Eu criei meu blog para falar sobre mim mesmo, mas não me lembro a última vez em que falei sobre mim mesmo.
Há meses, talvez anos, limito-me a comentar, quase sempre, sobre filmes e séries de tv.
Tem algum tempo quero falar de mim mesmo.
Mas é que eu não existo, desde fevereiro de 2007, quando me separei, fiquei louco [de novo] e fui parar no departamento de psiquiatria da Unifesp.
Daí comecei a tomar três tipos diferentes de comprimidos para meu diagnosticado Trastorno Obsessivo-Compulsivo: clonazepam, fluoxetina e risperidona.
Para minha alegria, minha doença é crônica e provavelmente sofrerei de TOC a vida toda, e portanto, vou tomar comprimidos a vida toda.
Nestes últimos dois anos, fiquei trabalhando com ONG, sendo alimentado por promessas como um internado em manicômio é alimentado a pão e água. Em dezembro, anunciei a minha saída da instituição, deixando a todos horrorizados, pois não é de hoje que as coisas, em qualquer lugar, desde os grupinhos de trabalhos escolares do primeiro grau, funcionam graças a minha ajudinha, como se eu fosse um dínamo.
Uma coisa a experiência me serviu. Exatamente isto: dois anos de experiência que me ajudarão a procurar um novo emprego, apesar da dificuldade que é um cara de 38 anos tentar recolocar-se profissionalmente.
As coisas poderiam ser um pouco mais fáceis. Por exemplo, se todo mundo nas minhas várias famílias fizessem tratamento psiquiátrico, quem sabe eu não pensaria em cortar os pulsos, às segundas, quartas e sextas, e me jogar da janela, às terças, quintas e sábados. E dar um tiro na cabeça aos domingos.
O tratamento do TOC, no entanto, me trouxe resultados inesperados. Um deles é ter diminuído minha asma. Pois, como se sabe, asma é uma doença emocional. Eu também vivo dando a desculpa de que não posso fazer isto ou aquilo para não atrapalhar meu tratamento, como trabalhar como garçom. Poder, até poderia. Mas se eu continuar fazendo as mesmas merdas que fiz nas últimas décadas, vou continuar com a mesma qualificação daquilo que defeco.
Uma alternativa ao suicídio é mudar radicalmente minhas vidas profissionais e pessoais. Pessoais é um pouco mais difícil, mas profissional é uma questão de viver um dia após o outro.
A melhor parte de me encher de comprimidos, finalmente, é a chapação.
O remédio que bate mais forte é o clonazepam. Um sedativo muito forte, verdadeiro sossega-leão.
Aguardo ansiosamente a meia-noite, quando ingiro suas duas miligramas, junto com os outros comprimidos. Acho que o clonazepam em associação com a fluoxetina amplifica o barato.
A sensação é de distanciamento da dor e advento do prazer.
Costumo ouvir música bem alta, pois minha caixa craniana transforma-se num clube frequentado só por mim mesmo, sem que eu sinta falta de ninguém por perto.
Algumas horas depois, o sono abate-se violentamente sobre mim e não há o que me faça permanecer de olhos abertos.
Estou escrevendo este texto no auge da chapação. É o nada psicodélico.
Se me prometem continuarei sentindo isto, posso aguentar mais cem anos.
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