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domingo, 17 de agosto de 2008

REFLEXÕES PERDIDAS DE UM DESESPERADO

"Porque é que deixámos chegar as coisas a este ponto? Porque é que uma maioria da população não se indigna e protesta ao ponto de obrigar o governo de Santana Lopes a mudar de direcção? De onde vem a nossa anestesia, a nossa complacência, enquanto povo, perante actos que fazem perigar a democracia?
Suponhamos que as causas vêm de longe. Suponhamos que sofremos um trauma «inaugural» (constantemente reactivado através da história e, nomeadamente, através do salazarismo) que nos «fez assim». Esse trauma «inaugural», provocado e reactivado, ou que reactiva de tal maneira o medo que este se tomou um trauma, foi precisamente o trauma da não-inscrição. Já o afirmámos acima, mas convém precisar: não se trata de um trauma que não é inscrito, mas da não-inscrição que se torna trauma. Significa isto que não é tal ou tal acontecimento que não se inscreve, mas a própria existência, a não-inscrição traumática impõe a não-existência real, a não-inscrição da existência como tal.
O que foi o salazarismo? Um imenso sugadouro daquilo que torna a existência um dom da vida natural (zôê) para a vida social, a maneira de viver (bios). Um buraco negro que engoliu a existência no espaço público. Por isso o mal salazarista era difuso mas essencial e «metafísico», atingindo a existência do português enquanto indivíduo e enquanto povo. O mal era a impossibilidade da expressão das forças da vida, uma extraordinária chapa de chumbo que veio tapar os canais e redes de expressão da sociedade portuguesa".

(Gil, J. (2005). Portugal, Hoje - O medo de existir (2 ed.). Lisboa: Relógio D'Água, pp. 134-135)
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Primeira sugestão: um pequeno "upgrade" ao escrito do Gil para que em vez do Santaneco, coloque agora o Sócretino. Às vezes a puta da vida é mesmo irónica: e não é que pouco depois dos escritos do filósofo Gil as suas palavras iriam receber a verificação do seu conteúdo precisamente com toda a panóplia dos sócretinos? Era muito interessante que ele nos esclarecesse o que pensa agora do assunto.
Quanto ao resto... de acordo camarada. É por estas e por outras que eu, pouco simpático relativamente às monarquias, me pergunto se não teria sido melhor que o Rei não tivesse morrido e que as coisas tivessem decorrido de modo diferente. Mas isto são reflexões de um desesperado, alguém que acha que o Portugal actual e a grande maioria dos tugas do presente são uma autêntica merda.

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