Imagem do KAOS
Sim, é verdade que tenho andado muito caladinho, e isso é sempre péssimo sinal, mas desenganem-se os farejadores de escândalos, porque, como cavalheiro que sou, desta vez, tenho estado a cumprir voto de silêncio, por respeito a uma pessoa, que muito admiro, e que é Dona Adelaide Monteiro, ex-Pinto de Sousa, abençoado ventre que concebeu sem pecado o (ainda) Primeiro-Ministro de Portugal.
O meu conhecimento de Dona Adelaide é bastante antigo, acho que ainda vem do tempo da casa da minha avó, Av. Almirante Reis, em que um dia tocou aquela saudosa campainha, e eu vim espreitar pelo ralo: eram duas simpáticas velhinhas, tipo a irmã do Cesariny, e, quando abri a porta, uma delas disse-me logo: "Sabe que o Mundo vai acabar?...", e eu -- a gente, nestas circunstâncias, nunca sabe que o é mais polido responder... -- disse, "pois", e imediatamente derivei para uma pequena palestra de astrofísica, sei lá, a de que de aqui a não sei quantos milhares de milhões de anos, o Sol, uma anã-laranja, da Classe G2, iria abandonar os arredores da Sequência Principal, e começar a derivar ainda mais para os extremos, deixando de consumir Hidrogénio e Hélio, e passando a devorar Carbono, e coisas ainda mais indigestas, tornando-se numa Gigante Vermelha, e expandindo o seu perímetro algures para entre a órbita da Terra e de Marte, o que queria dizer, mais coisa menos coisa, que era o mesmo que ficar a viver perto de um forno crematório, mas não do lado de fora da porta, mas mesmo de dentro...
Acho que a velha não gostou da minha história, sobretudo quando eu puxei a coisa para o lado político, e lhe disse, acintosamente, "claro que, nessa altura, a não ser que haja algum político filho da puta que se lembre de estender a idade de reforma indefinidamente, nem eu, nem as senhoras cá estaremos..."
Confesso que nunca compreendi a expressão que se lhe espelhou no rosto, e só alguns anos mais tarde me trouxe uma resposta elementar, tipo a Sovenco, onde foram sócios fundadores Sócrates, Vara, a Felgueiras, e um outro camelo, que vendia cartas de condução, e que constituiu explicação para toda a Metafísica Futura.
Mais tarde, sempre que mudava de casa, até à minha atual residência, no Palácio do Correio-Mor, aquela cara ia-me acompanhando, sempre com o mesmo discurso, "sabe que o Mundo vai acabar amanhã?...", e eu lá lhe ia dando razão, de acordo com a teoria científica então mais na moda, e corremos tudo, juro, desde o Buraco de Ozono, ao Aquecimento Global, à Sida, ao Ebola, ao Tsunami, à Colisão do Cometa, do Asteróide e mesmo da Profecia Maia. Então, nos arredores de 2000, já era eu que a queria convencer a ela de que ia ser naquele ano, mas ela ficou muito indignada, porque isso eram "crenças papistas", ou seja, o Mundo podia acabar em qualquer dia, exceto no preconizado pelas crendices cristãs!...
Como podem imaginar, este debate académico arrastou-se décadas, ela, no fundo, queria vender-me a revista, e eu dizia que não precisava da revista para nada, porque assinava a "Science et Vie", a "National Geographic", e a "American Scientific", que sempre ficam uns furitos acima da "Sentinela", uma espécie de programa da Bocarra Guimarães, em forma de folheto.
O salto quântico, enfim, deu-se quando eu identifiquei, numa daquelas simpáticas velhinhas, a mãe do "Engenheiro" Sócrates, tinha a Maioria Absoluta acabado de ser alcançada, e foi então que os papéis se inverteram: em vez de serem elas as melgas, passei eu a parasitá-las, e, quando elas se queriam ir embora, eu pedia-lhes para ficarem um bocadinho mais, até que me atrevi a perguntar a Dona Adelaide, "olhe lá, isso do Fim do Mundo tem alguma coisa a ver com o seu filho ser agora Primeiro-Ministro?..."
