Neste blogue praticam-se a Liberdade e o Direito de Expressão próprios das Sociedades Avançadas
Dedicado à Magri, do "Expresso", que nunca cá vem, mas sempre bem informada sobre mim, ao Paulo Querido, que até ele já anda morto de riso com os disparates em que aqueles "fora" sérios rapidamente se tornam, e, ah, sim... à "Katia Sophia", grande brochista da Linha de Sintra, que me relatou esta história, vera, tirada polo natural, e em primeiríssima mão (era vizinha de cima da Dª. Julieta e nada admira que se tenha lançado na vida com 11 (!) anos de idade. Deus, se o Carlos Cruz tivesse sabido...)
Obviamente, senti, ao mesmo tempo, pena e contentamento. Pena, porque cento e vinte e tal anos a assistir a isto, não há velha que aguente; contentamento, porque deve ter levado a barriga cheia de homens, aliás a única coisa que uma senhora leva, e deve levar, deste terrível vale de lágrimas.
Mas... mas... mas, certamente não levou tantos homens como a Dona Julieta, que morava numa transversal do Desterro, ali, bem paralela à Almirante Reis, por alturas do Intendente. Soube dela tão-só porque era a vizinha de baixo da "Katia", menina (7 aninhos, mas com uma escola tipo McCann).
Mas... mas... mas, certamente não levou tantos homens como a Dona Julieta, que morava numa transversal do Desterro, ali, bem paralela à Almirante Reis, por alturas do Intendente. Soube dela tão-só porque era a vizinha de baixo da "Katia", menina (7 aninhos, mas com uma escola tipo McCann).
A Dona Julieta alugava quartos à hora, quartos a pretos que por ali passavam, somente para humilharem a branca.
Tinha a Dona Julieta a particularidade de ficar a espreitar, pelo buraco da fechadura, aquelas guerras dos Bastões dos Dembos, todos filhos do Rei do Congo, e herdeiros do Rei do Malho. Havia muitos gritos.
A Dona Julieta, que era uma mulher de sangue quente, apesar dos seus oitenta anos -- uma espécie de Agustina, mas mais virada para o deboche do que para o papel manchado de tretas -- a Dona Julieta, sempre que a mulata chegava à fase do "hi!... hi!... hi!...", e o negrão ao ritmo do "Hã!.., Hã!... Hã!...", abria muito devagarinho a porta e entrava por ali dentro, ajoelhando-se perto do divã, naquela adrenalina, misturada com ranger de molas, cheiro a pó de cocó de ratos, que saltava por tudo o que era estofo coçado, catinga, e urrar de canibal: era o angolar que, em esplendor, comia a ratinha funda da sua cabinda.
Dona Julieta, uma senhora, alçava então as saias, puxava um pouco para baixo as "cullottes", compradas, 40 anos antes, na espartilheira, a Dª. Selanira, da Almirante Reis -- que deus tenha, vizinha da minha avó Alice!... --, e enfiava o dedinho no seu grelo enrugado, titilando-o com a ponta, num masturbar de velha debochada, a viver, por procuração, a canzanada de preto, naquela sua insaciável derme octogenária.
Isto durou anos: a "Katia" adorava, sempre que subia um novo casal de ocasião, ela ia-se pôr à porta, a escutar aquele misto de gemido de cadelas com um cio primitivo, que vinha do tempo em que a Lucy tinha copulado, no Lago Tanganica, com o primeiro chimpanzé de tora grossa.
Um dia, todavia, a coisa deu para o torto: a Dona Julieta, com a mão inteirinha metida dentro da "boca da servidão" -- toda ela era salivas, por cima e por baixo... -- empolgou-se, passou-se dos carretos, e jogou a boca ao mangalho do preto. O preto não gostou, e deu-lhe com uma moca na cabeça.
Foram meses de silêncio naquela escada, a "Katia" sem divertimento, os vizinhos sem novos escândalos para poderem comunicar.
Quando os bombeiros finalmente arrombaram a porta, já só estava, a meio do quarto, a silhueta enrugada da Dona Julieta, uma espécie de mãe do "Psycho", uma múmia de Hatschepsout, com a mão ainda toda enterrada na rata, e, à mesma, de joelhos, mas já em redor das suas rótulas todo o sobrado se encontrava manchado da feroz decomposição do corpo daquela "bonne-vivante", enfim, carbonetos, sulfuretos e... e umas aguadilhas pestilentas, odor de cadáver, a recordar aquela morte santa, com o olhar contemplante, e fixo, de uma derradeira grande cena de foda, por procuração.
Paz à sua alma.
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