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domingo, 21 de março de 2010

O Arlequim da República


Imagem do KAOS

Vou começar pela frase com que qualquer um terminaria o texto: para mim, Cidadão do Mundo, e residente no Portugal, do séc. XXI, acho Manuel Alegre um puro palhaço.
Temos uma coisa em comum: eu não lhe devo nada, e ele nada deve a mim, pelo que sugiro que assim continuemos, mas isto era apenas o "grosso modo", e, agora, vamos à especialidade, porque, na especialidade, temos, de facto, um longo contencioso.

Para si, leitor comum, que ainda acredita no Pai Natal, convido-o a ler a ficha curricular do Salvador da República, e pode ir à "Wikipédia", que, com todos os seus lapsos, serve de guardanapo para um rodapé desta estirpe.
Comecemos pela Guerra, que, felizmente, não é do meu tempo, mas deixou muita gente cega, sem pernas, sem braços e sem alma.
Ainda na sexta, naquelas conversas de interlúdio das lides académicas, me contava um dos peões desse tempo, que o maralhal, o zé povinho, era descarregado às pazadas nas fronteiras ultramarinas do Império Provinciano Português. Nunca tinha pegado numa arma, e nem sabia que aquilo matava: aprendiam "depois", o que é muito português, e corresponde a ir ler as instruções, depois de a máquina de lavar ter explodido. Entretanto, já lá tinham deixado uma mão ou um pé, pelo caminho, "feliz ano novo, e muitas "propriedades", como rezavam, a preto e branco, os futuros filhos das lágrimas das mães de Portugal, embalados pela madrinha fufa da RTP, Maria Leonor.
Estávamos no tempo do Vacão de Santa Comba Dão, o político que, antes de Sócrates e Cavaco, mais incarnou a alma de vérmina do português corrente, e, enquanto os analfabetos morriam pelos ultramares, onde a Fé e o Império se dilatavam em cortar as mamas às pretas e enfiar granadas nos cus dos nativos, o Sr. Alegre fazia rimas, rimadas com o Partido Comunista Português, vetusta instituição, cheia de glórias e brilhos, já que, se esses gajos morriam, por ideias, e lhes eram arrancadas as unhas, pela PIDE, nos entrementes, o Sr. Alegre sonetava sonetos, como se de uma sineta se tratasse.
A sineta, todavia, ia-lhe soar mal, quando, de repente, descobriu que os seus ideais marxisto-estalinistas eram mortos à metralhada, nas ruas de Praga.
Podia ter acordado antes, quando, na Húngria, os patriotas caíam, como tordos, na rua, mas, como é típico do seu caráter, só começa a dizer "Não", quando já não está na moda estar calado, ou fazer "SIM", com a ponta do dedo e da queixada.
Pelos Açores, consta, quis fazer uma Guerra do Solnado, e até queria a independência dos Vulcões, talvez para se proclamar Rei das Berlengas, mas o Sr. Salazar, que não tinha pachorra para casos destes, mandou-o enxoldrar, e muito bem, embora com umas comodidades acima das dos peões comunistas, porque nestas coisas da repressão, há sempre os filhos e os enteados. O Alegre já então fazia parte dos filhos, e só depois se tentou colar aos enteados.

Sobre o exílio em Argel, entre 64 e 74, é melhor eu não falar, e tentar fingir que foi mentira que denunciasse aos "Movimentos de Libertação", a soldo de Cuba, da China, de Moscovo e da América, entre outros abutres menores, a posição das tropas portuguesas, para que os jaquins da Beira fossem metralhados, e voltassem com peças a menos, para os braços das viuvinhas mães, cobertas de preto até ao nariz, jaz no alto do plaino, morto e ensanguentado, o menino de sua mãe.
Vou fingir que não li o que escreveram sobre ele.
Na realidade, em Argel, enquanto os milhares de mortos da Guerra Colonial caíam, que nem tordos, o Poeta da rima coxa passava os dias defronte do microfone, a debitar receitas de culinária, e havia quem lhe chamasse a Lourdes Modesto do Golfo de Oran, mas eu não sou desse tempo.
Claro que em nada disto havia a mão do Francês, acabado de ser chutado das suas colónias do Magreb, e avidamente em busca de um cavalo de tróia lusitano, que fizesse, às fronteiras portuguesas, os mesmos vexames e "maldades" que acabara de ter sofrido.
Não sou desse tempo, nunca ouvi a Rádio Argel, mas duvido de que tivesse contribuído para evitar as nossas dezenas de milhar de mortos, mutilados e transtornados.
É sempre bom salvaguardar a peida no exílio, quando os outros andavam a pisar minas nas frentes de batalha.
Entre ele e o Sr. Soares Pai há um contencioso que talvez eu adorasse saber, mas nunca depois das refeições, para não ter de vomitar. Por Paris, mais fino, o Tio Mário envolvia-se noutras lendas, e comia doutros pratos, mas com um estatuto que, já então, metia no chinelo os achaques do primo "Argelino".