Nunca esquecerei a lágrima dolorosa, que se soltou do canto do olho daquela mãe: era uma resposta muda, e uma sentida confissão, de um coração que sofre.
Como eu a percebo: uma coisa era andar a lanzoar, a lanzoar, em redor de um Apocalipse abstrato, outra o ser o próprio fruto do seu ventre a vir incarnar a Bagunçada Final, e foi aí que o meu coração se apiedou dela. Passámos a estar mais tempo juntos, ela confessava-me que, no fundo, o Mundo ia acabar por causa do filho dela, mas não só, porque havia mais gente interessada no negócio, e eu, a sacar nabos da púcara, "... está, no fundo a querer dizer, sem dizer, que Maria de Lurdes Rodrigues também está metida nisso?....", e ela só fazia que sim, que sim, com aquela cabeça de crente, e lá me dizia que pior do que a Lurdes era o Mariano, dos lindos olhos, que a andava a picar constantemente, mas o mal já vinha de trás, com aquele horror de Leonor Beleza, que tinha feito transfusões de sangue, coisa que é fatal para qualquer Jeová, quanto mais, com sangue contaminado. E dizia ela: "essa mulher foi o Anticristo que a promoveu!... Anda no Altar do Diabo, na Fundação Champalimaud, parece que foi o Pé de Cabra que lá a pôs!...", e como eu a percebia, e passávamos ao Dias Loureiro, ao Vítor Constâncio, ao Pinto da Costa, ao Ferro Rodrigues, ao Carrilho, ao Paulo Pedroso, àqueles nomes todos da televisão, e eu a sacar informação, "portanto, tem a certeza de que vão todos estar lá, no dia do Fim?...", "Sim, estarão", respondia ela, "todos sentados num grande sofá cor-de-sangue, a assistirem ao "Equador", a coisa mais cara que a TVI já produziu, quer dizer, se excluirmos as injeções de botox da Manela Boca Guedes...", e eu, "aquilo fica-lhe muito feio, não fica?..., porque a boca agora está a meter-se toda para dentro, cheia de pregas, parece um buraquinho, deus me perdoe, parece aquela terceira visão que todos temos, entre as nádegas..."
O Mundo acabar assim ainda ia ser pior.
A semana passada, quando eu decidi enveredar pelo silêncio, as nossas confissões já estavam pelo "Freeport": sim, era tudo verdade, já o serem todos meio-irmãos queria dizer que havia antepassados a fazer filhos por fora, uma vergonha, e que os primos eram todos iguais, aquela história dos dinheiros dos volfrâmios tinha sido toda inventada, e o dinheiro vinha todo das "off-shores", das "luvas", e das percentagens das comissões das Estações de Saneamento, que o Zé (o filho) e o Vara geriam, enfiando aquilo, muito disfarçadamente, através dos "sacos-azuis" das Autarquias-Rosa, para não dar muito nas vistas. E eu perguntava, "e era muito dinheiro?...", e ela, "Era, sim: o meu meio-irmão, o Júlio, sempre que via as notas chegar, começavam a tremer-lhe as mãos, tanto que este povo horroroso, o povo português, que trata sempre mal quem tanto o acarinha, começou logo a espalhar que o meu irmão estava lelé da cuca, e tinha Parkinson, o que é completamente falso, ele não pode é ver maços de libras que fica logo cheio de arrepios e com os dedos a transpirar!..."
Quando uma mulher se abre assim, em confissões, eu seria um canalha em vir desbobiná-las aqui, não acham?, por isso tenho sido respeitoso e silencioso.
