capaz de entender. Aí já é terreno para a psicologia.

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