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quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Das Oscilações da Bloguítica ao Grande Trauma Inicial, cujo nome ninguém ousa

Neste blogue praticam-se a Liberdade e o Direito de Expressão próprios das Sociedades Avançadas
Imagem do KAOS


Realmente, há dias em que não me apetece escrever coisissíma nenhuma, e os dias, como de hoje, em que sou mesmo forçado a teclar.

A primeira parte vai para a Crise da Bloguítica.

Frequento poucos espaços blogoesféricos, tirando o inevitável KAOS, que pilho, como os Bárbaros pilharam Roma, "Do Portugal Profundo", por razões pessoais, os blogues nos quais colaboro, quando posso, e alguns de referência, que não vou pôr aqui, porque não me apetece.

Ontem, o "Democracia em Portugal" fechou as portas. A equipa do Tiago Soares Carneiro sempre esteve vizinha da nossa, suponho que pelo magnetismo do discurso e pela coincidência dos alvos.

Percebo perfeitamente o argumento do "não vale mesmo a pena...", aliás, de dia para dia, o compreendo mais: o Blogue, na sua expressão arquetípica, e eu não sou teorizador, oscilaria entre um espaço de reflexão, de partilha de emoções, ou de circulação de informações alternativas.

Acontece que, com o correr do tempo, ter opinião sobre qualquer coisa se assemelha, cada vez mais, a uma forma de delito.

É como entrar agora num restaurante, a fumar, se quiserem uma comparação simples.

Realmente, de dia para dia, cada vez mais se multiplicam os olhos de reprovação, sempre que alguém se afasta do "main-stream" do senso-comum. Ora, a nossa equipa, como, suponho, a do "Democracia em Portugal", não era adepta do senso-comum: gostamos de olhar para a Realidade com os nossos olhos, e emitir opinião própria, já que não somos fumadores passivos de opiniões alheias.

Lamento, pois, o encerramento do espaço. De cada vez que um blogue digno encerra é uma grossa parte da nossa Liberdade que é enterrada.


O mais grave da questão, e suponho que Paulo Querido, que já timbrava estas coisas muito antes de nós as descobrirmos, o tinha roçado, ao de leve, questionando o Futuro da Blogosfera. Na altura, senti algo parecido com o Escândalo, quando se falou de "profissionalização". Todos nós, elite da Blogosfera, temos uma ou mais vidas para além destes textos. Quando, quase diariamente, por apreço para com os meus colegas e leitores, aqui me sento, para recriar o "Arrebenta", uma ficção da Net, já o seu autor teve um dia longo de ser humano, e este produto é uma emanação gratuita de um processo catártico, que, é, de algum modo, uma novidade, em termos de partilha de meio, e de emoção e discussão intelectual.

Ora, eu não sou, nem pretendo ser, um profissional. Se quisesse ser, faria como muitos fazem, avidamente à porta das edições virtuais dos jornais e televisões, a pôr-me em bicos de pés, a ver se reparavam em mim, e me arranjavam um cantinho aconchegado na Lógica do Sistema, ou faria, como há quem faça "publicar", em livro as suas divagações, e diminuir o tamanho do Sonho.

Acontece que não me apetece nada disso: quando quiser o livro, faço-o pela Editora, se quisesse ir ao jornal -- não quero -- candidatava-me. Em contrapartida, enquanto isso me der prazer, a mim e aos meus leitores, continuarei a escrever, especifica, una e exclusivamente, PARA AQUI. Um pouco como a Arte Efémera, se, um dia, apagarem as luzes, pois que desapareça tudo: não é por não terem deixado vestígio algum que os Jardins Suspensos de Babilónia não continuam a fazer sonhar a Alma Humana. Pois que sonhem.


Num outro ponto, muito se insurgem certas cabeças fracas sobre o "anonimato", quando, no tempo dos pais, dos avôs e dos bisavôs, por toda a parte proliferava o... "anonimato".

Distingamos, pois, o "anónimo" do "anonimato". O anonimato, muitas vezes obtido através de um pseudónimo, é um modo literário clássico de certas figuras da Intelectualidade -- caso que nos interessa -- exporem mais livremente as suas ideias. No ponto mais elevado, podemos chegar à Heteronimia, ou criarmos mitos sem rosto. Lembro-me de a minha avó me falar do Inspector Varatojo, que alimentou anos de programas radiofónicos, que nunca ouvi, mas suponho que fosse totalmente indiferente saber quem era, ou não, o Inspector Varatojo, e se se chamava Silva ou Durães. Geralmente, o que acontecia, é que quando a célebre ficção era convidada para entrevistas televisivas ou afins, era... uma triste decepção.

Deixemos, pois, os mitos no espaço dos mitos.

O "anónimo", em contrapartida, é alguém cujo estilo se distingue pela negativa, muitas vezes, por nem estilo ter, ou viver agarrado a uma obsessão qualquer, que ninguém percebe qual é, mas que ele julga dever ocupar toda a Plateia do Mundo. Polui e não cria.

