Imagem do Kaos
Há uma teoria que circula pelas mesas de café deste país, que é como Proteu e tem mil faces.
Geralmente, manifesta-se através de uma frase simples que é "mas qual é a alternativa?...", o que é puramente falacioso: neste momento, o importante é fazer a limpeza, e, depois, logo vemos que móveis lá enfiamos dentro.
É como um HBO, mas sem vozes melosas, da pior mediocridade "intelectual" e "artística", a serem subsidiadas por cunhas do Ministério da Cultura.
A versão dois é mais sofisticada, e encosta, quer à Politicologia, quer à Socioaldrabice de Bancada, que é o repetir, até à exaustão, que um dos problemas deste país é a curta duração dos governos, o que os impede de tomarem, ou fazerem, reformas de fundo.
Acontece que este país não tem fundo. E cada dia descobrimos um patamar inferior, ao qual descer, e que mais no envergonha na cena internacional. É verdade que não temos ministros bêbedos, a viram falar para a televisão, mas temos ministros, com ar sério, a aparecer nas televisões, a repetirem discursos impróprios até para bêbedos.
Na realidade, prefiro um governo de curta duração, num país que se prolongue, do que um governo de longa vida, num país de vida curta.
Estamos a viver isso, talqualmente, por muito que vos doa.
Hoje, a caminho de sei lá de onde -- não, não eram saldos, este ano já esgotei os saldos... -- pensei numa solução de compromisso, que até nem seria gravosa.
Jorge Sampaio, um maçónico, que deu, descaradamente, um Golpe de Estado debaixo dos nossos olhos e aplausos, disse que agora era altura de nos agarrarmos aos Órgãos Tradicionais da nossa Democracia.
Suponho que seja uma tosse de tuberculoso, bem à maneira daquele poleiro que lhe arranjaram na ONU: ele é pago, como a Violette, do Dumas, para cuspir sangue todos os meses, e sente-se realizado.
Eu não: é justamente nesses "Órgãos Tradicionais" que nós, cidadãos diferenciados, dia após dia, sentimos que estão alojados os múltiplos carcinomas desta Porcaria, portanto, deveríamos cerrar fileiras, não para os defender, mas para os atacar, mas isso é uma outra história, e, já que estamos no domíno da "petite histoire", hoje, ao encontrar-me com o Coronel Vítor Alves, a primeira coisa que lhe perguntei foi, "meu caro, não dá para fazer... "outra"?...
Se calhar, não dá mesmo, o tempo já nem é lírico, nem épico, e estas coisas tornaram-se mais lentas e mais viscosas, e o nosso permanente martelar cívico talvez seja a possibilidade presente de alimentar revoluções surdas e proceder a reformas radicais, substituindo o rumor de superfície, que nos querem fazer crer ser a Realidade, pelo rumor de fundo, o eco de muitas vozes, que, como uma borracha sonora, apaga, e volta a apagar, e insiste em apagar ainda mais, e coloca no lugar da versão oficial a versão pura e dura, a da nossa lúcida crítica do desvario presente.
Posso concordar, em abstrato, com a teoria da necessidade de presença de um governo que cumpra a sua legislatura, não, na prática, quando esse governo se encontra fragilizado por todo o tipo de violações éticas, profanações constitucionais e atropelos da Carta Universal dos Direitos do Homem, isto, tentando ser vago e apolítico, porque, se mergulhássemos na Política, isto tomaria outro tom, e não me interessa, juro, não me interessa mesmo nada. Prefiro o Carnaval do Brasil, que já está meio arrumado nas minhas bagagens.
Ponhamos, pois, a hipótese de conservar, num processo de Distanásia, coisa de que, em breve, se falará bastante, as figuras, em estado terminal, de Cavaco Silva e José Sócrates. Toda a gente já percebeu que Sócrates está politicamente arrumado, desde o Caso do Diploma, e que o Aníbal é uma pobre figura de opereta, que pensava que vinha arrumar as botas num período de calmaria intermédia, tipo Américo Thomaz, e, de repente, caiu em pleno turbilhão do fim do Mundo Conhecido, um Cabo das Tormentas, para o qual não tem estaleca, já que está física e psiquicamente debilitado, como o correr dos meses vai provar. O país não precisa de violinos, nem de visitinhas a casas de repouso de pessoas da terceira idade, por muito respeito que a Música e a Velhice me mereçam. Quanto ao Sócrates, da Banda Larga, só para as anedotas, para o "Pinócrates", e toda a casta de indignidades a que a figura se presta, e que só vão desgastando as derradeiras reservas morais do cargo.
A imagem da panela de pressão já eu a esgotei aqui: é urgente que rolem algumas cabeças, porque, não rolando, pode entrar-se numa perigosa espiral de violência social, sem rosto, nem objetivo, mas tão-só porque sim, pelo que, já que não rolam os que deviam rolar, que tal fazer umas limpezas catárticas, uns nomes a que nos pudéssemos agarrar, sempre que ligamos a televisão, e que, de repente, nos fossem oferecidos?...
Eu construo essas primeiras páginas, que distenderiam fortemente a insuportável tensão social em que estamos imersos. Vamos à primeira: "Vítor Constâncio apresenta a sua demissão do lugar de Governador do Banco de Portugal (uma boa....)". Outra: "Dias Loureiro retira-se do Conselho de Estado, até estar esclarecida a sua participação nas manobras de bastidores do BPN/Banco Insular. Leonor Beleza, num gesto de solidariedade, acompanha-o na sua retirada... (outra boa...)". Mais: "Paulo Pedroso considera não ser oportuno avançar para uma candidatura à Câmara de Almada (excelente...)", ou, por fim, "Cândida Almeida considera não existirem condições para continuar a sua investigação do Caso "Freeport (maravilhoso...)".
Esta é a minha Oração a São Judas Tadeu...
Claro que é nesta altura que eu, e todos vocês, caímos da cama. Nenhuma destas figuras sairá a bem, porque, por razões evidentes, sabe demais sobre todo o Sistema, e o Sistema inteiro está refém daquilo que eles sabem.
Quando cair um, caem todos.
Só uma intervenção externa os poderia atirar ao chão, ou pior do que isso, apontar-lhes um holofote tal que as conexões lhes fossem radiografadas brutalmente. Aparentemente, é a Comunicação Social que está, metodicamente, a fazer este difícil trabalho de depuração. Em cada fim de semana, tem-nos trazido um excelente prato, sempre maravilhosamente condimentado.
Espero, pois, é claro, ansiosamente, pelo próximo sábado...
(Duo do tlam tlam, em "Arrebenta-SOL" e "The Braganza Mothers" )
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