O KAOS ainda perdeu tempo a ver a entrevista, eu não: já estou muito para lá disso, como estou muito além da maior parte das pequenas coisas que insistem em querer que assumamos como prioritárias, do nosso dia a dia.
O séc. XXI é um século de vertigem, e o peso das horas é hoje o dos meses, de outrora, como uma semana ora vale, nas balanças dos nossos antepassados, uma década inteira da virtualidade de hoje.
Metaforicamente, continuar a bater no ceguinho da "Licenciatura" do "Engenheiro" é a versão 1.1, de um "software" que já vai na edicão 8.3.
Os mamarrachos da Covilhã, para os quais ele punha a assinatura, no final da folha dos acabamentos dos cálculos de estabilidade é chão que também já deu uvas. A coisa, aliás, é tão rápida, que ainda ele estava ontem a mentir, nos estúdios da S.I.C., e já a mentira dele estava completamente fora de moda.
Vamos, pois, às meta-estruturas: uma delas já a referenciei aqui, a de que alguém que frequenta um curso superior -- mas frequentar DE FACTO, não andar a fazer serviços nocturnos, de motorista à porta, a enviar trabalhinhos por fax, e cartões de Boas Festas antecipadas -- uma pessoa, dizia eu, que realmente subordinou a mente à ginástica rigorosa de um percurso académico das antigas licenciaturas, mestrados ou doutoramentos, fica com o raciocínio moldado de um modo especial, que é muito difícil explicar aqui, quem o sabe sabe, quem o não sabe também não lho posso ensinar em duas linhas, e, portanto, vamos já adiante: sempre que o "Engenheiro" abre a boca, vê-se imediatamente que "andou por lá", deu "por lá" umas escapadinhas, mas nunca "esteve verdadeiramente lá", no sentido de se sentar, ouvir com atenção, modificar os esteios do raciocínio, e ganhar o fortíssimo aparato argumentativo, que torna o frequentador do Académico absoluta, e definitivamente, diferente do homem comum.
José Sócrates está ao nível dos homens dos táxis, daqueles piores, que têm um lugar obsessivo na cabeça, ou, quando muito, um banal juízo de valor, que tentam repetir, "ad nauseam", como se fosse a espinha dorsal de toda a sua estrutura defensiva e interventiva. Esses são a pior coisa que se pode apanhar, no banco de trás desse especial transporte público. Você vai, como eu muitas vezes vou, com o Ipod nas orelhas, concentrado no "Ich ruft", do Bach, e começa ele, lá da frente, a olhar pelo retrovisor, e a lançar a sua frase única, a sua frase de ouro, a constituição de todas as discussões da sua parca existência, sei lá, são tantas, mas vamos por uma sexista, só para exaltar os ânimos:
"As mulheres nunca deviam sair de casa!... ",
e olha pelo espelho, para captar a reacção, mas eu estou completamente noutra, concentado no célebre SI, em que ele, Bach, faz o primeiro trilo, e digo "ahn...?",
e ele,
"As mulheres nunca deviam sair de casa, não acha?...",
e eu sem saber o que lhe responder, porque sei lá de que mulheres é que ele está a falar, e digo, "pois...", a ver se ele se cala, mas ele não se cala, e repete "as mulheres deviam estar sempre em casa...", e eu nas tintas para isso, todas as mulheres que eu conheço raramente páram em casa, a não ser para fodas e jantares de estadão, mas como explicar ao motorista que vivemos em universos totalmente disjuntos, e ele repete, com mais ênfase, "o lugar das mulheres é mesmo em casa...", à espera de iniciar uma extraordinária conversação, com alguém totalmente fora do âmbito do disparate corrente dele, e eu lá poderia manter este solilóquio durante o tempo da corrida, mas vou inflectir aqui o rumo da narrativa, porque o que me traz a este teclado, esta noite, é a proximidade entre a estrutura mental de Sócrates e o fraco condutor de táxis e rebanhos, e a coisa explicita-se em muito poucas frases: tudo aquilo que, desde o Sócrates de Atenas, aprendemos, o poder da argumentação astuciosa, volátil, e quantas vezes tergiversadora do rumo inicial das pelejas da Razão, está no oposto da frase feita, do juízo de valor, da epígrafe de taberna, que, como nos pedreiros da Idade Média, deixava, na forma de grifo da pedra talhada, uma assinatura eterna... mas até isto é demasiado poético para o medíocre de Vilar de Maçada, que insiste, na ausência de qualquer possibilidade de desenvolver até aos altos voos da águia poderosíssimas posições e oposições, do argumentativo ao apologético, enverendando pelo contraditório, pela redução ao absurdo, Sócrates, o de Vilar de Maçada, não o de Atenas, sofre da Síndroma do Homem do Táxi, e insiste em que um mesmo argumento pobre, envolto em tons exaltados, assertivos ou de pseudo segurança, pode ser a justificação para todos os actos disparatados que comete.