O anonimato produziu grandes textos, o anónimo é como o caruncho: só serve para roer pés de cómoda, até que um dia a cómoda lhe caia brutalmente em cima, com o peso todo.


A parte política é mais corriqueira, e vem no seguimento de algo que não concluí atrás. Por um processo curiosamente darwiniano, aconteceu, em Portugal, que Notícias e Blogues se entrosaram: o blogue vive, numa percentagem elevada da sua massa, da emissão de opiniões sobre matéria informativa "do dia": o "blogger" é o comentador alternativo, e tem todo o direito de o ser. O reverso da medalha, menos assumido, e menos evidente, é que a formação da Notícia, ou, muitas vezes a oportunidade da sua entrada em cena, também deriva da enorme maré do que se passa nos blogues. Acontece que hoje, nos inícios de Setembro de 2008, com os mecanismos de auto-censura, com as intervenções do Poder Político, com a manipulação dos factos, nos encontramos num estado tal que parece um microcosmos da situação do País: nenhuma notícia nos empolga comentários maiores, nem nenhum texto nosso desencadeia agora uma enxurrada de notícias.

Talvez esse seja um dos sintomas mais preocupantes do apodrecimento da Opinião Pública e da Sociedade Civil Portuguesa.

Paz Podre.


Tanto quanto parece, Aníbal, que não foi eleito, nem nunca será, com o meu voto, para o que quer que seja, mas a quem os Portugueses, num acto de suicídio colectivo, atribuíram a Presidência da República, deve ter sido avisado, pelas forças que o sustentam, de que era altura de começar a puxar as orelhas a Sócrates. Acontece que, ao contrário de Aníbal, Sócrates foi eleito, num processo de equívoco de que muitíssimo nos arrependemos, com o MEU voto, logo, para o bem e para o mal, eu tenho uma quota parte na sua actuação, na sua crítica, e, neste caso -- pasmem-se... -- na sua defesa.


Não reconheço ao Sr. Aníbal, a quem Portugal nada deve, excepto ter-nos, há 24 anos enfiado na Cauda da Europa, e ter permitido a manutenção das condições para que, de Cauda de Doze, nos venhamos, mais dia menos dia, a converter em Cauda dos Vinte e Sete.


Há um grave precedente na sua actuação que foi o golpe palaciano que o maçónico Sampaio deu contra um Governo de Coligação, com Maioria Absoluta -- no qual não votei, como também não votei nesse segundo mandato de Sampaio... -- mas que representava a vontade de muitos Portugueses.


Desengane-se: com todos os seus defeitos, o sr. Aníbal não fez nada pela implantação da Democracia em Portugal, tudo permitiu para que o Estado se tornasse totalmente dependente do exterior, e foi o coveiro da Agricultura, das Pescas, da Economia, da Educação e da Cultura.


Aníbal Cavaco Silva é o Epitáfio negativo do Povo Português, enquanto Nação.


Os únicos solavancos nervosos que lhe concedo são ESTES.

Eu, que não sou crente, todos os dias rezo para que lhe volte a dar, em público, um desses ataques, para que as nossas gentes percebam quem têm à cabeça do Estado...


Sr. Aníbal: se está com ideias de pôr na rua o Sr. Sócrates, para forçar uma entrada em cena antecipada do seu horror ressequido, desengane-se: no estado em que estão as coisas, o Senhor põe o "Ingenheiro" na rua, e imediatamente lhe aparece também na rua qualquer coisa que talvez não espere, e bem pode transpirar das suas mãozinhas, que talvez não tenha, desta vez, "marquise" nem carro blindado atrás dos quais se esconder...


Este texto, hoje, vai ficar por aqui, porque já é demasiado extenso, mas é só um começo. Haverá mais, mas, hoje, por aqui ficamos.


Um sincero desejo de uma boa noite de pesadelos, deste heterónimo que tanto desprezo por si nutre...

4 commentaires:

Kaotica disse...

Muito pertinente, que venham os próximos!
Se eu achasse que eras pessoa para aceitar encomendas, pedia-te para incluires no rol um texto sobre o o Grande Trauma que nos Trama (UE), cujo nome também (quase) ninguém ousa afontar.

katrina a gotika disse...

«nenhuma notícia nos empolga comentários maiores, nem nenhum texto nosso desencadeia agora uma enxurrada de notícias»

Gostei tanto que até pilhei. Grande texto sobre a blogosfera e a informação.

e-ko disse...

ao que temos de chegar... defender um boneco de plástico contra um boneco de lata que nos quer impingir uma boneca de palha!

os nossos médias são a maior porcaria que existe e os seus actores ainda nos vêm encher com a blogosfera profissionalizada... este país não tem pés nem cabeça... nem públicos capazes de separar o trigo do joio em matéria de informação nem de cultura!

olha, beijinhos! vou passando e lendo, mas já estou quase como o Tiago!

Arrebenta disse...

Quase toda a gente está como o Tiago... :-\

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