Antes de mais, pela parte de um não-cristão, os sinceros desejos de uma Boa Páscoa, sobretudo para Maria de Lurdes Rodrigues, que anteontem completou os seus maravilhosos 52 Invernos, idade provecta para um Camafeu, é só deixar passar mais um pouco de areia pela Ampulheta, e acumular cotão na fronha, que lá acabará nos Leilões de Cabral Moncada e Filhos.
Bem bom.
O meu lado infantil, aquele que vem sempre à tona, depois de ter provocado o chavascal todo, levou-me hoje a pensar, enquanto descia o Chiado -- Watchdog, a Bertrand tem um livro fabuloso na montra, um livro do Cláudio Ramos (!?), com uma gaja na capa, chamado "Geneticamente Fútil", pensei que fosse alguma autobiografia do próprio, mas ele é demasiado volátil para ter biografia, quanto mais uma auto, pelo que suponho que aquilo deva ter sido escrito por alguma daquelas retalhistas do cangalho em forma de prosa, sei lá, vamos a elas, a Clara Pinto-Correia, a Inós Pobreza, ou a maravilhosa história de Pinto da Costa, narrada por Felícia Cabrita (essa, ao menos, ainda agita as águas, quando está em êxtase, e às vezes até está),
adiante,
visto e revisto o vídeo, enormíssima maldade ter reposto aquilo no Youtube, enormíssima maldade ter disparado o acto pelos Blogues-Farol, enormíssima maldade as sms e os emais sequentes, enormíssima maldade ter passado uma Quinta-Feira Santa a recolher vídeos-"trash" de Escolas (nem vocês imaginam o que eu encontrei e não postei aqui...), enormíssima maldade ter feito isso no primeiro dia do resto dos 52 desgastados anos de Lurdes Rodrigues, e maldade superlativa o efeito bomba que isso teve, pelos Órgãos de Comunicação Social, os blogues de referência, e o sobressalto pascal das famílias de bem.
Pronto, aí se esgotou a infantilidade do acto, agora, vamos aos patamares superiores, que é onde me agrada mais postar, já que detesto banalidades, comentários limitados e rasteiros, rotinices rebobinadas das televisões públicas e semi-públicas, desabafos de comentadores da Coca, ou dos retroseiros do Disparate Social.
Algures, pelo seu texto, onde pilhei a excentíssima imagem, o KAOS levanta alguns dos problemas aparentemente laterais, mas, de facto, absolutamente basilares, para a análise da situação. Escusado será dizer que vi e revi o vídeo dezenas e dezenas de vezes, à procura de alguma mensagem subliminar ou algum resquício metafísico que ali pudesse estar. Não estava nada: era uma "stôra" típica de um certo estilo, de uma certa faixa etária, e de uma cortina sobre a Realidade, também muito especial, posta defronte dos olhos. Do outro lado, fiquei a saber, pelo "Correio da Manhã", estava a Patrícia, diga-se de passagem, muito bem estruturada -- estou a falar das curvas... -- para os seus 15 aninhos, e a típica Titular, 10º Escalão, com a agravante de ter estado fora do Ensino, a presidir àquela espécie de coros celestiais com que a Europa se compraz em multiplicar o seu vazio, neste caso, uma coisa chamada "Coordenação do Parlamento Europeu dos Jovens" (!), onde, obviamente, só se ouve o "Miserere" de Allegri, e as pessoas se tratam por "meu anjo" e se beijam três vezes, sem tocar na bochecha, como as minhas amigas tias, da Avenue Louise, em Bruxelas,
portanto,
e agora vamos iniciar a dissecação, aquele vídeo não representa qualquer Realidade, antes dramatiza uma aula de final de período, do "vale-tudo", com uma miúda com um ar porreiríssimo, a Patrícia, farta do Francês Técnico da recém-chegada das prateleiras europeias, e desejosa de poder ler as sms dos amigos, das amigas e dos namorados, "fixe a k horas terminax?, tá-x, no café, trax a Vanda...", e a outra a insistir nalguma merdunça, do género "Vèrse le Pêïs de là France", em vez de ensinar à Patrícia que a França é ora governada por um badameco, que parece estar sempre entre o bêbedo e o drogado, e anda a comer, ou a fingir que come, uma herdeira de uma fortuna, construída à pala dos 75 € mensais pagos aos escravos tunisinos da Pirelli-Sahel -- a fábrica é horrível, VERDE RELVA, no meio de uma paisagem árida de desertos de sal!... -- mas que "se acha", como diz a minha empregada, e a Patrícia estava bués farta das diferenças de pronunciação do "AN", entre "vin", "vent" et "vain", e começou a teclar no telemóvel, como é típico dos seus 15 anos, e eu faria pior, arrasava-lhe a aula em dois tempos, sem ela NUNCA ter sabido que o causador era eu, porque este, que aqui vos escreve, sempre odiou escola, adorou intervalos e faltas de professores -- os melhores tempos da minha vida!... -- e sempre desfez aulas a muito boas almas, que nem sequer sonhavam com o calibre do flagelo que ali estava sentado defronte, porque, e aqui vamos subir de patamar, o pessoal, hoje, em dia, adora a Escola, mas não adora a Escola das Aulas, salvo raras excepções, mas a rica Escola do Convívio, para muitos, o primeiro lugar de sociabilização e afectividade, depois dos infernos familiares de onde provêm.
