BlogBlogs.Com.Br

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Nota da Administração

Neste blogue praticam-se a Liberdade e o Direito de Expressão próprios das Sociedades Avançadas
"The Braganza Mothers" continua a ser um espaço divertido: somos como a Maria João Avillez, por aqui já passou tudo até os elétricos.
Acontece que, como por aqui, realmente, passa muita coisa, não há tempo a perder com minudências. Nos últimos dias, as caixas de comentários têm-se tornado num espaço bastante cómico, nomeadamente, com o pretexto de dois vídeos ridículos, colocados no "Youtube". Para quem nos tem acompanhado, ao longo destes anos, adoramos vídeos ridículos. Gostamos menos, quando se descobre que têm por detrás o dinheiro dos nossos impostos, mas paciência, isso é uma investigação para jornalistas, que poderão lançar o tema para o debate público, onde seria francamente salutar: a tarefa não é para nós, que apenas alertámos para o escândalo, e aqui cessámos o nosso papel.
Somos um país estranho: ganhamos fortunas em "Cultura" e não conseguimos que nada, senão franjas, sob essa designação, atravesse as fronteiras, se exceturamos a peregrinação das capelinhas, aquelas que o pior Juiz da Estética demole, ano após ano, década após década, século após século, remetendo-a para o Ruído da Criação.
Há uma síndroma de desfocagem, gerada na própria entropia da História da Arte, quando lida retrospetivamente, que é a de se pensar que aquilo que hoje chamamos o Espírito do Tempo já era o Espírito do Tempo de quem lhe foi contemporâneo. Eu explico: para o público incauto, eras como o Cubismo, Picasso, Pollock, sobretudo Malévich -- pobre Malévich... -- ou o desgraçado Artaud, para já não irmos a Sade, ou a uma multidão de desgraçados que viveram afundados no génio e na pobreza, são muitas vezes identificadas como períodos em que o público consumia aquilo que a cronologia deles fazia contemporânea. Isso é totalmente falso: no tempo de Picasso, ou de Van Gogh, o que a multidão adorava era uma plêiade de nomes esquecidos, os nomes da moda e da Academia, que nem sombra deixaram entre nós, e felizmente, porque no campo da CRIAÇÃO, coisa extremamente frágil, não existiam.
É mau haver um país onde se vive de balões artificiais de subsídios. Esta pseudo-polémica serviu para alertar os nossos leitores, sobretudo os da Comunicação Social, que diariamente nos consultam, para um fenómeno porventura mais perverso do que os escândalos dos BPNs e coisas afins, que são aqueles fluxos contínuos do dinheiro do contribuinte para bolsos de só deus sabe quem, com o pretexto de financiar, enfim... "Arte".
Há um princípio, que vem de Oscar Wilde, que diz que a boa arte não suporta explicações, ou é boa, ou, se precisa de ser explicada, não é Arte. Por isso, a boa Arte também não se financia, faz-se, e uma vez feita e destacada da imensa massa de lixo "cultural", pode, então, apoiar-se. A isso chama-se Politica Cultural, coisa que Portugal, ao contrário das nações civilizadas, não tem. O subsídio, o momento mais baixo do compadrio, raramente elege o relevante, e debruça-se, morosa e demoradamente, "as nauseam", sobre o fraco, o fraquinho e o à justa.
O problema é bastante semelhante à decapitação dos talentos, na Política: para que um medíocre possa ocupar o Topo, é necessário que vá hierarquizando, por ordem decrescente de "faiblesse", o talento, porque o surgir de alguém iminente, imediatamente poria em risco toda a frágil pirâmide de "fakes" e fantasias. Ou seja, um medíocre de topo tem de apoiar gente cada vez mais medíocre, que possa colocar abaixo de si. O culminar de tudo isto, que não é mais do que uma apoteose negativa, é o declínio cultural de todo um País que já foi grande e outrora ditou modas ao Mundo. Culturalmente, tornámo-nos num subproduto dos dejetos americanos, e dos restos que os Franceses decidiram deitar fora. Somos a vergonha da Península, o motivo de paródia de "nuestros hermanos", para não ir mais longe. A tática é sempre a mesma: como não suportamos o contraponto da oposição, e vivemos imersos num narcisismo de subúrbio, tapamos tudo, crítica de arte, canais de comunicação e concorrentes, e, sobretudo, evitamos o Exterior.
O Exterior, ao longo da História, foi-nos sempre insuportável, porque nos dava uma bitola da nossa insustentável mediocridade.
O tempo presente faz-me sempre lembrar um meu professor de História de Arte, que, em pleno Modernismo Brasileiro, contava que nós enviávamos, para a Bienal de São Paulo, umas abóboras novecentistas, pintadas num topo de um telhado (!). Passaram trinta e tal anos sobre o fim do Estado Novo, e estamos em pleno Estado Velho: continuamos a enviar para Berlim e Veneza as mesmas abóboras, mas agora disfarçadas de opacidade, pretensões e vozes enjoadas.
Ah, um pormenor: Andy Wahrol dizia que todos teriam, um dia, direitinho a uns quinze minutinhos de fama. Nós fomos mais generosos, deixámos que o nosso espaço servisse, nas caixas de comentários, para o espojar de tristes realidades. Esse período de tolerância terminou inexoravelmente, às 00.00 h. de 21 de Janeiro de 2009.
É a vida.

0 commentaires:

Protesto Gráfico

Protesto Gráfico
Protesto Gráfico