segunda-feira ● 24horas ● 20/10/08 nacional 07o jornal do cidadão
Freira presa por 50 euros
NÃO PAGOU BILHETE DE AUTOCARRO NEM MULTA E O JUIZ MANDOU-A PARA A CADEIA
Uma religiosa na aproximadamente 60 anos está a cumprir pena superior a um mês de prisão na Cadeia de Santa Cruz do Bispo, Matosinhos, por não ter pago bilhete do autocarro, no Porto, apurou o 24horas junto de fontes ligadas aos serviços prisionais. Um agente da PSP tentou evitar a prisão, mas já havia mandado emitido pelo juiz do Tribunal de Pequena Instância Criminal do Porto para ser presa. “Foi condenada a pagar cerca de 50 euros ou em alternativa em um mês de prisão efectiva e como não pagou dentro do prazo, o Tribunal de Pequena Instância Criminal do Porto emitiu então o respectivo mandado de condução à prisão”, disse a fonte ao 24horas, após o alerta dado por um agente do Comando Metropolitano da PSP do Porto.
O mais caricato é que tudo começou com uma agressão contra a religiosa. Segundo um agente da PSP, que pediu anonimato, “a senhora anda a rezar nos bairros problemáticos do Porto e quer retirar os mais novos das malhas da droga”. Mas, no Bairro do Lagarteiro, um grupo de traficantes não achou graça à religiosa, insultando-a e batendo-lhe, por pensar que era uma “chiba” (informadora) da polícia. “Os traficantes pensavam que a senhora seria nossa informadora, não estiveram com meias-medidas e deram-lhe uma sova”, ainda segundo o polícia. Transportada para a Esquadra da PSP do Lagarteiro, constatou-se que tinha um mandado de condução imediata. “Tivemos de a levar logo para Santa Cruz do Bispo”, disse ao 24horas um agente da PSP. “Não podíamos fazer nada”, acrescentou o polícia.
Missão religiosa, Maria Amélia Guedes integra no Porto uma congregação religiosa, dedicando-se a tentar converter marginais dos bairros sociais do Porto, por sua conta e risco, à revelia dos superiores, apurou o 24horas.“É uma pessoa muito generosa, vai para o terreno actuar e depois acontecem-lhe situações embaraçosas como esta”, segundo fonte ligada à instituição. É oriunda de uma família muito rica de Vila Nova de Famalicão, mas é desprendida de bens materiais. “Dá tudo o que tem e depois não pára, anda de bairro em bairro, entende que dada a sua missão, se não tiver dinheiro, nada a impede de andar dentro dos autocarros para chegar aos que mais precisam”, disse uma guarda-prisional que conhece bem a irmã Amélia. “Não é a primeira vez que isto lhe acontece, mas tantos dias de prisão por tão pouco dinheiro é coisa que não lembra nem ao Diabo”,referiu.Por um punhado de euros.A situação que se vive agora na prisão feminina de S.ª Cruz do Bispo, é em tudo idêntica a outras que já têm sido constatadas noutras cadeias. Em Custóias, a maior do Norte do País, destinada a presos preventivos, têm dado entrada pessoas que nunca tiveram problemas com a Justiça, devido a questões envolvendo dezenas de euros. Penas de multa, por não pagarem o bilhete do autocarro é só um dos exemplos. Mas há pessoas privadas da liberdade, da família e do trabalho, só porque não têm dinheiro para pagar multas relacionadas com o trânsito .“Nem no tempo da ditadura tal acontecia”, disse ao 24horas um agente da PSP que conhece bem o Bairro do Largateiro, em cuja esquadra já trabalhou e está agora colocado na Divisão de Investigação Criminal (DIC) da PSP. ■
Neste blogue praticam-se a Liberdade e o Direito de Expressão próprios das Sociedades Avançadas
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