Querida Lola:
Acho que estou com "stress" pós-traumático... de cada vez que ligo a televisão, só vejo as coisas a desfazerem-se, bancos a falirem, gente honesta que afinal não era honesta... meu deus, tinha 10 acções na Panificadora Irmãos Sabrosa, SA, já as vendi este semana, e fui buscar 100 € que tinha depositados para uma emergência na Caixa Geral de Depósitos, e já os escondi, bem escondidinhos, dentro de uma cafeteira... Esses já ninguém me tira, mas... querida Lola, precisava tanto de uma palavra sua para me acalmar...
(Laurentina Matracolas, Pinhal de Frades)
Querida Laurentina:
Vir pedir conselhos de Economia e Finanças a uma puta de esquina, valha-me deus, isso é o sinal de que chegámos mesmo ao fim dos tempos, mas a menina talvez tenha razão, porque esta semana foi um desfilar sem fim de putas de esquina, que vieram falar com ar sério para a televisão. Olhe, querida, eu de acções percebo pouco: sou mais uma traveca de acção do que de acções. Se me perguntar se a Crise Financeira está a afectar o Conde Redondo, teria de lhe dar uma resposta como a do especialista em Negócios da SIC, aquele jeitoso do Gomes Ferreira, a quem eu fazia um servicinho de graça... sim, e não. Está e não está a afectar. Como sabe, tenho dois tipos de clientes, aqueles que pairam acima de qualquer crise, e aqueles que vivem permanentemente em crise. Os segundos não falham uma noite, e lá se faz um pequeno desconto, temos de ser uns para os outros. Os primeiro... até têm mais tesão, sempre que o barco começa a balançar, e passam aqui, com ideas de porcarias sexuais que eu nem me atrevo a descrever-lhe, para não ficar mais chocada... sim, juro... Sábado passado, apareceu um, que tinha perdido tudo na Lehman Brothers, levou-me para o vão de escada do nº 56, e disse "come-me, como se fosse a última coisa que fizesses na vida, minha puta!..." Eu esse discurso já conheço de antes da crise, aliás, é velho como o Mundo, tinha aqui um cliente que vinha para ser comido por mim, sempre que a mulher engravidava. Não percebo o que é que a gravidez de uma mulher pode levar o esposo a querer apanhar nas bordas, mas desde que pague, faço as vontades todas. Sábado passado, foi diferente, estava eu a cuspir na mão, para lhe meter o meu clit hipertrofiado no ânus, comecei no vaivém, ouço um estouro, apanhei um susto, fiquei toda espirrada de sangue, era ele que tinha acabado de dar um tiro na cabeça, até a velha do terceiro esquerdo, que é surda, veio à porta, e foi uma vergonha, uma vergonha, uma vergonha... Quanto ao resto, vamo-nos aguentando: a minha colega Zélia, de Mato Grosso, muito amiga da Felícia Cabrita, e que atacava na esquina da "sex-shop", no outro dia, passou um carro do Primeiro Comando de Portugal, acho que tinha umas dívidas da Coca, deram-lhe um tiro, mal lhe levaram o corpo, fiz o que os bancos fazem uns aos outros: antes de que viesse a concorrência, ocupei a esquina dela, e agora "ataco" em duas frentes, oh, oh!... Quanto ao dinheiro no banco, querida, quando isso valer ZERO, tanto se me dá que esteja nos cofres deles como no meu colchão, por mim, a minha política é antiquíssima, sempre que faço o serviço, o meu banco é, sempre foi, o rego das minhas mamas, onde eles enfiam as notas... É por isso que eu sou Ferreira-Leitista: a bruxa diz que o casamento é para procriar, eu acho que as mamas são para depositar, com este pensamento positivo comum, até acho que nos podíamos já coligar e ser o próximo governo.
Kisses.
1 commentaires:
Mas quando é que estas crónicas viram livro para ser distribuido no plano de leitura
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