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sábado, 15 de maio de 2010

Adeus, Ratzinger

Neste blogue praticam-se a Liberdade e o Direito de Expressão próprios das Sociedades Avançadas

Imagem do KAOS

Deus foi moderno e generoso, com Portugal: não ao fim de sete, mas de quatro, dignou-se puxar o autoclismo, e terminar com o gorgulho, no sifão.
Agora, que a coisa acabou, e posso voltar a respirar, confesso que tinha, pendurado, nesta parede atrás de mim, um cronómetro, que, segundo a segundo, me dizia quanto mais tempo ainda iria durar esta insuportável náusea.

Fez-se o vómito, e a náusea foi-se, mas por cá deixou semente.

Comparável à vinda de Ratzinger a Portugal, só o episódio das Bodas de Canãa, em que, sentada à mesa, quando questionada a Galileia Câncio se mais vinho havia, os servos lhe encolheram os ombros, dizendo que vazias estavam as ânforas.
Cristo era um pragmático, como em tudo, e, para evitar o que milénios depois aconteceu a Maria Antonieta, não se atreveu a dizer aos convivas que papassem brioches, mas foi à medicina homeopática, onde, como toda a gente sabe, basta que haja um cheirinho do princípio ativo, que, mal se misture coma água, reganha toda a sua alma e essência, e fez passar por vinho água de lavar garrafas. A verdade é que foi milagre, e as pielas de Canãa não só satisfizeram a gente reles que por lá andava, e que empochou litros e litros de água, convencidos de que se tratava de Dão Meia Encosta, como passou para a História, como exemplo de como fazer muito, sem quase nada.
Evidentemente, os tempos eram outros, e Ratzinger, que está visivelmente muito mais para lá do que para cá, e que, desacreditado mundialmente, teve de se vir banhar, para renascer, como um leproso, no Ganges do povo mais ignaro da Europa, veio à nossa Canãa para transformar o pouco vinho que ainda havia em água da mais choca, enfim, diretamente engarrafada da Ribeira dos Milagres, em dia em que o Dias Loureiro está de soltura.
Tivémos vários milagres, o primeiro, o do Benfica, que dançou, como um solzinho, a anunciar que o Papa vinha cá; depois, Ratzinger chegou mesmo, sem ter sido necessário desencadear o "Plano B", já com Aura Miguel ajeazada, e de sela no lombo, caso a Islândia se lembrasse de vomitar a sua bancarrota, na forma de cinzas vulcânicas, e fazemos aqui uma pausa de solidariedade, porque o relincho que Aura Miguel soltou, quando soube, que, afinal, não ia ser montada pelo Papa, entre Roma e Lisboa, é memorável, é uma coisa linda, e brevemente disponibilizarei o mp3 que conseguimos gravar: é algo entre aquela gravação mono da Callas, na "Casta Diva", e a gargalhada que a Clara Pinto Correia solta, naquele dia em que foi fazer de hipopótamo ao "Dança Comigo", enfim.
O segundo milagre, mais profundo, foi pôr um país laico, republicano e socialista a preparar merendas para um líder espiritual de uma seita, atualmente duvidosa, e gastar uns centavos, para mostrar que, apesar de pobres, continuávamos servis e honrados. Eu, um romântico, à espera de que o outro, mal pusesse os Pradas em Figo Maduro, fosse algemado, e levado para a Judiciária... não, toda a gente ajoelhou, beijou o chão, e mostrou que era crente, coisa que nos fica bem, e é incomensurável com o tratamento abaixo de cão dado ao Dalai Lama, que, saiba eu, nunca fez autos-de-fé, nunca andou a anatemizar abortos, perseguir bonzos bichas, nem a encavar criancinhas,
ah, sim,
esse foi o Terceiro Milagre, e, eventualmente, o melhor de todos, porque ficou explicado porque é que meia Classe Política, Industrial e Cultural não tinha sido indiciada no "Casa Pia"... não, não era milagre do Tribunal da Relação, mas a Santa com Cara de Saloia que tinha chamado o assunto diretamente a si. Parece que se sentou em cima de uma azinheira,  e, enquanto o solzinho dançava, foi riscando a lista telefónica toda, até só ficar o nome do "Bibi".
"Este fica", disse ela, e assim se fez, e Deus viu que era bom.

Portanto, ficámos a saber que a Pedofilia fazia parte do Terceiro Segredo de Fátima, e, agora, sou eu a lamentar que a visita de Ratzinger tenha sido visita de médico, porque, bem conversada a coisa, e ouvido Vítor Constâncio, também o BPN e o BPP teriam sido encaixados no Terceiro Milagre, e mais a "Independente", a "Moderna", o "Freeport", a Maddie, o "Furacão", o "Apito Dourado" e até, por que não?, o negócio "PT/TVI".