Aquele vídeo é totalmente falso, porque a Patrícia tem bom ar, a "Stôra" tem o ar das "stôras", tal qual ainda as imaginam o Mário Crespo e aquelas duas vérminas, chamadas Rangel e Rebelo de Sousa, e o ar do pessoal daquela turma era exactamente o ar que eu tinha quando estava sentado naquelas cadeiras, modas à parte, a assistir em directo à "porrada" e a ver quando é que a "velha" caía, com a adrenalina completamente aos saltos -- aos 15 anos, o nosso primeiro campo de batalha são os professores, e levam pouco os nada chatos e mais levam muito os que bem o merecem -- e ela... deixa-me ir ver o nome ao "Correio da Manhã"... olha, não vem..., pois, fica... a Titular dos Anjinhos Europeus, que vão, na Finlândia, a cantar para as Aulas de Matemática, convencidos de que aquilo é o Paraíso, e que depois acordam, de repente, quando um mais esperto começa a metralhar para dentro das salas, "ah, querem Céu?... pois aí vai!... tomem lá, caralho!..." TRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRR, e depois são lágrimas e flores, a senhora titular, se queria ver a Realidade, com o seu lenço típico de "stôra" ao pescoço -- acho que há um "missing link" entre as "toilettes" daquele tipo de "stôras" e a moda-cartucho-flintstone da Rainha de Inglaterra... -- se ela queria ver a Realidade, não era num cenário almofadado do Carolina Michaelis, mas era ir para uma escola problemática, tipo, sei lá, pode ser a de Camarate, que nem corpo docente tem fixo, e de onde toda a gente foge passados alguns meses, apanhar com uns gajos amulatados dos raps, bonés lacoste gamados e capuchinhos, mais uns brancos com umas "rastas" muito rascas, naifas, ganzas, ácidos, uns ténis rotos e umas calças de treino com uma macha cinzenta na zona do entre-pernas, de estarem permanentemente a coçar os colhões enquanto falam, aos gritos, com alguém, e lhe fizessem, como fizeram à Helena Matos -- contava-me uma amiga minha, no meio das nossas gargalhadas... -- essa Helena Matos já era fraquinha nos tempos da Damaia, pouco melhorou, desde então, a vir dizer que lhe espetaram uma faca na mesa, no primeiro dia de aulas, e lhe disseram -- isto tudo em directo, naquelas subservientes televisões do Estado Totalitário Socrático -- que "já tinham aviado quatro, antes dela",
ora,
o que eram 4 em 140 000?...,
esta cena tem vinte anos em cima, pelo que, dado o "Pugrèsso" (pronúncia cavacal), hoje em dia estarão infinitamente mais refinadas, nesta espécie de Cova da Moura generalizada em que o país inteiro se tornou.
A Senhora Ministra, titular de um diploma em Ciências Flácidas, vulgo Sociologia, devia saber que a população daquela sala do Carolina Michaelis não era a típica população das escolas de subúrbio -- a maior parte das populações escolares, dados os crimes de especulação e desordenamento territoriais -- vive hoje em subúrbios, crescentemente problemáticos, e os filhos que gera são substancialmente mais... "difíceis", e, quando ela fala de "Avaliação", devia começar por avaliar os meios familiares, que despejam estes... discentes, em bruto, nas prateleiras das escolas, aliás, há muito defendo que devia haver uma Carta de Condução para a Procriação, com exame de código de conduta, postura humana, e parâmetros mínimos de assumir a responsabilidade de pôr uma vida num mundo, complicado, como o nosso.
Quem chumbasse, meus amigos, não emprenhava, e, se emprenhasse, era obrigado a fazer a... devolução.
