Tem uma coisa que me incomoda na internet, especialmente no Orkut. Pensando nesta coisa, também pensei em outras coisas que me incomodam na internet.
Eu já cheguei a dizer que não iria usar mais a internet, mas foi impossível. O último apagão virtual, em São Paulo, deixou a cidade parecida com o filme “Duro de Matar 4.0”. Sem internet, por pouco não vimos pessoas se jogando de prédios.
Não acredito que a internet tenha mudado hábitos, mas com certeza mudou a forma dos hábitos. Por exemplo, num domingo à noite, amigos gostavam de se encontrar em esquinas para conversar. Hoje, encontram-se em lan houses para jogar. Como também encontram-se através do Orkut e do MSN para conversar.
A internet não tem como deixar as pessoas mais burras. Pelo contrário. Usar computadores exige uma certa inteligência. A internet é a nova seleção natural. Quem não souber ligar um computador e acessar a internet vai ficar para trás. Não é preciso ser hacker ou cibermaníaco, mas hoje em dia exige-se que uma pessoa saiba ligar um computador e entrar na internet e fazer uma pesquisa e mandar e receber e-mails. Essa atividade não tem como emburrecer ninguém, mas deixar mais inteligente.
Uma outra vantagem da internet é que hoje em dia praticamente 100% dos jovens estão lendo e escrevendo. Não apenas mensagens no Orkut, como também livros que precisam para a escola. Se antigamente havia a desculpa de que livros eram caros, hoje dá para fazer download gratuito de qualquer livro.
Dizem também que o audiovisual é a experiência sensorial mais facilmente gravada no cérebro. Textos e áudios são fáceis de esquecer, mas vídeos não, porque eles formam arquivos múltiplos no cérebro. Obviamente que a maioria das pessoas entra no YouTube para ver videoclipe ou comédias, mas a simples atividade audiovisual há de aumentar a capacidade cerebral dos jovens também.
O YouTube é o contrário da televisão. Na TV, temos que esperar pacivamente para assistir o que Eles determinam. No YouTube, só assistimos o que queremos, sem dar satisfação a ninguém. O resultado disto é que a TV e também o cinema estão assistindo o YouTube para saber o que devem passar. É o caso do filme “Cloverfield”, totalmente feito a partir de pesquisas realizadas no YouTube.
Há também quem critique o dialeto dos jovens que usam MSN. Parar para pensar no que significa um coelhinho pulando e brilhando também é algo que exige inteligência e abre espaço no cérebro. A internet está desenvolvendo uma escrita iconográfica, semelhante às orientais. Dizem que as escritas iconográficas aumentam o tamanho da capacidade cerebral. Não tenho tanta certeza assim, pois a nossa escrita também é de certa forma iconográfica. O único problema é a proibição de se criar palavras novas, em português, também chamadas “neologismos”.
Acredito que a principal atividade desenvolvida pela internet é o hábito de se falar com várias pessoas e ver várias coisas diferentes ao mesmo tempo. Se existe algo que desenvolve o cérebro é isto. Na escola, aprendemos a estudar em silêncio e resolver um problema de cada vez. Na lan house, fazemos a maior balbúrdia e conversamos com várias pessoas ao mesmo tempo sobre assuntos diferentes e também vemos na tela coisas diferentes, intercalando jogos e sites.
Conclusão: a escola é emburrecedora e a internet é inteligentizadora, ou melhor dizendo, intelectualizadora [esqueci que não podemos inventar palavras].
Uma previsão antiga foi realizada: a de que a internet eliminaria as classes sociais. Pois de fato, o Orkut e o MSN igualam as classes sociais de todas as pessoas. Ninguém pergunta a uma pessoa se ela é pobre ou rica antes de iniciar um bate-papo.
Resta resolvermos alguns pequenos problemas de relacionamento. Há dois que considero os mais desagradáveis. Um deles, quando algumas pessoas param de falar com o resto da humanidade quando começam a namorar. Para não provocar ciúmes no namorado, que vai ficar vigiando seu Orkut e MSN. Para estas pessoas eu só tenho uma coisa a dizer: paixão tem prazo de validade. Amizade não. A outra coisa são as pessoas que ficam online no MSN mas não querem ou não podem conversar. Semana passada, fui pedir informações num balcão de uma faculdade e a atendente, embora atarefadíssima, correndo de um lado para o outro, estava com todos os bate-papos ligados, tanto o MSN quando o Google. Obviamente ela não conseguia conversar com ninguém, porque a fila estava enorme. Mas fazia questão de conferir todo mundo que estava online. Este comportamento não sou capaz de entender. Aí já é terreno para a psicologia.
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