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terça-feira, 20 de outubro de 2009

Biberons do Indostão


Neste blogue praticam-se a Liberdade e o Direito de Expressão próprios das Sociedades Avançadas


O Steve era um latagão americano, do Texas. Quase um metro e noventa de altura, musculoso como o Rambo, cabelo comprido louro e pelos ombros. Rude na fala, mas simpático e muito terra-a-terra, precisamente o contrário daquilo que hoje se conhece por comunidade gay e que tem tanto interesse como escarrar na sopa. Veterano da guerra do Vietname, foi condecorado por bravura em combate, embora a fotografia com a tal estrela prateada não fosse muito impressionante. Uma coisa é vermos um alemão ou um inglês de uniforme, ficando logo a saber que aquelas cruzes de metal tiveram um significado. Os americanos são outra coisa, porque por mais valentia gabarolada, tudo soa muito a falso. As medalhas são rascas e parecem ter saído numa rifa de feira Os uniformes são mais próprios dos gajos de empresas como a Securitas do que farpelas de heróis de combate. Cheiram a fake que tresandam. Lembram-se do capacete prateado do Patton e das pistolas de cowboy à cintura?
O tal gigantesco veterano começou a sua carreira de ordenhador em plena selva vietnamita, quando apinhada em buracos húmidos, quentes e cheios de insectos, a soldadesca foi encontrando formas de passar o tempo, chupando charros de erva ou pilas de colegas. Nisto, o ócio dos magalas de todos os tempos acaba por encontrar certos pontos comuns, até porque segundo consta, durante a nossa guerra colonial, muito pescoço enrijou de tanto esforço muscular acima-abaixo.
Pelo que o G.I.dizia, o primeiro na lista foi um aliado do Vietname do sul que o abocanhou e a insistência foi tanta que o Steve, desconfiado, também quis experimentar. Disaster! O resultado foi o que todos calculam e a partir daí, o matulão passou a despachar a unidade inteira, fossem os fornecedores de víveres wasps, jungle-bunnies, chinks, dagos, spics ou índios. Ele queria lá saber se eram gordos ou magros, bonitos ou feios! Infelizmente acabado "the best time of my life", regressou aos USA, onde descobriu coisas que até aí lhe tinham passado ao lado, passando a bater todas as esquinas, parques e chichis públicos. Depósito atestado numa época de escassez de combustível, lá voltava a casa para dormir umas horas. Não fazia a ponta de um corno, porque teve a sorte de receber um balázio numa coxa e outro no ombro, motivo mais que suficiente para se tornar num aldrabão "inválido de guerra", com uma pensão que lhe dava e sobrava, para nem sequer falarmos no seguro.
Foi-me apresentado por um amigo e após uma semana em Lisboa, lá veio com o estafado ram-ram do how fantaaaaastic Lisbon is, the best food, the best clima, the best dicks (?!). Alto lá e para o baile! Pensei que estava a ouvir mal ou que se tratava da cretinice típica dos yankees que estão contentes com qualquer coisa que ponham na boca, desde que seja salgada. Sem querer acreditar, perguntei-lhe como podia achar fantastics as dactilógrafas diárias de sítios como o Bric, Trumps ou Finalmente? Riu-se e esclareceu-me de que jamais tinha posto as patinhas dentro desses locais de tortura. Explicou então que se tinha especializado nas actividades de águas correntes, ou seja, nos chichis públicos. Para quem tinha chegado há poucos dias a Lisboa, o gajo sabia dos sítios de cor e salteado. Para mais, já vinha bem sabido dos USA, porque o famoso roteiro gay lá tinha tudo tintim por tintim.
Contou-me que só nesse dia, tinha abocanhado 26 enchidos nacionais. Nem quis acreditar (ainda hoje me custa a crer) e perguntei como é que ele tinha arranjado um número tão grande de tipos bons, ainda por cima nos "Ó"rinóis?
- Yeaaaah, you know, I'm just interested in dick, who cares about beauty?
-?
- If they are hard, I don't give a fuck if they're small or big, clean or dirty, young or old! They must to be full of milk, that's all!
