Dedicado ao Paulo Pedroso,
sem o qual teríamos soçobrado, sem apelo possível, em "The Braganza Mothers"...
O Estilo é ser-se reconhecido na primeira linha, e conseguir manter o leitor suspenso até ao final da nossa derradeira palavra.
Não existe nenhuma outra regra para o texto, e quem a tem tem, e quem a não tem nunca lá chegará, possa bem Kant sentar-se no seu sofá do Sublime. Tudo o resto é pano impresso e expresso, monotonia, tédio e auto-contemplação. A regra não é nova, e viria desde o fundo dos tempos, até culminar, cientificamente, no austero Maupertuis.
Para o Escritor, a construção do Estilo, embora pese a contradição dos termos, é uma dádiva. Uma dádiva esculpida, e eleita, como um Graal de substâncias e matizados diamantes de subtil lapidação.
Pessoalmente, prefiro as opalas, mesmo quando avanço pelos textos libertários, de intervenção, sarcasmo e trocadilho.
Aí, é já a opala azteca, fantástica e rubra, que ali tenho, dentro de um frasco de água, datando dos meus quinze anos, e que reina, desde quando, pela milésima vez compreendi que a vida importante, a Vida Interior, da Duras, de Bergman, de Sybergberg, de Fauré e de Duparc já estava cristalizada em certos objectos simbólicos, que delineariam toda a nossa emoção e estética futuras. Tudo o resto seria, inevitavelmente, ruído, obsolescência adiada e cadáveres que a mediania consigo ainda arrasta.
Estava agora a lembrar-me de Kate Berberian, e de um timbre que Berio tão bem entendeu, de um extremo ao outro do espectro da Musicalidade, a "Lamentação de Ariana", de Monteverdi, e as minhas adoradíssimas "Folk Songs", onde todos as flexões e matizes do Som se perdem nos harmónicos e nos Ecos daquela voz precocemente desaparecida.
Num outro extremo, a sensação inesquecível do M.O.M.A., ao penetrar na Galeria dos Ninfeus Gigantes, onde o derradeiro Monet fixou, para sempre, toda a abstracção futura. E há, também, aquele célebre verso de Quevedo, "Pó serás, mas pó enamorado", que enterraria todas as prateleiras de gerações e gerações de geradores de banalidades.
Hoje, ainda caminhamos pela noite, mas aquela espantosa Noite do verso de Hugo, "L'Hydre-Univers, tordant son corps écaillé [d'étoiles]", que Borges, em paráfrase, imortalizou, para sempre. Sentemo-nos, pois, e contemplemos os astros. Também neles Otavio Paz enuncia um deus capaz, que desde a Aurora do Tempo, fixa o que somos, ao infindavelmente soletrar o nosso nome, naquelas imensas constelações da Esfera Ultramarina, de Ptolomeu.
Neste blogue praticam-se a Liberdade e o Direito de Expressão próprios das Sociedades Avançadas



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