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sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Escutas III

Imagem KAOS
CD 17, minuto 32, segundo 21 (Da série que o Orelhas de Bode queria mandar queimar)
Zé - … ah, és tu?... Pá, hoje não posso demorar muito tempo, que a Nanda vem aí…
Mano – Ganda seca… Essa gaja ainda não te largou a perna?... Caralho…
Zé – Pá, não sejas assim. Eu sei que a gaja é pegajosa, mas a gente deve-lhe muita coisa, e... olha…
Mano – Já fizeste bem as contas ao que essa merda já te custou?... As notícias compradas nos jornais, as comissões dela, as viagens falsas, os jantares, os bilhetes de cinema, as roupas… o que tu já podias ter curtido com essa pipa de massa… Zé, posso ser sincero?... É nesses momentos é que não te percebo, um gajo quando decide ir numa direção, vai, e pronto, acabou. Tu já ganhaste alguma coisa com isso?... Pensa bem, e vais ver que a resposta é… não. É que se gostasses de gajas eu até te percebia, mas assim não percebo…
Zé – Armando, um político moderno tem de cuidar da sua imagem. Eu não sou o Portas, desde a Covilhã, desde Coimbra, desde Amesterdão, sei lá, desde que me conheço que tentei manter as pontas sob controle. A gaja é pegajosa? Concordo. Custa caro? Concordo. Agora, tudo tem um custo, e a minha imagem é importante. Tu, por exemplo, ficavas na boa se saísses em todas as revistas quando vais comer as moldavas lá do Major?... Não gostavas, pois não?... Eu também prefiro passar uns dinheiros ao Abel, e sai logo na “Lux” e na “Caras” que eu e a Nanda estamos em crise, mas vai retomar, pá, o pessoal acredita em tudo, e não te esqueças de que eu não quero os meus putos metidos nesta merda. A filha do Ferro, quando foi aquela merda da Casa Pia esteve a antidepressivos meses e meses, portanto, Armando, eu não quero isso para os putos, a gaja é paga, lá vem do “Diário de Notícias”, a pé, com aqueles “jeans” muita coçados, os vizinhos todos vêem-na a subir a rua, eu, entretanto, venho no carro com os vidros fumados, mas devagarinho, para verem que sou eu, e a história começa a rolar. Queres melhor?... No outro dia, a minha mãe foi à “Loja das Meias”, e as funcionárias todas receberam-na com carinho e disseram-lhe: “já vimos que a sua nora veio ter com o seu filho…” Mulheres, sabes, mas é nessa onda que eu tenho de apostar. O resto era muito mau, e bem basta o que basta… Vamos na onda das conversas entre gajas.
Mano – E tem havido notícias de Londres?...
Zé – Isso está uma embrulhada do caraças. Os Ingleses bloquearam tudo. Estive ontem ao telefone com o Edward, e ele disse-me que, se for preciso, a mãe faz umas pressões nos sítios certos. Foda-se, maldito o dia em que me meti nessa merda do “Freeport”. Isso só tem dado chatices, e o dinheiro sei lá onde é que já vai… Por cá, já sabes como é, temos feito tudo o que podemos, prego a fundo na Judiciária, compra-se o que se pode, e já negociámos a coisa mais claramente: ou eles travam em Londres, ou nós voltamos à carga com os McCann. Mas essa está jurada, mano, não me chame eu Zé: eles tentam lixar-me, pá, e nós pomos os McCann em cima da mesa. O Júdice disse-me que era fácil, há dois ou três erros processuais, e há as gravações, sobretudo as gravações e os testes do ADN.
Mano – E o que é que o Gonçalo Amaral pensa dessa merda toda?...
Zé- Pá, esse gajo agora conta pouco. Esticou-se muito quando não devia, e também já está travado, mas o grosso da investigação já está trabalhado. Já não precisamos dele
Mano – Custa-me saber que uma mãe…
Zé- Armando, a vida é assim, se não fores tu a gostar de ti, quem é que gosta?... Ou eles, ou nós, e eu escolho sempre nós. Agora, há uma coisa que me anda a preocupar, que é essa cena dos sacos de dinheiro. Essa porra já estoirou lá em cima, com a Fátima, e eu, sinceramente, gostava de ver menos dinheiro a circular. Não sei se percebes... Preferia uma cena mais virtual...
Mano – Isso é o que me preocupa menos. Desde que um gajo não seja visto, não há problema. Olha a Sicília. Não é a mesma coisa?... E os gajos no Brasil?... (risos) Viste aquele que estava a enfiar notas dentro do casaco, das calças e as meias?... (risos) Ganda cena… Parecias tu (risos) no Cova da Beira, mas apanharam-no, o gajo pôs um ar de Pinto da Costa, virou-se para as câmaras, e disse que era para (risos) pagar o “panetone” dos ranhosos das favelas no Natal… Pá, sinceramente, achei genial. Por mim, já pensei, se alguma vez me perguntarem o que é o que vai nos sacos… olha, vou fazer de Santa Isabel (risos)… são robalos, Senhor (risos)
Fim da secção

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