Fiquei a saber que no chichi da estação fluvial do Terreiro do Paço, atacava logo bem cedinho pela matina, à coca da gandulagem que se aliviava antes de ir para o serviço. As manhãs passava-as ali, quase até à hora do almoço, momento em que ia logo a correr para a estação do Rossio, onde no último andar existia outra sala de ordenha muito conhecida e frequentada por distraídos passeantes que lá faziam uma perninha antes do regresso ao merdoso escritório na Baixa. O Steve não só mamava tudo, como ainda por cima, enchia o estômago! Garantiu-me que nem sequer precisava de comer durante o dia e a única coisa que sorvia (além dos produtos lácteos) eram Coca-Colas que o mantinham apto a arrotar e a adocicar-lhe o paladar. Este gajo era um fenómeno da natureza, até porque na época, a ordenha até ao fim podia (e ainda pode) muito bem ocasionar os contratempos que arruinaram tantas vidas felizes. Mas não, o Steve tinha um estômago de aço e completamente impermeável a qualquer vírus atrevido (1). Gostava mais ou menos de chouriços ligeiramente spicy with cheese, como ele dizia. Quer dizer, aquilo que dá vómitos à maioria, para ele era um manjar, saindo da sua boca limpinhos da Silva como há dez dias, a última vez em que tinham visto água e sabão macaco. Incrível, mas verdadeiro e chegou a bater recorde atrás de recorde. Pelas contas que fez na última noite que cá passou (fomos jantar ao Bairro Alto, onde ri até me cansar), o mês que cá esteve, foi suficiente para despachar mais de 600 enchidos nacionais, numa época em que a comunidade brasileira ainda não tinha descoberto as praias de onde saíram os antepassados. Mas o que mais me surpreendeu foi a aberta polivalência deste G.I., porque à noite, estando os sítios fechados para descanso, lá ia ele até às vacarias da Almirante Reis, onde arranjava umas duas putas só para a trombada!
Voltou cá mais umas vezes, batendo o Forte do Queijo e as estações da Campanhã e S. Bento no Porto e um ou outro apeadeiro da linha do norte. Mas a partir de um certo momento, com o imbecil pequeno-aburguesamento dos PS-PSD, as salas de ordenha onde tanta geral deu, foram fechando umas atrás das outras, nesta luta pelos bons costumes que as nossas autoridades passaram a praticar após a chegada ao poder. É que estes invejosos tornaram-se em caras conhecidas e com peruca ou sem peruca, com valise ou sem valise, com calhambeque ou bólide, eram logo reconhecidos e chulados, acabando por aparecer no Crime ou no Jornal do Incrível. Já que não podem foder nem mamar, zás!, acabam com o frú dos outros.
O Steve desistiu de Portugal e pelo que amigos comuns contaram, hoje vive feliz e contente na Índia, terra de todas as oportunidades e crenças. Alterna as costas a percorrer, ano sim ano não. O truque é sempre o mesmo. Logo de manhã vai ao povoado mais próximo e troca um punhado de dólares por moedas de uma Rupia. Dirige-se à praia e vai andando, andando, até encontrar uma aldeia de pescadores que estando em terra por causa da monção, não se ralam nada em receber uma moeda em troca da dose de leite a fornecer ao sedento estrangeiro. Despachados avós, pais e netos (às vezes em grupo), lá segue o seu caminho, tal e qual o novo judeu errante dos finais do século XX. Passa a noite numa espelunca qualquer e na manhã seguinte lá está ele praia abaixo, à cata de outra comunidade piscatória. E assim por diante, durante uns largos quatro meses por ano. Na campanha seguinte, troca de costa e lá começa a odisseia, descendo-a e visitando vilórias onde já tinha passado há dois anos.
Sabem como é que ele me descreveu a chegada a cada povoado? Disse-me que se lembrava sempre daquele filme do Indiana Jones, O Templo Perdido. Na cena final, quando estava a chegar à vila para devolver as pedras divinas, lá se via uma correria de monhés aos pulos, saltando dos coqueiros e dos altares em ruínas, numa mistura de Mogli com com uma final de futebol: correndo e guinchando como possessos, chegavam os Singhs, Priankas, Jalals, Abhijays, Chitramutras, Devashishs, etc. Era uma correria, de risos e gritos de boas vindas. O dia estava garantido e à noite, à volta de uma fogueira na praia, lá emborcavam todos uns paparis e um caril de peixe, mais que próprios para estimular o organismo na produção do precioso néctar de que o estrangeiro tanto necessitava.


(1) Não tentem fazer isso em casa de ninguém, nem no jardim, nem no lavabo do centro comercial. Não é aconselhável.


1 commentaires:

Arrebenta disse...

Parabéns :-)
Texto lapidar

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