Acho que isto é um pouco Parménides: no fundo, tudo se pode incluir no Terceiro Segredo de Fátima, e devíamos ter aproveitado a boleia, embora os nossos ilustres comentadores devam perceber a mensagem, e juntar às justificações de tudo o que é injustificável, em Portugal, em mais uma categoria, para além das causas naturais e dos milagres da fé, que são agora as coisas devidas aos "franchisings" do Terceiro Segredo.

Como diriam os Brasileiros, bem larga deve ser a buceta do Terceiro Segredo...

O restos são rodapés: Ratzinger, que já não consegue distinguir uma barata de um anjo de Rafael, lá levou umas caixas de doces de ovos e umas fitas do Bonfim, fabricadas em Boleiqueime. Não sei como se diz Boliqueime em Alemão, mas deve ser tão foleiro como em Português, e foi lindo ver aquele Presépio, o Jumento presidencial, a vaquinha corcunda e as crias, em duas gerações de palhinhas, a serem apresentadas ao cota, responsável por 50 anos de divórcio entre a sociedade civil e as aberrações dogmáticas de um bando de jarretas pedófilos e de consciência pesada. Só faltou a estrela e os Reis Magos, mas Don Juan Carlos estava internado, e o Estrela da Amadora recusou-se a vir participar em vergonhosas teatradas.
As pontes foram lindíssimas e houve duas tolerâncias de ponto a suportá-las, com a contrapartida de se deixar cair a terceira travessia do Tejo, e regredirmos ao tempo do "nós cá somos mais modestos", do Maior Português de Sempre, enquanto se aproveitava o Benfica e o Ratzinger para um ensaio geral do que vai ser o atirar de Portugal para condições de vida equivalentes às de meio século atrás.
Pequeníssimo milagre, foi ter-se perdido a tusa de adjetivar e insultar Sócrates: Sócrates parece agora uma vela castanha, meio derretida, daquelas da bruxaria de Fátima, e o mais espantoso, não sei se é milagre, se o solzinho a dançar, cheio de ecstasy, é que está tudo flácido: Sócrates, o Partido, ou a sombra de partido que ainda se encosta nele, e a sombra de uma sombra, que é um outro partido, chamado PSD, que, em dois meses, se converteu na mera muleta da muleta de Sócrates. Passos Coelho, um crente, aprendeu, com Ratzinger, a pedir perdão, e suponho que, doravante, sempre que sejamos estrangulados, a retórica política, falsa e obscena, passará a ser substituída por uma coisa bem mais afetuosa, que é  o Perdão: perdoa-me diminuir-te o salário, perdoa-me continuar a pagar balúrdios ao monhé Zeinal Bava, perdoa-me ter deixado ir Constâncio para o BCE sem ter sido vergastado primeiro, perdoa-me não ires ter Subsídio de Natal em 2010, perdoa-me, enfim... etc...
Portanto, não sei mais o que dizer, mas queria fazer um elogio à Igreja Portuguesa, visivelmente cismática, e ao nosso Cardeal Patriarca, que teve a ombridade de votar contra a eleição de Ratzinger, e que continua a amparar, na sombra, o enorme desastre social, iniciado pelo Pai do Monstro, Cavaco Silva, e vivido agora, pelo Monstro do Filho, Sócrates, e deixar, ainda, dois mimos: o primeiro, para o Camarada Saldanha Sanches, a quem dediquei o minuto de silêncio em que vocês têm estado de boca fechada, a ler os horrores que eu escrevi atrás; o segundo, para o meu poetrastro preferido, um carrapato chamado Manuel Alegre, a única coisa que ainda insiste em andar em bicos de pés, num pântano onde já só se vêem olhos e pontas de cabeças, como no Inferno de Dante. Parece que a criatura, o grande democrata, o generoso, o livre pensador, o regenerador da Coisa Podre, quer iniciar a sua desgraçada descida ao Hades, com um processou generalizado (!): odiou que se tivesse lançado, na Net, o boato (?) de que se punha, com a sua voz avinhada da Rádio Argel, a revelar, aos terroristas escarumbas, onde estavam as tropas portuguesas. Na altura, li a história e achei divertida. Achei que, mesmo falsa, até se enquadrava bem no percurso de um medíocre, que chamou ao criminoso internacional, José Eduardo dos Santos, Presidente dos sem pernas e com minas, o "Afonso Henriques Angolano".
É pena não existir Deus, porque devia ter-te caído imediatamente um raio em cima, ó meu pobre rimador de rimas feitas, mas não te preocupes, porque estás bem a jeito, e muito a tempo.
Contas feitas, talvez até faças, também, parte do Terceiro Segredo de Fátima...
Keep it cool, baby :-)

(Quarteto pagão, no "Arrebenta-SOL", no "Democracia em Portugal", no "Klandestino" e em "The Braganza Mothers")

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