É o predomínio da Emoção, a suprir a total ausência de Razão.
A coisa convenceria as domésticas, os reformados, os benfiquistas de taberna, até as ordinaronas do Bolhão, mas o problema é que a mesma frase emocionada do "Engenheiro" é uma fraca mentira passional, que lhes vai diariamente ao bolso, ao presente, ao futuro, e ao empenhamento da prole inteira, até um limiar sem fim à vista.
Para o "Engenheiro" nada do que acontece na Economia é mais importante do que poder repetir "as mulheres, ou a Economia, nunca deviam sair de casa", "A Educação nunca devia sair de casa", "O Desemprego já baixou uma única vez..., mal deixou de sair de casa...", nunca mais ninguém devia sair de casa, como o taxista do aeroporto, que acabou de enfiar a sueca no banco de trás do táxi, e lhe diz, "aqui vamos apanhar a Segunda Circular", e ela, numa língua de mediação, "what?...", e ele faz uma pausa, e repete, mais devagarinho, pausando cada sílaba, "a-qui, va-mos a-pan-har a Se-gun-da Cir-cu-lar", e tantas vezes até que ela, exausta, acaba por aceder, "oh, yes...." ficando ele convencido de que deu a volta à "càmòne" e ela certinha de realmente ter caído no Terceiro Mundo.
Sócrates não é mais do que isto: aquela cabeça, que nunca fez nenhum trajecto académico decente, contenta-se com repetir, silabicamente, os disparates emocionais de um substracto racional totalmente inexistente. Sócrates não tem, como já não tinha, e nunca terá, nada de objectivo, para nos dar, apenas empolamentos do tom de voz, frases repetidas até à exaustão, e uma crescente miopia, relativamente à Realidade.
Não sei se isto é só patético: não é, antes de mais, a não ser por ricochete, um problema nosso. Sócrates é, sim, um problema interno do Partido Socialista, que apenas se tornou escândalo público, por estar à frente de uma inesperada Maioria Absoluta. O problema Sócrates é, até por indemnização devida ao cidadão comum, um problema que o Partido Socialista vai ter rapidamente de resolver, sob pena de ser identificado com o seu fraquíssimo figurante de plástico, e arrastar toda uma faixa inteira do nosso espectro político para a ruína, e o desastre histórico.
E aqui fica resumido o meu recado para o Largo do Rato.
Quanto ao homem, Sócrates, enquanto homem, é visível que estamos perante uma figura debilitada, e com problemas do ego alterado, no sentido do empolamento paranóico: mesmo quando tudo nos diz estar mal, ele insiste em ver o bem até ao horizonte, como é típico da patologia, pelo que, a querermos resolver a questão, ou vamos directos ao Partido Socialista, ou vamos logo ao médico acompanhante da degenerescência cerebral do Senhor Engenheiro.
Em tudo isto, e pelo exposto atrás, a desgastada figura pública, por estranho que pareça, tornou-se-nos totalmente irrelevante, já que quaisquer contactos, propostas de diálogo ou solução, já não passam por ele: vive, sorridente e isolado, numa coisa virtual, muito íntima, muito dele, que, nos filmes da década de 50, tinha uma clássica imagem epigráfica e metafórica, que era a do alienado, sempre sorridente, mãos cruzadas em cima dos joelhos, sentado num canto, numa cela branca, de paredes totalmente acolchoadas, para que a sua integridade física não pudesse sofrer nenhuma acidente, derivado de algum gesto abrupto da sua pobre psique perturbada.