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segunda-feira, 18 de maio de 2009

Lisboa, a Idolátrica, passeia por Almada o seu estertor

Neste blogue praticam-se a Liberdade e o Direito de Expressão próprios das Sociedades Avançadas
Imagem do KAOS

Dedicado à Vanessa, um dos ícones do Martim Moniz, ao Jorge Oliveira, para animar, e ao Sr. R., de quem proveio a melhor parte desta fábula


Este fim de semana, um caco de porcelana veio visitar um mamarracho de betão armado, e toda a gente achou isso natural, num Mundo do Vigésimo Primeiro Século.
Eu sei que o que o berço dá a tumba o leva, e com ela irá o meu enorme desprezo pelos Três Monoteísmos, que já provocaram mais guerras, morte e sofrimento do que todos os outros flagelos da História juntos.
Como todas as histórias de miséria, há, todavia, sempre laivos de grandeza, enquanto agora se enterram as cinzas de mais uma de muitas provas de menoridade lusitana.
A primeira, foi a saída da procissão, da Igreja dos Anjos, na qual a Vanessa quis estar presente, para receber, em cheio, a luz da Senhora.
A Senhora interessa-me um corno, mas a Vanessa, por acaso... não.
A Vanessa tem coisas muito particulares. Não sei quanto mede, mas irá pouco além do metro e vinte. Tem uns pés de boneca e uma alma de criança, só o peito é de mulher adulta, e é de aí que começa a sua deriva do mundo. Suponho que, abaixo da mulher porca, só exista o pior da sexualidade do homem torpe, e o seu nome é Legião, pelo que, sendo a Vanessa da altura da minha cintura, é da altura da cintura de muitos homens da esquina escura. Faz, diz-se no meio, o infinito sucesso dos cabo verdianos de grande estatura...
Há uma teoria que diz que a sexualidade do macho é geralmente cobarde, pelo que se multiplica em debruçar-se, numa monótona estatística, sobre seres mais fracos, mulheres, anciãs, crianças e animais, raramente se atrevendo ao desafio de dominar outro macho, mas isso era demasiado longo para abordar aqui, sobretudo num cortejo de língua que vai agora bem atrás de um Ídolo de Porcelana, saído da Capelinha das Aparições.
Portanto, também a Vanessa seguiu a Senhora, e levava em mãos um círio tão grande quanto o seu próprio corpo, e isso acho uma visão carinhosa, tanto mais que a Vanessa ia com a piedade no coração, e um rasto de criança no ventre: a gravidez de um matulão, de pele escura, a quem sustenta, e que a agride, com a violência toda do chulo, e a quem ela, "pitié pour les femmes...", carinhosamente chama "o meu amor..."
Já com a Vanessa falei, e, olhos nos olhos, discutimos, como quando se fala com o Ser Humano -- ela -- na sua mais alta expressão, se haveria lugar, na Terra, para mais uma alma de criança infeliz... Ela fez-me que "não", com a cabeça, e eu, que "não", também lhe fiz, mas com o olhar, e lá se pensará, em breve, em tratar disso, porque suponho que a Senhora de Fátima, o Ídolo do Euromilhões, tenha mais que se preocupar com os estratos de conta que rende o seu abjeto empório da Cova da Iria do que com as misérias do vale de lágrimas de tantos humanos, como a Vanessa. Esperemos que no imaginário dos clientes do Martim Moniz não entre agora o novo "fetiche" da anã grávida. Tudo farei para o impedir. Fica pelo meio o chulo, cabo verdiano de dois metros e trinta centímetros de frontada, que mais valia partisse a idolatrada porcelana com um martelo do que tocasse com um só dedo na ingenuidade da rapariga, mas nem isso verei, nem os ricos, nem os camelos, a entrarem, todos, no Reyno dos Céus.