Ora, tudo isto seria fantástico, se não vivêssemos num Universo onde a valoração da "Família", queira lá isso dizer o que quiser... pois, a melhor leitura da família ainda a fez Sartre nos seus escritos: "... é como a varíola, tem-se em pequeno, e deixa marcas para toda a vida...",
portanto,
Maria de Lurdes Rodrigues, ou quem te virá brevemente suceder, tu, "Socióloga", começa, mas é, por AVALIAR as envolventes familiares dos jovens que despejas nas Escolas, saber se têm antecedentes, qual a sua matriz genética social (falei bem, não falei?... cof, cof, cof...), e submetê-los a uma espécie de ASAE do discente, para saber se o produto tem qualidades mínimas para ingressar no Ensino Público, porque essa merda do Ensino Público, que, para ti, se traduz em meia dúzia de números que nem tu própria, nem o teu caniche secretário de estado, percebem, essa merda do Ensino Público, entre o péssimo, o óptimo e o para lá do pavoroso, sai-nos diariamente dos bolsos, e não é para que tenhamos de assistir a espectáculos lamentáveis como aquele com que o Youtube nos presenteou!...
O pior vem agora, e juro que não vou ficar por aqui: enquanto a "Stôra" vinha viciada dos Anjinhos Europeus, e, honra lhe seja feita, reagiu como ser humano -- ainda por cima, parecia a minha tia, quando estava a dar aulas -- e, simpaticamente, deve ter dito à Patrícia -- não vem no vídeo, mas poderia vir... -- "dá-me já imediatamente isso, senão vou eu tirar-te!...", traduzindo para o espaço público da sala uma atitude, em nada reprovável, a da mãe avisadora, que vai assumir o gesto brusco, perante a clássica filha desobediente, só que vinda de outra realidade, aquele mesmo universo empobrecido e chão onde tu medras, ó, miserável Lurdes, de uma realidade onde o sentido simbólico dos objectos não foi reavaliado, reclassificado, e a própria Realidade reconstruída em função dessas clivagens de paradigma, as fracturas e linhas orientadoras do Novo Objecto (hoje, estou a falar bem, não estou?...), onde terias de perceber que o Telemóvel é um símbolo heráldico com um poder e uma força que, em muito, ultrapassam a técnica e função subjacentes, e se revestem de um rosto de representação e posicionamento hierárquicos, talqualmente -- e muitos destes jovens são filhos desses mesmos "xanxos"... --- como a posse do carro de cilindrada elevada é indispensável para vastas camadas da nossa sociedade demente, que não têm onde cair mortas, como o foram, outrora, os Coches de D. João V, em estradas miseráveis e poeirentas, que, já então, eram alvo da chacota da Europa Iluminista, mais as baiúcas, onde o que conta é terem, "azulejos de época" e "lareira",
portanto,
Dona Lurdes e Stôra dos Anjinhos Europeus, retirar o telemóvel à Patrícia é como um acto de despromoção social e de profanação, analogicamente, equivalente a uma violação, e quando a senhora, mais o seu "chófer", o Sr. Valter, das permanentes de caniche, quer impor um regulamento onde uma geração é despojada dos seus símbolos mais fortes de representação social, está a construir e a comprar uma guerra surda, e a promover uma irreparável fronteira de violência, que não parará nunca, tal como a batalha dos "piercings", onde se quer moralizar uma sociedade, esquizofrénica, à bruta, onde, porque, simultaneamente, nela se apregoa o "clean and cute" e os Ministros cheiram quase todos a Pedofilia, e o "Prime" anda descaradamente a apanhar sabonetes em banhos turcos...,
minha senhora,
sabe em que matriz se inspirou?...,
pois já não se lembra, mas venho eu aqui relembrá-la, está, mais os seus apaniguados, a tentar recriar a Revolução Cultural Maoista, onde todos andavam iguaizinhos, e de fardeta cinzenta e colarinho vermelho -- lembra-se?... -- ainda a senhora não tinha apostado nesse "look" da Viagem Final, abas pretas, e debroados, da Servilusa, que nem a minha avó usaria,
não há quem lhe diga que você é visualmente ridícula, ofensiva, parece uma bruxa, uma gata-pingada de agência funerária, e essa sua cara pálida, sem boca, mas com uma simples fenda de maldade, são hoje terrivelmente obscenas, agressivas, indesculpáveis, numa sociedade onde valoramos as curvas das patrícias e as belezas adolescentes, ainda não conspurcadas por esses esquemas skinnerianos e matriciais, que a senhora já devia saber estarem obsoletos, excepto nos paraísos mugabianos, cubanos e outros antros de má-frequência por onde você, mais os seus sinistros colegas de Governo, andam a roçar as bordas sujas,
e,