Depois fomos à história do prédio do Heron-Castilho, prédio de que eu gostava muito, aquele ar decadente, Art-Nouveau, com umas carrancas de estuque muitas francesas-de-portugal, e um belo dia, já tinham fechado a célebre cada de banho das mamadas, que ficava por cima da Loja das Meias do Edifício Castil, aquilo começou a crescer para cima, tudo em espelhados, com uma antena de metal horrorosa, no topo, parecia uma antena de televisão depois da passagem das botas chungosas das claques do Dragão, e ela confessou-me morar lá, com o filho, a ex-nora, que tinha partido, com um candeeiro, um braço ao Zé, no dia em que descobriu que ele gostava de "mulheres" musculadas, másculas, com testículos e tez venezuelana, a mãe do Hermann, e o Quique Flores, a quem -- dizem as más-línguas dos seguranças -- o filho dela andava agora de amores, ou, pelo menos, tentar.
"Pois o que consta é que vocês eram três mulheronas, a velha, española, dona do prédio, a Dona Adelaide, e aquela vossa amiga, nossa conhecida comum, e que vocês passavam as tardes nos Chás das Vicentinas, da Rua de São Bento...", e ela ria, "... e que a Dona Adelaide a melgava todos os dias, todos os dias, com essa sua história do Fim do Mundo, do Fim do Mundo, que o melhor era mesmo vender-lhe o prédio inteiro, antes de que a Coisa estoirasse, sempre podia voltar para España e viver até ao Dia do Juízo, de perna traçada, ao som de zarzuelas, e a folhear revistas de toureiros sexy, com tendências homófilas..." e ela ria, e dizia-me, "ainda um dia me há de explicar quem lhe contou essa história toda!...", e eu punha uma cara séria, e respondia, como o Cavaco: "Assunto de Estado, portanto, só lho revelaria em Fátima, aos pés da Senhora de Cara de Saloia, pela minha rica saúdinha!..."
Depois, fez-se um silêncio, e eu perguntei-lhe, "explique-me lá uma coisa... com essa coisas das sisas, das escrituras, das mais-valias, ninguém vai acreditar que um prédio daqueles tenha custado só 60 000 contos... Sim, eu percebo que tenha conseguido enganar a velha española, mas como é que depois enganou o Fisco Português?... É aí que entram as "off-shores" do seu meio-irmão?... Ou seja, vendia para fora, e depois recomeçava a vender, cá dentro, os andares isolados, cada um ao custo do prédio inteiro?... Dona Adelaide, ajude-me, pela alminha de Jeová, a que se me faça luz...."
Infelizmente, é nestes momentos que nós caímos da cama, porque, tocou o telemóvel, e, quando eu reconheci a voz pegajosa e bichenta, percebi logo que era o filho... Nem dez segundos decorreram, desde que ela lhe dissesse com quem estava a falar, para que, do outro lado, se ouvissem uns gritos estridentes, como deve ter ouvido o José Manuel Fernandes, do "Público": era o Homem de Lata, a soltar a Mulher de Porcelana, que lá tem metida, dentro de si.
A velha fez-me uma careta, e disse que a conversa ia acabar já ali, e acabou. Mas acabou mesmo, e acho que para sempre.
Agora, um pouco mais a sério: o Caso "Freeport", as vergonhosas posições do Procurador-Geral da República e da Dona Cândida, que já arquivou o "Caso do Diploma" -- não que o caso fosse novidade: podem reler aqui, como sempre se fizeram licenciaturas, em Portugal, e como o "Diploma" de Sócrates era, afinal, só... mais um -- e um Presidente da República que anda a jogar golfe e a papar missas em Fátima, em plena crise com repercussões internacionais, como esta, deixa, mais uma vez, visível que teremos de ser nós, Cidadãos, ofendidos no nosso orgulho de Nação quase milenária, a não cruzarmos os braços.
Meus amigos, esta cruzada é importante, e vamos ajudar a resolvê-la, para que os nossos sucessores não vejam em nós tão-só um cobarde povo de bananas, governado por um filho-da-puta, só deus saberá se não, como Chavez a sonhar perpetuar-se até 2049...
Obrigado, e boa noite.
(Pentatlo, no "Arrebenta-SOL", no "A Sinistra Ministra", no "Democracia em Portugal", no "KLANDESTINO", e em "The Braganza Mothers")
0 commentaires:
Enviar um comentário