Diz o Jorge que há um museu alternativo, na pocilga chamada Fátima, onde um senhor honrado abriu um museu privado de máscaras de cera, para honrar a visão da Pastorinha, e passo a relatá-lo, tal qual o Jorge, que viveu por cima, me o descreveu: cerra-se então a porta (cobrado o euro e meio...), e acende-se uma luz funerária, que ilumina, mal e porcamente, uma redoma de vidro, onde está sentada uma figura de cera, como a bruxa, que outrora havia, na Feira Popular, e que começa a levantar, e a descer, para cima e para baixo, as braçadas, e a mexer as articulações da falsa queixada, arrastando, com uma voz de bagaço como a da Maria João Avillez, a sua gravação estragada: "oooolá, eu sou a Lúúúúcia, e um dia vi a Senhora...",
e parece que dá logo vontade de zarpar de ali,
mas não se pode, porque as ordens são, "seguir em frente, sempre que luz se acende!...", e a luz, como quando falta a eletricidade no Metro, é escassa e penumbrosa, só rasgando a seta "em frente", quando aquela goela entalada acaba de traçar os primórdios da sua triste biografia de mitómana. A partir de aí, e não me vou deter em pormenores, é tudo em néons "fanés", inclui rosários, peças falsas "d'époque", galos negros empalhados, e réplicas dos intervenientes, tão más quanto os originais, pelo que se percebe que houve um ligeiro fervor de Realismo, na instalação.... Conta, quem já lá passou, que aquilo se assemelha à travessia do Estíges, mas em versão saloia, como seria de esperar, e sem Caronte, ou seja, já que entraste, rema tu sozinho, e trata de encontrar a porta de saída... se conseguires.
Graças a deus que a ASAE nunca ouviu falar disto, porque só selado, e com o Delegado de Saúde à porta...,
mas,
regressemos à Vanessa, porquanto, como também o Jorge me disse, na nova edição das "Obras Completas" de António Botto, finalmente se reintegra "Fátima - Poema do Mundo" (1955), um pequeno grande horror, publicado no Rio de Janeiro, onde o autor estava exilado por paneleirice, mas, sendo mais famoso do que muito do rebotalho escrevinhador da altura, teve de se entrar num acordo com a malfadada Iggreja, para que o Maior Português de Sempre o deixasse regressar a Portugal, e assim se cumpriu o fado, com a promessa de que o autor escrevesse um poema a glorificar a Fraude de Fátima, e ele assim fez, pelo que o célebre cântico final, que em todos os 13 de Maio e Outubro, as varejeiras desafinam no Idolatrário, "avé, avé, Maria, etc..." foi composto por um paneleiro encartado, e de alto coturno, o que, somado aos homens casados que aproveitam o evento para transformarem os sanitários, as moitas e as áreas de descanso da zona, em lugares de orgia homofílica, enquanto as esposas, tronchudas e de bigode acenam com o lenço branco, para a porcelana, dá um sabor estranho à coisa.
Certo é que ambos sairão de ali consolados, pelas razões mais inversas, pelo que até há quem diga que, com as orgias masculinas dos sanitários e aquelas goelas todas a entoarem António Botto, Fátima é o maior evento "gay", enfim, o "Gay Pride" bianual Português.
Fátima, be gay, be pride.
(Obrigado, Jorge, por este parágrafo),
e voltamos à Vanessa, que descia a Almirante Reis, minúscula e agarrada ao seu círio gigante, eis senão quando, como dizia aquela ridícula frase feita de antigamente, milhares de olhos reconheceram a trabalhadora das esquinas da solidão, e desde logo se desviaram da "Cara Pálida", começando, ritmicamente, em coro, a desafiar, e a berrar, entusiasticamente, "VANESSA!!!.. VANESSA!!!... VANESSA!!!...", como nos prolongamentos do Futebol Clube do Porto.
Já estava o Óscar dado, e o ídolo de porcelana destronado, bem na reta final...
Aleluia!...
A segunda parábola é mais técnica, e veio pelo Iphone da Marquesa de Pimpinela, cujo pai, o Sr. R., nosso estimado leitor e apreciador (uma saudação amiga da idolátrica Lisboa!...) relatou -- estas coisas da Tecnologia são mesmo horríveis... -- ser, em Portugal, a única pessoa que "tinha tido a mão toda enfiada dentro da Senhora (!)..."
Não, não se excitem já: a coisa é bem mais prosaica, porque, quando começou a haver esta onda de furtos, e partindo do princípio de que alguém poderia ter a veleidade de roubar uma porcaria daquelas (por acaso, eu até roubaria, e esconderia na arrecadação, só por pura maldade e desprezo...), uma alma fina lembrou-se de instalar um GPS na louça (!), pelo que coube ao Sr. R. enfiar-lhe a mão toda lá dentro, para colocar o aparelho... Assim, quando a Senhora for roubada, toda a gente saberá onde está a obra prima da menoridade portuguesa, a qual é, felizmente, sempre transportada em fragatas de um Estado Laico, não fosse dar lhes para a enfiarem num porta bagagens de ir, sempre a abrir, até Fátima, com multas de radar e teste de álcool à porcelana: o susto que a Brigada de Trânsito não apanharia, ao ver a cara de saloia da infratora...
Por fim, para que se cumprisse a Profecia, já em Almada, a Mãe deveria pôr-se por debaixo do Filho, não sei quantos quilos de betão armado, dava gravidez nervosa muito mais eficaz do que a do Espírito Santo (não o banqueiro, entenda-se...), e pôs-se, mas, como é típico nestas coisas dos Ídolos, não aconteceu... nada: o Céu continuou nebuloso de desagrado, o solzinho não dançou, a miséria material e espiritual portuguesa continuou idêntica, e, como diria o Profeta Jesus, mais valia que, no lugar onde se ergue o monstro de betão, que desfigura toda a Margem Sul, deixassem livremente crescer os lírios do campo, que nada mais precisam do que de existir, nem que deles mão alguma cuide.
Suponho que, para quem este texto suportou até aqui, tenha ficado claro o desprezo que nutro por tudo o que aconteceu neste vergonhoso fim de semana, mas não o queria terminar sem relatar um verdadeiro milagre, este, sim, mesmo miraculoso, que há bem pouco sucedeu.
Setúbal é um bom lugar: alinha com a Casa Pia e a Madeira num roteiro fortemente temático.
Consta que Pedro Namora dá à sola das instituições, depois de ter sacado o que podia delas.
Já foram duas, vai agora para a terceira.
Monsenhor Saraiva Martins deveria ser avisado do evento, e pensar numa eventual beatificação, para não darmos este fim de semana como totalmente perdido...
Amén
(Duo do avé, avé, Maria, do António Botto, no "Arrebenta-SOL" e em "The Braganza Mothers" )

1 commentaires:

Anónimo disse...

Uma boa alma, esse Pedro Namora

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