Como sabem, detesto escrever textos RTP-Memória. Estou no mês de Março de 2010, e faz agora quase cinco anos, pela primeira vez alertei os Portugueses para a praga dos cadáveres adiados que procriam, e rememoro: há páginas na história, que, quando os povos estão maduros, devem ser viradas para sempre. Aníbal Cavaco Silva, essa praga da Democracia e do desenvolvimento Pátrio, esse indivíduo que nos começou a vender ao Estrangeiro, às postas, e a troco de nada, devia ter-se evaporado em 1995, quando os Portugueses lhe disseram, rotundamente, "Já chega!..."
Como todos os autistas, não percebeu, e tinha as costas quentes: por detrás de si, perfilavam-se décadas de negócios obscuros, desvios de Fundos Comunitários, BPNs, BPPs, velhas beatas e filiados na Opus Dei.
Pagámos bem caro esse regresso, e volto a elogiar aqui a coragem do ancião Soares, que percebeu o risco para a Democracia Portuguesa do retorno à cena desse cadáver mumificado, que claramente representava o salazarismos das segundas vias.
O resto da história já vocês sabem: mal o ancião se ergueu, para fazer frente ao Fantasma de Boliqueime, imediatamente se reergueu, lá do fundo de outra gaveta de naftalina, uma coisa chamada Alegre, que toda a gente, enfim..., não foi toda a gente, foram os iluminados do costume, reconheceu que estava ávida de chegar ao topo da República, cumprindo uma tradição, que vinha dos inícios do séc. XX, de ter uma mente "literária" a chefiar o Estado.
O resultado foi o regresso do Segundo Cavaquismo, o maior desastre português que se poderia sincronizar com o chavismo de Sócrates.
A eleição de Aníbal Cavaco Silva inscreve-se, indelevelmente, na História, como o ato único de Manuel Alegre, e será assim que os nossos netos o contemplarão.
Cessado o Passado, o Sr. Alegre, que sempre se intitulou "Poeta", sem saber que a Poesia começa muito além de rimas de pé quebrado, está agora, num momento de particular gravidade, em que a Sociedade Portuguesa perdeu todos os Pontos Cardiais, a tentar obter um passaporte de segundas vias, para alimentar a sua vaidade, ou seja, abalança-se a tentar apanhar as migalhas de uma mesa devastada.
Sentiu que o Poder fraquejava, e depois de décadas a dizer-lhe "Amén", começou agora com uns estertores que quer fazer passar por "NÃO".

Puta que o pariu!...

Nada há nele de Sebastião, mas tão só de Pantagruel.
Nada existe nele de subtil, mas tão só de cércea de Garrafão.
Nada existe nele de rebeldia, mas de mordomias da Servidão.
Mais um bocadinho de esforço, e também veria o solzinho a dançar.

Manuel Alegre é uma daquelas figuras que Bordallo Pinheiro teria devastado e eu, à falta de Eça ou de Almada, tenho de vir agora, em público, desancar, e até lhe vou dizer o que nunca disse a ninguém: enquanto heterónimo, ou seja, ficção literária, coisa que ele terá de aceitar, e perceber, por muito que lhe doa e custe, porque, se ele se intitula Escritor, muito melhor escritor sou eu, e assim passei anos a desdourar Sócrates, mas bastaria Sócrates abrir a boca para me dizer que não apoiaria hoje Manuel Alegre (nada custa sonhar...), e até eu seria capaz de me sentar a seu lado, para discutir qual a melhor maneira de afastar, de vez, esse Tonel de Vaidade do nosso cenário contemporâneo.

Mais do que nunca, precisamos de sangue novo, o daquela geração que os tubarões abafaram, e que fica, algures, vaga e difusa, entre os colares septuagenários da serodiamente digna Ferreira Leite e os ridículos bicos de grilo da Ana Drago.

O Sr. Alegre é uma figura obsoleta de meados do séc. XX, cujo tempo passou, sem nunca ter chegado.
Nada lhe devo, e tem para comigo a dívida de nos obrigar a gramar, diariamente, aquela ridícula aberração, chamada Cavaco Silva.
Não quero, por culpa dele, ter de voltar a papar, em 2011, mais Cavaco ainda, portanto, ele que venha à cena, porque contará, imediatamente, com todo o tipo de tiroteio da nossa parte. Tiroteio, e do feio, do feio, não lindas volutas dos narguilés de Argel.
Tiroteio, daquele que mandava os rapazes Portugueses, mutilados, ou para as fundas valas comuns das terras-chãs, e que ele nunca chegou a conhecer.

Coitado, andava muito entretido a rimar.

(Duo muitíssimo sincero, no "Arrebenta-SOL", e em "The Braganza Mothers" )

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