se não gostou de ouvir até aqui, agora, ainda vai ouvir pior: vá avaliar o raio que a parta, porque a Professora de Francês não é paga para ter de estar a gramar adolescentes reacções de histeria, ainda por cima, inautênticas, porque aquele "dá-me o telemóvel, JÁ!...", caso não o saiba, sua socióloga burra e incompetente, sua proxeneta do sadismo das economias, esse "JÁ!..." é copiadíssimo dessa merda com que vocês, promotores da cultura e dos padrões imitativos de sarjeta, diariamente nos intoxicam, e envenenam a vulnerável camada que frequenta as escolas, e que mantém nomes sugestivos como "Morangos com Açúcar", e quejandos, onde, justamente, a Escola é apresentada como o lugar onde TUDO acontece e TUDO pode acontecer, numa espécie de promiscuidade entre narcisismos, transgressões, exibições de roupas de marca e viagens impossíveis para a pobreza média portuguesa, e romances patéticos e contra-natura, avanços entre pseudo-alunos e pseudo-professores, padronizando as públicas virtudes e mais os vícios privados, e a geração das discotecas e da prostituição menor, de quando em vez, para pagar o que os recursos naturais não permitem,
Dona Lurdes,
lembra-se, essa geração de actores de merda, que morrem cheios de álcool e coca, na primeira aceleração de excesso de velocidade das estradas da morte?...,
Dona Lurdes,
essa merda, mais o padrão do ser-burro-mas-dar-uns-chutos-na-bola e tornar-se milionário em dois tempos,
ou ter dois palmos de cara e corpo e subir, NA HORIZONTAL, aos patamares de aspiração da Adolescência?...,
Senhora Dona Lurdes,
a Sociologia dessa Sociedade Anónima de Permanente Destruição Histórica é que a senhora se devia entreter a avaliar, com cotas para "Excelente" -- vai encontrar muito pouco... -- "Muito Bom"..., talvez nas castradas famílias da Opus Dei, todavia, o "Bom" de quem ainda se esforça para manter os filhos protegidos dessa praga, permanentemente vomitada pelas televisões do Estado e Anexas, e depois o "Medíocre" e o "Insatisfaz" generalizados, do Humor Escatológico, do Triunfo "Light" de Bolonha e dos Concursos dos Milhões de Euros, dos padronizados "Gatos Fedorentos", das "Memórias do Jardel", dos "Rios das Flores", de toda essa matéria a precisar de estações de tratamento de resíduos sólidos,
é esse ENORME AMAZONAS POLUÍDO ATÉ AO FUNDO DOS FUNDOS que a senhora, mais os seus sequazes, e superiores, devia avaliar, antes de o lançar, na forma de despejo, nas salas de aula, porque essa geração não precisa de aprender nada: todos os alicerces da "sabichonice" já os trazem de fora, de acordo com os níveis e patamares socioeconómicos e culturais de onde provêm, e irão profetizar, e espalhar e evangelizar, em mancha de óleo, em todos os tempos livres e faltas e intervalos, sem substituição.
Dona Lurdes,
deixe-se de reformas, e antes analise os berços dessa geração que quis deitar a perder, e, se a culpa não é toda sua -- três anos de CADELA, embora pareçam uma eternidade, são realmente muito pouco... -- vá buscar os seus pares e responsáveis por este cataclismo histórico e social que se avizinha: pois traga o Justino e mais a Ferreira Leite e o seu Cavaco!...
Esqueça a construção das casas pelo telhado, e vá fundo aos alicerces: é evidente que estes jovens, tal como eu, adoram o convívio e odeiam as aulas; ficam felizes por poder andar nos pátios a construir o seu paraíso próprio, e o seu regime das faltas é isso que agora glorifica, deus meu, a melhor ministra de sempre: não preciso de pôr os ténis na disciplina, e faço ao fim um exame... para poder voltar a chumbar!...
Brevemente, teremos os pátios da escola cheios de repetentes de quarenta anos, com as ressalvadas excepções daqueles que se deixaram,
e aqui vamos ainda subir um pouco de patamar,
seduzir pelos poucos que tinham algo para lhes dar, sem nunca lhes hostilizarem este admirável mundo novo de tecnologias, bom gosto e culto da aparência cuidada, tanto que você teria a aprender, sua bruxa, com a elegância destes jovens, a quem alguns, pela estreitíssima faixa do fascínio e do amor -- essa é a definição de Professor -- elegerão ao cume mais alto daquilo a que poderemos aspirar, na nossa condição de mortais: semideuses transitórios de um momento de compreensão, e transmissores daquela palavra inesquecível, que será, depois, repetida, década após década, e recontada aos filhos, e aos longínquos netos, a voz de uma palavra algures ouvida, num tempo, de mestre e de mestria, a palavra do afecto e da via láctea da salvação, que lhes torna o docente imortal e inesquecível.
E é por essas e por outras, senhora dona Lurdes, que eu, humano e profissional, aqui nutro por si o mais desapiedado e irredutível desprezo.
Muito boa noite, e feliz aniversário... se ainda conseguir.
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